Entrevistas
"Quero socialismo para dividir riqueza" - Dr. Rosinha, deputado
"Continuamos defendendo teses de esquerda" - André Vargas, deputado
A realização do 4.º Congresso Nacional do PT, no começo deste mês, mostrou que a legenda está cada vez mais longe do partido de esquerda que foi no início da sua história, nos anos 80. E cada vez mais perto de se tornar definitivamente um partido de centro, destinado a abolir posições radicais que impeçam a aproximação com outras siglas, para composição de governos majoritários.
No congresso, que reuniu as diversas alas partidárias para decidir as diretrizes que serão tomadas daqui por diante, a proposta mais polêmica parecia ser a de aprovar uma resolução sobre a atuação da mídia no país. No último momento, supostamente por influência do governo federal, a proposta foi "rebaixada". De "resolução", passou a ser uma simples "moção". Ou seja, apenas um indicativo, sem poder de regra interna.
Mesmo assim, militantes pressionaram para que o partido tomasse posições mais fortes. Alguns pontos levantados no congresso iam contra as próprias decisões do atual governo federal, como as críticas frontais à política econômica e aos juros impostos pelo Banco Central.
Estudiosos da sigla dizem que a atual situação de descompasso entre os militantes "históricos" e as posições que o partido assume no governo se deve à chegada ao poder, em 2003. Desde que Lula ganhou a eleição presidencial, a legenda deu uma guinada que, pelo menos num futuro próximo, não será desfeita.
"O que temos hoje é um partido diferente do que existia nos anos 1980 e 1990. O PT hoje governa o país desde 2003 e isso traz uma série de pressões programáticas e ideológicas sobre a agremiação e seus grupos", diz Oswaldo Amaral. Doutor em Ciências Políticas pela Unicamp com uma tese que analisou as mudanças internas do PT desde sua origem.
"O PT vem aprendendo, desde o governo Lula, que lidera um governo de coalizão e que isso significa a necessidade de abrir mão de alguns pontos de seu programa. Além disso, tem havido uma moderação entre quase todas as tendências no interior do partido, que estão bem mais próximas do ponto de vista ideológico do que no final dos anos 1990 ou início dos anos 2000", conta o professor.
Rodrigo Meyer, mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná, diz que um dos motivos da mudança do PT é a necessidade de poder negociar com outras legendas. "Para se governar no Brasil é necessário fazer coligações", diz ele. "No caso do PT, o partido é composto por uma pluralidade de grupos organizados em seu interior. Estes grupos possuem diferentes visões sobre como deve ser a ação do PT e exercem pressão sobre sua direção. Entretanto, os membros do partido que estão no governo êm uma força maior dentro da legenda", opina.
Para a professora Maria do Socorro Braga, da Universiade Federal de São Carlos (UFSCar), hoje é difícil entender quem decide qual é a base teórica do partido. "Hoje esta mais difícil identificar quem dita a teoria no partido. Talvez porque, à medida que o partido se profissionaliza as preocupações passam a ser outras e os teóricos passam a ser os operadores da representação nas diversas arenas politicas", diz.
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