A confirmação do impeachment de Dilma Rousseff pouco impactará na eleição para prefeitos, que ocorre daqui um mês, em 2 de outubro. As pesquisas de opinião das últimas semanas já mostram um cenário “precificado”, em que o PT perde terreno nas capitais onde foi vencedor em 2012. A tendência é que o cenário se repita no resto do país, principalmente porque o número de candidatos é menor: houve queda de 35% no número de candidatos da legenda.
Página virada: Senado cassa Dilma e põe fim a 13 anos de petismo
Leia a matéria completaApesar da crise, o partido tem condições de manter sua relevância para as eleições seguintes, dizem especialistas.
“Decretar o fim de uma agremiação com tantas pessoas, ou dizer que pode ser fechado, é uma conclusão muito apressada e pouco realista”, avalia o filósofo Roberto Romano, professor na Unicamp. “O partido cometeu muitos erros conjuntos, mas também têm virtudes em conjunto, e há uma solidariedade interna muito grande”.
Depois de Dilma, grande alvo contra o PT é o ex-presidente Lula
Leia a matéria completa“No curto prazo, tanto a Lava Jato quanto o impeachment de Dilma impactam negativamente, mas o partido tem uma grande capilaridade e estrutura muito forte, e certamente será capaz de se reorganizar”, concorda o cientista político Fernando Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
A reorganização do partido, porém, é vista como trabalhosa. Em primeiro lugar, os nomes mais proeminentes do PT foram alvo ou estão sendo investigados pelo esquema do mensalão e pela Operação Lava Jato. “Os grandes nomes foram dizimados nos últimos anos. Sobrou o Lula, que está sob ataque e pode ser atingido em breve”, diz Azevedo.
Para Romano, esse foi o principal erro do PT: louvar a liderança única do ex-presidente. “O culto ao Lula retirou a capacidade de formar novas lideranças. Só há alguns nomes de alcance regional. Se qualquer coisa acontece com ele agora, haverá uma fragmentação muito forte do partido”, avalia. O professor da Unicamp diz ainda que o partido precisa retomar o diálogo com a base, desmotivada não só pelos casos de corrupção, mas pelas alianças com partidos conservadores que permitiram a permanência do PT no poder por tantos anos.
Crise partidária
O sociólogo Rudá Ricci, diretor-geral do Instituto Cultiva, ressalva que todos os grandes partidos estão em crise, mas que a Lava Jato e o impeachment de Dilma estão ofuscando isso. Ele exemplifica com dados sobre as disputas eleitorais. De acordo com as pesquisas Ibope divulgadas nas últimas semanas, referentes a 23 capitais, o PT aparece na frente em três delas (duas delas em empate técnico), mesmo número que o PSDB (com mais folga que os concorrentes) e o PMDB (com também um caso de empate). Em seguida, na preferência do eleitorado de duas cidades, aparecem PDT, PSol e PRB.
Ricci confirma que o PT depende muito de Lula. Mas que ele continua como nome forte para disputar a presidência porque reúne algumas características encontradas também em Marina Silva (Rede), outra forte candidata. “O Brasil é um país muito desigual. Dois terços da população são pobres, e por isso são os pobres que definem a eleição. E há pesquisas que mostram que o pobre só vota em quem pode ajudá-lo, porque infelizmente depende muito do Estado, ou vota em quem tem cara de pobre”, explica.
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