Com ou sem o apoio da base governista e com ou sem a cópia do cheque que o empresário Sebastião Buani diz ter pagado ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), os líderes da oposição devem finalizar nesta terça-feira o texto da representação que será enviada na quarta-feira ao Conselho de Ética pedindo a cassação do mandato do deputado. A oposição chegou a festejar o apoio do PMDB e do PT, mas os dois partidos recuaram.

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Líder do PT na Câmara, Henrique Fontana, que na segunda de manhã havia anunciado apoio à representação da oposição contra Severino, mudou de opinião depois de se reunir no Palácio do Planalto com o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, e o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Fontana saiu dizendo que o PT só assinará a representação se houver prova contra Severino. Em seguida, ele fez reunião com a bancada, na qual ficou estabelecido que o PT não apoiará, neste momento, a representação contra Severino no Conselho de Ética.

- Uma representação agora seria inócua. Seria jogar para a torcida e não resolveria o impasse - disse o líder do PT, acrescentando:

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- É preciso dar amplo direito de defesa ao Severino. Também não pode haver quebra dos preceitos constitucionais, nem incentivo a um ambiente de tribunal de exceção.

Fontana não descartou a possibilidade de o PT vir a apoiar a cassação no futuro, se aparecerem provas concretas contra Severino. De manhã, no entanto, ele parecia decidido a assinar a representação contra o presidente da Câmara.

- O PT assina sem qualquer problema. A questão fundamental para nós é ter uma investigação rápida, principalmente sobre a veracidade ou não do documento apresentado pelo empresário. Estão dando um peso enorme a essa representação , mas não acho que ela vá resolver o problema. Não é possível que a Polícia Federal não possa dizer se é falso ou não - dissera Fontana antes de ir ao Planalto.

Jaques Wagner disse que a preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que o assunto seja resolvido o mais rapidamente possível pela Câmara. Mas, ao dizer qual deveria ser o comportamento do PT, o ministro foi irônico ao comentar o interesse dos partidos de oposição no apoio dos petistas nesse momento.

- Cada presidente (de partido) vai tomar sua decisão. Não é minha tarefa recomendar. Prefiro comentar. Mas acho estranho que os partidos que não convidaram o PT para fazer uma frente em torno da eleição de Severino agora estejam tão ciosos de convidar o PT num processo de eventual investigação. Se já tem um, dois, três partidos, já está mais do que suficiente - disse Wagner.

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Antes de embarcar para a Guatemala, o próprio Lula discutiu a situação com Chinaglia, na Granja do Torto, e com o vice-presidente José Alencar. Na saída da Granja do Torto, Chinaglia disse que o governo não ia interferir.

- Seria um erro nosso brutal a gente puxar o presidente Lula para uma polêmica dessas. O presidente não tem qualquer intenção, presente ou futura, de ter interferência nesse processo. Até porque isso é papel do Congresso - disse Chinaglia.

Segundo integrantes do Planalto, houve o entendimento de que era preciso reforçar a declaração de que o PT só assinará uma representação se houver uma prova contundente dos delitos de Severino e que as declarações de Henrique Fontana já antecipando a assinatura "foram mal-interpretadas".

O maior cuidado é para não envolver o Planalto e o presidente no caso. Jaques Wagner, mesmo tendo se reunido com Severino, negou que o governo esteja dando apoio incondicional ao deputado.

- O apoio ou não apoio (a Severino) é fruto da investigação. O importante é garantir que haja investigação, e aí não há dois lados. Não vamos entrar no mérito, é uma questão da Câmara - disse Jaques Wagner.

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O presidente do PMDB, Michel Temer (SP), se dispôs a assinar, mas disse preferir que antes sejam divulgados o cheque e a comprovação de que ele foi usado para o pagamento de contas do presidente da Câmara.

Segundo o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), o apoio de partidos da base seria importante, porque demonstraria o isolamento de Severino e afastaria a acusação de que a tentativa de tirá-lo é golpista. Ele tentava articular para esta terça-feira uma reunião do colégio de líderes para debater a representação. Maia exigiu que o corregedor Ciro Nogueira (PP-PI) contrate uma auditoria independente para atestar a autenticidade da assinatura de Severino no documento exibido por Buani, já que o laudo apresentado pelo presidente no domingo não é oficial.

- Ter uma representação com apoio tão amplo significa que o Severino, isolado, precisa se afastar para se defender - disse Maia.

Os líderes da oposição se reúnem nesta terça-feira às 11h, mas já decidiram recuar da proposta de boicotar a sessão de cassação do mandato do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), prevista para quarta, sob a presidência de Severino. A idéia é dar quórum para a realização da sessão e realizar ato político de protesto contra a presença de Severino na Mesa.

O líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), disse na segunda que existem várias propostas, entre elas, minutos de silêncio, os parlamentares de costas para a Mesa, ou mesmo ignorar a condução da sessão, mantendo-se em silêncio ou só pedindo a palavra para defender que Severino se afaste da presidência da Casa para se defender das denúncias de recebimento de propina.

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- Usaremos nossa criatividade para achar uma fórmula de protestar. Vamos cassar quem tiver que ser cassado e tornar a vida do Severino insuportável na presidência - avisou Fernando Gabeira (PV-RJ).

- Boicotar a sessão seria uma bobagem. Não vamos fazer o jogo tático de quem não quer a punição - completou o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA).

Os líderes da oposição querem municiar a representação com o máximo de documentos para o trabalho do Conselho de Ética. Mas não consideram o cheque essencial.

- Sobram motivos para sustentar a representação, e o contrato em si não diz muita coisa. Temos que levar em conta o conjunto da obra. Severino já apresentou três versões para a assinatura do documento dado a Buani e em nenhum momento desafiou que provem que não assinou o contrato que outro deputado confessou ter ajudado a redigir - disse o deputado ACM Neto (PFL-BA).

- Adoro brincar de mosaico. Já apareceu o queixo do Severino, falta o rosto. O documento é só mais uma peça - completou Aleluia.

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O líder do PP, José Janene (PR), participou de uma festinha na segunda em seu gabinete para comemorar o aniversário. Disse que o partido dá total apoio a Severino e que, se a oposição não apresentar uma prova cabal, não pode pedir que ele se afaste da presidência.

- O PP dá total apoio ao presidente Severino Cavalcanti. Agora, se surgir um documento, aí é outra história....