Na contramão
A comparação entre as eleições de 2004 e de 2008 mostra que o partido, embora tenha crescido em número de representantes, perdeu votos entre os eleitores paranaenses.
2004
Prefeitos: 29
Vereadores: 255
Votos para prefeito: 845.464
Votos para vereador: 566.183 (75.311 deles para a legenda)
2008
Prefeitos: 31*
Vereadores: 296
Votos para prefeito: 657.223
Votos para vereador: 490.992 (72.628 deles para a legenda)
* O partido afirma que são 32 prefeituras, já que em uma delas o candidato de outro partido foi substituído pelo vice, do PT. O TSE considera 31.
Fonte: TSE
O resultado aquém do esperado nas urnas paranaenses principalmente nos grandes centros, como Curitiba, Londrina, Ponta Grossa e Maringá causou um racha dentro do PT. De um lado está o diretório estadual, que não reconhece o desempenho como uma derrota. Do outro, lideranças que consideram que o partido sofreu, sim, uma derrota nas urnas, e que parte disso deve-se aos seus próprios erros, entre eles a crise de identidade pela qual a legenda passa no Paraná.
Entre os críticos mais ferrenhos está o deputado estadual Tadeu Veneri, que afirma que os números desse pleito são eloqüentes ao mostrar a indefinição em que se encontra o partido atualmente. "Temos de definir o nosso lado, essa política de água morna não dá mais certo. Temos de assumir nossos erros, o Paraná tem de ter um projeto que inclua o PT. E o partido não está discutindo isso agora", lamenta. Ele aponta ainda que, apesar de o partido ter aumentado o número de prefeituras e de representantes nas câmaras municipais espalhadas pelo Paraná, o número de votos caiu em relação ao pleito de 2004, o que os dados do Tribunal Superior Eleitoral confirmam (veja quadro ao lado).
O desconforto interno é tão grande que as críticas à postura petista ufanista a ponto de não assumir a própria culpa, segundo o próprio Tadeu Veneri vieram à tona após o vazamento de um e-mail enviado por um dos fundadores do PT estadual, Ivo Augusto Pugnaloni, a seus "companheiros". No e-mail, Pugnaloni (que se encontra afastado da direção do partido já há algum tempo) aponta alguns dos erros cometidos pela legenda, principalmente na capital, e afirma que alguns companheiros "pensam que só por tomarem aulas de fonoaudiologia para aprender o sotaque 'lêite-quênte' conhecem como pensa a maioria dos curitibanos." Apesar das críticas, o militante nega que tenha apontado nomes entre os culpados. "Eu não disse que um ou outro era responsável, mas que o partido deveria repensar sua posição. Acho que é fundamental, nessa hora, discutir em que ponto se errou, e não simplesmente varrer tudo para debaixo do tapete, como vem sendo feito", explicou.
A necessidade de analisar as falhas que determinaram a perda de terreno por parte do PT no estado a despeito de toda a popularidade do presidente Lula e do crescimento nacional que o partido experimenta no âmbito nacional não é afastada pela diretoria estadual, conforme assume a presidente interina, a deputada estadual Luciana Ranignin. Já quanto à mea-culpa que os mais críticos tanto esperam, isso parece estar longe de acontecer. "Não consideramos que o partido tenha sofrido uma derrota, apesar de não se possa dizer que houve vitória. A onda nacional, a boa fase em que se encontra o país, acomodou as pessoas e fez com que a militância não fosse tão ativa", fala, atribuindo um peso negativo a algo que no restante do país serviu se alavanca para o PT.
O deputado federal Dr. Rosinha também reconhece que o partido errou em algumas estratégias, mas não chega ao ponto de pedir a cabeça da diretoria, como seu correligionário Tadeu Veneri. "Perdemos terreno nos grandes centros, não se planejou uma oposição nos três anos e não podemos achar que em três meses poderíamos fazer. Mas acho que a renovação do diretório não deve ser atropelada, mas sim ser uma conseqüência natural de renovação", diz.
Londrina
Já André Vargas, derrotado em Londrina (cidade governada pelo PT atualmente) atribui à derrota ao uso, por parte do eleitorado, do que chamou de voto útil. "Ao ver que a definição caminhava para dois candidatos de perfil muito parecido, o eleitorado optou por um outro perfil, e como o (deputado federal e candidato do PSDB Luiz Carlos) Hauly tinha mais chance, meus votos migraram para ele", simplificou. Quanto a um posicionamento no segundo turno, contudo, a decisão não é tão simples de se entender, principalmente para Veneri: o prefeito Nedson Luiz Micheleti já declarou que seu voto vai para Hauly, agindo em "legítima-defesa da cidade".
No próximo sábado o diretório municipal deverá se reunir para decidir sobre a questão, conforme afirma o presidente Sidnei Santos da Silva.
Mas Vargas já adiantou que na reunião o partido deverá declarar que vota e não apóia, como faz questão de ressaltar em Hauly, inimigo histórico da legenda.
PMDB também vive conflito
Assim como o Partido dos Trabalhadores, o PMDB também teve de amargar um resultado desfavorável em Curitiba, previsto pelo menos por parte do partido, que rachou antes mesmo de começar a campanha eleitoral. Apesar atribuir a derrota acachapante sofrida por Carlos Moreira Júnior na capital paranaense, que teve pouco mais de 19 mil votos, a fatores externos, o presidente do diretório municipal, Doático dos Santos, assume que houve desarmonia dentro do partido. "Tivemos gente do próprio PMDB que apoiou o prefeito. Não vou citar nomes, a população saberá definir quem foram os infiéis", diz.
Entre os supostos "infiéis", estaria o deputado Mauro Moraes, que sempre engrossou o time dos que declaravam "eu já sabia", quanto ao pequeno número de votos de Moreira na capital. "Para mim não foi surpresa, sempre disse que ele não faria 20 mil votos. Mas isso é passado, agora temos de pensar em 2010, para não repetirmos o fiasco dessas eleições", afirma.
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