O comando da campanha de Marta Suplicy (PT) vai tirar do ar o comercial de TV que trata da vida privada do prefeito Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição. Diante dos protestos de eleitores que viram preconceito na propaganda de Marta, perguntando se Kassab é casado e tem filhos, a equipe petista avaliou ontem que é melhor recuar para evitar mais desgaste.

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A propaganda dividiu o partido, provocou protestos de eleitores e mais um problema para a campanha petista, que já vive situação difícil. Em conversas reservadas, dirigentes do PT definiram a nova estratégia como "um tiro no pé". Na avaliação da equipe de Marta, é melhor recuar, para evitar mais desgaste.

Na opinião do cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise, questionar a vida pessoal do oponente, perguntando se é casado e se tem filhos, foi um erro que deverá marcar a carreira política de Marta e não terá nenhum efeito eleitoral. Para ele, pode acontecer até o contrário: ela perder votos em setores da classe média, como os que apoiaram Soninha, do PPS.

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O primeiro sinal de que o comercial causou fissuras no PT partiu do Comitê Pró-Marta Prefeita formado por gays, lésbicas, bissexuais e travestis. Em nota distribuída ontem pela manhã, o comitê classificou a propaganda de preconceituosa e moralista. Também pediu "com veemência" que o comercial não seja mais exibido.

Para Julian Rodrigues, que faz parte do comitê e também da coordenação setorial LGBT do PT nacional, Marta não pode apelar para um discurso "obscurantista e conservador" na disputa "O que ocorreu é incompreensível", afirmou.

Almeida, autor de dois lançamentos bem-sucedidos, os livros "A Cabeça do Brasileiro" e "A Cabeça do Eleitor", comparou a tentativa de explorar a vida pessoal de Kassab com outro episódio, ocorrido em 1989, quando o então candidato à Presidência Fernando Collor revelou que seu rival Luiz Inácio Lula da Silva tinha uma filha fora do casamento - Lurian, fruto de sua ligação com Miriam Cordeiro. "Ali o efeito eleitoral, se existiu, foi pequeno e talvez tenha se devido mais à maneira como a TV Globo editou a notícia."

Na opinião de Almeida, "em pleitos municipais o eleitor, habitualmente, não quer saber de vida privada. Apenas quer alguém que seja um bom administrador, que resolva os problemas da cidade".

Mesmo tendo decidido retirar a propaganda do ar, o PT considerou a reação descabida. O coordenador-geral da campanha de Marta, deputado Carlos Zarattini (SP), distribuiu no fim da tarde uma nota na qual atribui tudo a "insinuações" feitas por "alguns veículos".

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Para Zarattini, a equipe de marketing, ao perguntar sobre o estado civil de Kassab, "em meio a uma série de outros questionamentos, apenas defendeu o legítimo direito de o eleitor conhecer, em todos os aspectos possíveis, a história de quem se apresenta para governar a maior cidade do País".

Ele também disse, em sua nota, que as insinuações "absurdas e cínicas" sobre invasão de privacidade do outro candidato são inaceitáveis. "Basta lembrarmos da história de Marta, protagonista das principais lutas em defesa dos direitos da mulher e das liberdades individuais", destacou.

Dosagem

As reações negativas estão levando o PT a reavaliar o tom da campanha daqui para a frente. Em reunião realizada ontem, integrantes dos partidos que apóiam a coligação de Marta reafirmaram que é preciso demarcar trajetórias e biografias. O difícil será definir a dose de agressividade.

A idéia é nacionalizar a disputa, pegar carona na popularidade do presidente Lula e exibir as "forças políticas" que apóiam os dois candidatos. "O tom vai ser duro e a linha de confronto vai continuar", garantiu o vereador eleito Jamil Murad (PC do B), que participou da reunião.

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A estratégia, porém, prevê a substituição dos ataques pessoais pela ênfase no duelo político. "Vamos mostrar que do lado de Marta estão as forças políticas que puseram o Brasil na rota do desenvolvimento e, de outro, as que atolaram o País", disse Murad.

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