Entrevista
Relator afirma que vê elementos para levar representação adiante
José Marcos Lopes
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) avalia que há elementos para acatar a representação contra André Vargas, o que levaria a um processo que pode resultar na cassação do mandato. O parlamentar começou a avaliar ontem a representação de PSDB, DEM e PPS contra Vargas e espera votar a admissibilidade da denúncia o mais rápido possível. Delgado foi relator do processo que levou à cassação do mandato de José Dirceu, em 2005, depois que o petista renunciou ao cargo de ministro da Casa Civil, durante o escândalo do mensalão.
Há elementos para acatar a representação contra o deputado André Vargas?
Pela representação, pelos fatos e pela justificativa que o deputado fez no plenário da Câmara, que é a instância máxima da nossa Casa, já há elementos para a admissibilidade. Nisso ainda não está ainda em jogo a representação, que vai depender de uma análise da defesa do deputado, das testemunhas que ele vai arrolar.
Pela sua experiência em assuntos como esse, é possível dizer que houve quebra de decoro ou atentado à ética?
Seria prematuro fazer qualquer ilação ou juízo de valor, ou falar sobre qualquer tipo de punição prevista no nosso Código de Ética que possa ser aplicada ao deputado André Vargas. Uma vez provada a admissibilidade, vou instruir todo o processo.
O senhor foi relator do caso de José Dirceu quando ele teve o mandato cassado. Como encara ser o relator de outro caso polêmico?
É carga pesada.
Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo contra André Vargas no Conselho de Ética da Câmara
Família teme julgamento político
A possibilidade de um "julgamento político" é o que mais preocupa a família de André Vargas em Londrina. Vendedor de pamonhas numa feira noturna da cidade, a Feira da Lua, um dos irmãos do deputado federal, José Ramatis Vargas Ilário, diz que o petista tem mostrado uma postura confiante, do ponto de vista jurídico, sobre as investigações que o envolvem. O maior receio é como a relação entre Vargas e o doleiro Alberto Youssef, preso em março na Operação Lava Jato da Polícia Federal, será interpretada pelos colegas parlamentares.
"Ele [André Vargas] está com a consciência tranquila, mas são 500 deputados votando de acordo com o que a mídia está falando e a mídia vai sangrar o André até o último dia", afirmou o comerciante. O pai do deputado, José Ilário, também estaria preocupado com a situação envolvendo o filho. "Ele está bem, mas tem 82 anos", disse Ramatis.
A família do parlamentar, segundo Ramatis, vem tentando lidar com a repercussão da viagem de Vargas para o Nordeste com jatinho arranjado por Youssef de forma natural. Eles entendem que houve erro do petista ao aceitar o favor. "Mas não transitou um cruzeiro em relação ao doleiro para André", diz.
Antoniele Luciano, correspondente
A Executiva Nacional do PT resolveu dar um voto de confiança para o deputado federal licenciado André Vargas (PT-PR). O partido vai enviar uma comissão de três membros para ouvir o ex-vice presidente da Câmara sobre as denúncias envolvendo seu nome, antes de criar uma Comissão de Ética para decidir seu futuro no partido.
Segundo o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, a comissão será integrada por um dos vice-presidentes do partido, Alberto Cantalice; pelo responsável pela "organização" da sigla, Florisvaldo Souza; e por Carlos Árabe, da formação política do PT. A decisão foi tomada ontem, em São Paulo, após reunião extraordinária da executiva para discutir a situação de André Vargas.
"Previamente à instalação da comissão de ética [no partido], a Executiva Nacional decidiu ouvir o companheiro André Vargas a respeito dos fatos noticiados", disse Falcão em entrevista coletiva após a reunião. O relato da comissão à Executiva Nacional subsidiará "encaminhamentos posteriores", segundo Falcão. No entanto, já é considerada certa a instalação da comissão em um segundo momento.
Vários petistas entenderam a declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma entrevista a blogueiros como um pedido de rigor na investigação interna. Para Lula, Vargas precisa explicar sua relação com o doleiro Alberto Youssef para que o PT "não pague o pato".
A reunião petista sobre o futuro de Vargas não contou com a presença de seus correligionários no Congresso. A senadora Gleisi Hoffmann e os deputados Dr. Rosinha, Assis do Couto e Angelo Vanhoni não participaram da reunião. "Não participei e não tenho falado com ele ultimamente. Mas acho que a decisão de pedir afastamento e se desligar da vice-presidência foi correta. Assim ele pode preparar melhor sua defesa." A reportagem não conseguiu contato com o deputado Zeca Dirceu.
Ontem, Vargas usou o Twitter para se defender. Ele contou que está em São Paulo para preparar a defesa que deverá ser apresentada ao Conselho de Ética da Câmara. Na quarta-feira, o colegiado abriu um processo disciplinar para apurar se o petista quebrou o decoro parlamentar. "Estou certo de que não cometi ato ilícito e vou provar isso, de cabeça erguida. Não traí a confiança que sempre mereci do povo do Paraná", escreveu.
Na rede social, Vargas criticou a cobertura do caso. "A imprensa está devassando minha vida, e vendo que não tenho nada a esconder. Meu patrimônio condiz com o salário de deputado", afirmou, para, em outro post, comentar sobre a atenção dado aos seus familiares: "Lamento que minha família e amigos estejam acossados por repórteres. O alvo sou eu, não eles."
Segurança máxima
A Polícia Federal pediu ontem a transferência dos doleiros Alberto Youssef e Carlos Habid Chatter para o presídio federal de Catanduvas, no Oeste paranaense, considerado de segurança máxima. Os dois foram presos na Operação Lava Jato sob acusação de comandarem um esquema de lavagem de dinheiro. A defesa de Youssef disse à imprensa considerar o pedido "absurdo".
Escuta estaria na cela
A defesa do doleiro Alberto Youssef afirma que ele encontrou um sistema de escuta dentro de sua cela, na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. A denúncia foi registrada ontem no site da revista Veja. Youssef teria encontrado o equipamento e mostrado a seus advogados no parlatório. O equipamento foi fotografado e o caso foi levado ao juiz responsável pelo caso, Sérgio Moro. Segundo o texto protocolado pelos advogados, os autos do processo não mostram nenhuma autorização judicial para a implantação de escutas, o que faria supor que se trata de um equipamento colocado clandestinamente no local.
Porta fechada
Um dia após André Vargas abrir mão da vice-presidência da Câmara, o escritório de representação regional do deputado federal, no centro de Londrina, já estava fechado. A exoneração dos 19 secretários parlamentares do petista que atuam no interior do estado e em Brasília foi publicada ontem no Diário Oficial. A medida é regimental e resultado do pedido de licença sem remuneração de Vargas. Uma vez afastado das funções, o deputado não tem mais direito a salário nem a verbas de gabinete. "A expectativa agora é que o deputado se defenda, retome o mandato e os secretários sejam recontratados", comentou um dos assessores de imprensa de Vargas, Ricardo Weg.
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