BRASÍLIA — Embora ainda seja cedo para comemorar, o PT se vê hoje num momento melhor do que aquele em que estava no fim do ano passado, após ter sido retirado da Presidência da República e esmagado pelas urnas nas eleições municipais. Os motivos são dois: o fato de a Lava-Jato ter se esparramado por quase todos os partidos, retirando da sigla o carimbo do monopólio da corrupção, e as bandeiras de reformas impopulares levantadas pelo atual governo.
A partir desse cenário, o PT tenta agora sair das cordas, e o ex-presidente Lula aproveita para se apropriar do vácuo de apoio popular que o presidente Michel Temer enfrenta. É por esse espaço que pretende pavimentar o caminho para uma nova candidatura à Presidência em 2018.
Na “inauguração popular” da transposição do Rio São Francisco feita por Lula na mesma cidade do interior paraibano em que Temer fez evento oficial, o petista conseguiu reunir milhares de pessoas e marcou a largada de um extenso roteiro que pretende cumprir. Este mês, o ex-presidente fará um ato pela soberania nacional em Ouro Preto (MG), e outros três estão sendo programados para abril.
”A maior onda contra o Lula já passou, mas a onda contra os outros está só começando. Lula está com muito prestígio com o povo. O governo dele deixou saudade. Este governo que está aí encampa todas as maldades que a elite brasileira queria fazer. O povo olha e fala: não dá”, diz o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP).
Lula ainda não se lançou abertamente candidato à Presidência, mas tem se movimentado e falado como pré-candidato. A interlocutores, tem dito que só não será candidato se for condenado em um dos cinco processos dos quais é réu. Sua candidatura, no entanto, é consenso no partido e deve ser afirmada internamente em junho, durante o congresso do PT.
“Estamos tentando tornar essa condenação inviável. Pela linha jurídica, com os advogados, e tornando-o o mais popular possível, para que o custo de condená-lo seja muito alto”, conta um amigo do ex-presidente Lula.
Além da corrida de obstáculos contra as condenações de seu maior expoente, o PT ainda terá de resolver disputas dentro da própria legenda, que se prepara para renovar sua estrutura de comando. As eleições internas no partido começam este mês e serão concluídas no congresso nacional do partido, marcado para junho.
Assumindo os erros
Hoje a maior parte do PT reconhece que a legenda cometeu erros e que é preciso assumi-los para fazer uma reconstrução. Mas a gradação desse mea-culpa varia de acordo com a ala da sigla.
O discurso da Construindo um Novo Brasil (CNB), grupo de Lula, é que o partido errou ao reproduzir as mesmas práticas de poder dos partidos que o antecederam na Presidência da República. A sigla lamenta ter desenvolvido relação íntima com empresas, mas prefere não entrar nos supostos crimes cometidos. O partido não admite explicitamente, por exemplo, ter desenvolvido um esquema de corrupção na Petrobras, que levou à cadeia vários dirigentes da legenda. O discurso centra-se apenas na confissão do caixa dois de campanha, que também já recai sobre seus principais adversários.
O discurso interno é que seu erro de “reproduzir” práticas dos outros partidos se agravou quando se eximiu de promover uma reforma política capaz de reverter o atual modelo de financiamento e alianças, o que desembocou na intricada trama de caixa dois e relações suspeitas entre empresas e partidos. O cerne da reforma política que se debate hoje na Câmara — lista fechada e financiamento público de campanha — são bandeiras antigas do PT.
“O PT errou. Isso é inegável. Erramos ao reproduzir as mesmas práticas da política nacional, ao abrirmos mão de fazermos o diferente, de sermos o símbolo de uma nova cultura política. Mas também erramos pela ingenuidade de sermos cordiais com a estrutura de poder real do país, por acharmos que estávamos provocando mudanças “por dentro” do Estado brasileiro”, diz Edinho Silva, prefeito de Araraquara e ex-ministro de Dilma Rousseff.
Afora as discussões institucionais, o partido também prepara um documento com sua visão econômica para apresentar. Haverá forte condenação às reformas da Previdência e trabalhista e uma aclamação para que os petistas reivindiquem seu legado social. Dilma não terá papel protagonista nesse movimento de “reconstrução” do PT, mas deve participar de alguns atos ao lado de Lula. Ela não decidiu se será candidata em 2018. Petistas próximos a ela a veem se movimentando para concorrer à Câmara dos Deputados.
“Vai dar muito trabalho reconstruir o partido. Mas o PT não está mais parado, está a mil por hora. Hoje está muito melhor do que no ano passado; 2016, para nós, foi uma tragédia. Em termos de futuro e esperança, está muito melhor”, acredita Gilberto Carvalho, ex-ministro de Lula e Dilma.
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