“Não se trata mais de fazer embate dentro de um partido em que eu estava há cerca de 30 anos, mas o embate em favor do desenvolvimento sustentável.”Marina Silva, senadora (AC), durante o anúncio de sua desfiliação do PT ontem no Senado| Foto: Antônio Cruz/ABr

Em um único dia, o PT perdeu duas cadeiras no Senado e viu as divergências internas – acentuadas desde o apoio dado pelo presidente Lula a José Sarney (PMDB-AP) –, aumentarem ainda mais. Como já vinha sendo especulado desde a semana passada, a senadora Marina Silva (agora sem partido-AC) anunciou a saída do PT e se disse livre para ingressar em outra legenda. Já o senador paranaense Flávio Arns (PT) declarou que pedirá à Justiça Eleitoral sua desfiliação, porque ficou envergonhado com o arquivamento, apoiado pelo PT, das denúncias contra Sar­­­ney no Conselho de Ética.

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Com as duas saídas anunciadas ontem, a bancada petista cai de 12 para 10 senadores, mas continua como a quarta força na Casa – atrás de PMDB, DEM e PSDB. A desfiliação de Marina Silva, no entanto, pode representar um prejuízo maior ao partido, já que é grande a chance de a ex-petista filiar-se ao PV para disputar a Presidência da República nas eleições de 2010. On­­­tem, porém, ela não confirmou se aceitará o convite do PV. "Não seria ético, não seria justo conversar com outros partidos antes de me desfiliar do PT", declarou. "Ago­­­­ra vou estar em conversação com o PV, obviamente respeitando o calendário eleitoral." Para concorrer às próximas eleições, as filiações partidárias devem ocorrer até o início de outubro.

Em entrevista coletiva, Marina disse que a decisão foi sofrida e a comparou com o fato de ter deixado a casa dos pais há 35 anos rumo a uma cidade grande. "Não se trata mais de fazer embate dentro de um partido em que eu estava há cerca de 30 anos, mas o embate em favor do desenvolvimento sustentável", afirmou. Segundo a ex-pe­­­tista, o PV já assegurou que esse será o tema prioritário do partido, se ela ingressar na legenda.

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Na carta em que comunicou sua desfiliação ao presidente do PT, Ricardo Berzoini, Marina alegou que tomou "uma decisão que exigiu coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência". Em resposta à ex-petista, Berzoini disse que não pedirá a ela que entregue o mandato de senadora ao PT. "Tendo em vista a ma­­­neira como ela dialogou com o partido, as alegações dela sobre as angústias pessoais em relação à política, seria inadequado fazer esse pedido judicial", declarou.

Após a entrevista, Marina chorou ao ouvir um poema declamado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), no qual ele afirmou ter respeito pela decisão da senadora.

Repercussão

O secretário-geral do PV do Pa­­­raná, Francisco Martin, afirmou que a possível vinda de Marina para o partido reforçará a candidatura própria da legenda na disputa pelo governo do estado no ano que vem. Com a filiação da ex-petista, ele prevê que o partido ganhe força para eleger até quatro deputados estaduais e seis federais. "O partido se mobilizou por essa vinda, que reforça e facilita nosso trabalho aqui no estado", argumentou.

Do lado petista, a presidente do partido no Paraná, Gleisi Hoffman, lamentou a saída de Marina, a quem classificou como grande liderança e referência nacional dentro do PT. Para Gleisi, a desfiliação da senadora deve prejudicar a candidatura da ministra Dilma Rousseff à presidência. "Talvez tenhamos cometido um erro há tempos atrás e não conseguimos superá-lo. A Marina pode, sim, tirar votos da Dilma", disse.

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