Um racha na bancada do PT levou ao adiamento da decisão dos petistas sobre a votação da Medida Provisória 665 e pode contaminar a posição dos demais partidos da base aliada. Após duas horas de reunião, os petistas não conseguiram fechar uma posição a favor ou contrária à matéria e remarcaram para as 16 horas o encontro para tentar resolver o impasse.
Um deputado petista que participou de todo o encontro disse que há parlamentares na bancada favoráveis e contrários à MP que muda em regras do seguro-desemprego. Houve quem, admitiu, defendeu a revogação de toda a medida provisória.
Os deputados do PT saíram da reunião com o discurso público de que era preciso ter uma maior participação dos petistas para tomar a decisão. Ao todo, 35 dos 64 deputados da bancada estiveram na primeira etapa da reunião. Outra justificativa pública para adiar a decisão era que o líder do PT, deputado Sibá Machado (AC), tinha que participar da reunião do colégio de líderes partidários, o que não lhe permitia continuar a participar do debate.
O governo escalou os ministros das Comunicações, Ricardo Berzoini, e da Previdência Social, Carlos Gabas, para tentar convencer os deputados petistas, na primeira etapa da reunião da bancada, a aprovar a MP 665. Em conversas reservadas, Berzoini foi um dos que mais se queixaram da falta de empenho do próprio partido - que já presidiu - em apoiar a medida.
Para tentar contrabalançar a pressão feita pelo governo e pela base aliada, o PT convidou também para participar do encontro o responsável pelo braço sindical do partido, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas. Ele fez uma defesa enfática da rejeição das medidas provisórias 665 e 664, que, na sua opinião, restringem direitos trabalhistas e previdenciários.
O temor do Palácio do Planalto é que, sem uma posição definida do PT, os demais partidos da base aliada sigam o exemplo petistas e não queiram aprovar as medidas do pacote fiscal. O governo já recebeu sinais de que outros partidos da base não querem apoiar as propostas.
O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), cobrou na tarde desta terça o apoio “convicto” da bancada. “O PMDB tem convicção de que é necessário um ajuste fiscal para o País, mas consideramos que é fundamental que o PT tenha a mesma convicção. Se eles (petistas) não tiverem, certamente, abalará a nossa convicção”, disse.
A provocação do líder peemedebista pode ser entendida como um recado à bancada do PT. A unidade da sigla na votação foi a condição imposta pelo PMDB e outros partidos da base para que a medida conte com seus votos. Não foi por acaso que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi irônico ao chegar para a reunião com líderes ao dizer queria ver “se o PT vai para a base”.
A ironia coloca o ajuste fiscal em risco. Isso porque a votação será obstruída pelo DEM, PSDB, PPS e SD, que juntos somam 106 deputados. Caso o PT não feche apoio à MP 665 e o PMDB opte por votar contra a medida provisória alegando traição petista ao ajuste, o bloco de oposição pode atingir 168 parlamentares.
Como a MP passa em plenário por maioria simples do número de deputados que confirmarem presença no painel da Câmara, caso outros partidos votem contra a medida o governo pode ser derrotado. A MP divide o PSB, que atua com neutralidade em relação ao Palácio do Planalto, e pode contar também com a oposição do PDT e do PCdoB, que integram a base governista. Esses partidos somam 64 parlamentares, o que elevaria para 232 o número de deputados contrários à MP 665.
Este número é quase a metade do total de deputados (513), proporção que pode ser atingida a depender do comportamento do PMDB, que pode ser seguido por outros partidos da base.
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