Na iminência da abertura da CPI do Caixa Dois e um dia depois de o deputado Moroni Torgan (PFL-CE) ter defendido o impeachment do presidente Lula (após o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, ter confirmado na superacareação que usou parte dos recursos recebidos de Marcos Valério para saldar despesas da campanha do então candidato do PT), o secretário nacional de Comunicação do PT, Humberto Costa, disse nesta sexta-feira que o partido vai partir para a ofensiva política.
- Vamos mostrar que somos melhores no governo do que eles, que temos resultados melhores; mostrar que nós herdamos dos tucanos um Brasil desgastado e sem prestígio internacional, vivendo uma enorme crise econômica - declarou o ex-ministro ao site do PT, onde aproveitou para avaliar o programa nacional gratuito do partido, que foi ao ar nesta quinta em rede de rádio e TV:
- Nossa preocupação foi, em primeiro lugar, mostrar que o partido não pode ser julgado pelos erros de uma parte de sua antiga direção e que o PT é muito mais do que isto.
Segundo Costa, o programa mostrou que a campanha desencadeada pela oposição contra o PT está preocupada apenas em desgastar o governo Lula, que estaria apresentando melhores resultados do que o de Fernando Henrique Cardoso.
- Eles não estão preocupados com a ética na política - afirmou o ex-ministro, que também falou sobre a situação do senador tucano Eduardo Azeredo, que renunciou à presidência do PSDB esta semana, diante das acusações de caixa dois em sua campanha ao governo de Minas, em 1998.
Para o secretário-geral do partido, deputado estadual Raul Pont, as denúncias que envolvem o PT com o esquema de financiamento de campanhas são práticas antigas, inclusive na oposição:
- O caso Azeredo é simplesmente a prova de que esse problema que envolveu o PT não é novo. Isso ocorreu com outros partidos. É mais uma demonstração de que, para se enfrentar isso seriamente, nós precisamos mudar o sistema eleitoral, a maneira com que se dá a eleição em nosso país. Enquanto tivermos voto nominal e financiamento privado de campanha, vamos continuar tendo esse tipo de problema.
O pedido de cassação do mandato do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) deve entrar na pauta da reunião desta sexta da Comissão Executiva Nacional do PT. Se depender da opinião do 3º vice-presidente, Jilmar Tatto, o PT deve tomar a iniciativa de pedir a abertura do processo no Senado.
- Não tem o menor sentido o PT não fazer isso, se o próprio Azeredo renunciou à presidência nacional do PSDB por envolvimento com o esquema de Marcos Valério - disse Tatto, também no site do partido, acrescentando que o PT não teme a proposta de CPI do Caixa Dois, feita pelo PSDB, em resposta às denúncias contra os tucanos.
O novo presidente do PT, Ricardo Berzoini, também fala em ataques mais fortes aos adversários:
- A proposta de ofensiva é uma discussão muito forte dentro do PT e nós precisamos definir a posição do partido - disse Berzoini.
A intensificação da ofensiva pôde ser vista no programa de rádio e TV veiculado na noite desta quinta-feira. O PT fez comparações entre os governos Lula e FH, exibindo números que supostamente demonstram a superioridade do atual governo. O ex-presidente do PT Tarso Genro fez os ataques mais duros ao PSDB. Disse que o governo FH quebrou a economia brasileira e abafou as tentativas de investigação sobre compras de voto para aprovação da emenda que permitiu ao ex-presidente concorrer à reeleição em 1998:
- Não vamos nos iludir com muitos daqueles que nos atacam. Se o seu propósito fosse combater a corrupção, já teriam feito isso nos seus próprios governos. São os mesmo que não deixaram investigar as privatizações selvagens e a escandalosa compra de votos para emenda da reeleição no governo Fernando Henrique Cardoso. São os mesmos que privatizaram o Brasil e quebraram completamente a nossa economia. Querem voltar ao poder, e para isso apostam no quanto pior melhor. Estão inconformados, porque com o governo do PT o Brasil pode dar certo, e já começa a dar certo, à medida que retomamos o crescimento da economia, conquistamos uma balança comercial extremamente favorável e estamos criando mais de 100 mil empregos por mês.
A direção petista recusou três vezes a proposta das correntes de esquerda de investigar os acusados na comissão de ética do partido. Uma comissão de sindicância foi criada em julho, já recolheu informações, mas até hoje não apresentou resultados.
A ofensiva, aprovada pela executiva e pelo diretório nacional do PT, não foi contestada pelo Planalto. A avaliação é que a oposição esgotou a munição e entrou no foco das denúncias.
- Não existe dúvida de que o PSDB é nosso maior adversário nacional e nos estados. Eles estão com o olhar em 2006 - disse o secretário nacional de Mobilização, Francisco Campos.
Berzoini disse que decidiu quinta-feira com Lula o início de uma série de conversas com os ministros para fazer um balanço e, principalmente, de um programa para 2006. Até o fim do mês, o partido deve mapear a situação nos estados para decidir alianças e candidaturas. Berzoini acusou o governo Fernando Henrique de ter sido um "bajulador dos Estados Unidos" e disse que a oposição teme comparar governos tucanos com o petista.
- Estamos cobrando a responsabilidade de quem errou, mas não perdemos de vista que o que está em jogo é a disputa político-eleitoral. Querem passar a idéia de que o PT é corrupto. E não há uma prova sequer de corrupção sistêmica em nosso governo. Eles governaram o Brasil por oito anos. Quebraram as contas públicas e agora querem voltar ao poder. Não querem discutir as realizações do governo Lula. Só a crise - disse Berzoini, em discurso para cerca de 600 líderes sindicais.
O futuro presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE), chegou a ligar para o senador Tião Viana (PT-AC).
- Soube que o programa do PT de hoje à noite vai ser todo contra o PSDB. Se é guerra, então vamos começar agora - disse Tasso, segundo informou Jorge Bastos Moreno em seu blog no Globo Online.
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