Oposição
PPS tem sido a legenda mais combativa ao PT
Um partido do contra. Durante os últimos 25 anos, a atuação do Partido Popular Socialista (PPS) na Câmara dos Deputados foi marcada pela oposição ao Palácio do Planalto na maior parte do tempo, sobretudo ao longo dos últimos governos petistas. Dados históricos mostram que a legenda tem apenas 40,1% de taxa de votação alinhada ao Executivo a menor entre os partidos considerados representativos no Congresso.
Desde 1989, o PPS antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB) só foi aliado de corpo inteiro na gestão de dois anos do ex-presidente Itamar Franco, quando o fundador da legenda, Roberto Freire, era o líder do governo na Câmara. A partir daí, o partido alternou raros momentos governistas com Fernando Henrique Cardoso e Lula e, no final de 2004, migrou em definitivo para a oposição. Não seria exagero afirmar, por exemplo, que o PPS tem sido a legenda mais combativa ao PT desde então.
Ideologia
Para Antônio Octávio Cintra, o PPS é uma das poucas legendas que ainda guarda certa postura ideológica. Ele avalia que, por ser herdeiro do PCB, o partido, que não costuma receber grandes votações nas urnas, só tem sentido se existir ideologicamente. "O PPS é um partido comunista modernizado, atualizado, que não tem viabilidade eleitoral e acabou ficando muito marginal. Por isso, ele só tem sentido ideologicamente", argumenta. "Eles achavam que teriam grandes perspectivas com a abertura política, mas, de repente, viram suas bandeiras serem raptadas pelo PT e acabaram esvaziados. Daí, a mágoa que o partido mostra ter do PT."
Assumir essa postura mais ideológica é um mérito do PPS, na visão de Malco Camargos. "O partido decidiu assumir o ônus de ser oposição e, na democracia, é importantíssimo que haja um grupo oposicionista forte."
O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido do Movimento Democrático do Brasil (PMDB) e o Partido Progressista (PP) têm na essência uma característica em comum: o governismo. Numa adaptação própria a um famoso jargão, os três partidos rezam pela cartilha do: "se há governo, sou a favor". Entre 1989 e 2013, as três legendas mantiveram taxa de fidelidade ao Executivo na casa dos 80% nas votações na Câmara Federal. O levantamento é do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
INFOGRÁFICO: Veja a média de fidelidade dos partidos
Especialmente em relação aos peemedebistas, o índice mostra que, no longo prazo, é primordial ao Palácio do Planalto apostar numa aliança com a legenda, que tem consciência do seu tamanho e importância. Atualmente, porém, o PMDB tem sido o principal partido a dar dor de cabeça a presidente Dilma Rousseff na reforma ministerial, ameaçando, inclusive, deixar o comando de duas pastas, na tentativa de pressioná-la.
Ranking
Desde o fim da redemocratização, é de 64,5% a média de votação favorável ao Palácio do Planalto entre todos os partidos extintos e atuais. No topo do ranking e levando-se em conta legendas com bancadas relevantes , estão PTB, PMDB e PP. Em comum, os três se caracterizam por terem ficado por raros momentos do lado oposicionista desde 1989.
O paranaense Ricardo Barros (PP), por exemplo, chegou a ser líder na Câmara dos governos Lula e Fernando Henrique Cardoso. Já o PMDB fez oposição apenas ao governo de Fernando Collor (1990-1992) além de um curto período durante parte do primeiro ano de mandato de Lula, em 2003. Outros partidos que estão no topo do ranking de fidelidade ao Executivo são o Partido Republicano Brasileiro (PRB), o Partido Social Cristão (PSC) e o Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB).
Análise
Doutor em Ciência Política e professor da PUC de Minas Gerais, Malco Camargos afirma que é muito difícil ser oposição diante da centralidade que tem o Executivo na distribuição de recursos. "Os partidos medem o custo que há em ser oposição e chegam a um cálculo racional de que é conveniente estar sempre ao lado da situação, independentemente de quem esteja no governo e de quais sejam as bandeiras defendidas", explica.
Ele diz ainda que, no processo de barganha por espaço político, essas legendas acabam se tornando coadjuvantes, mas sabem que são fundamentais para garantir maioria nas votações. "O problema do Collor, por exemplo, foi justamente ter perdido o apoio do PMDB e, assim, perdido também a maioria no Congresso", avalia.
Outra explicação desse governismo incondicional de determinados partidos, na visão do cientista político Antônio Octávio Cintra, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais, é a falta de quadros próprios com projeção nacional para disputar a Presidência da República. Segundo Cintra, eles traçam uma "estratégia racional e pragmática" em que abrem mão de enfrentar as legendas protagonistas nas urnas, mas tiram proveito disso por serem essenciais para garantir a chamada governabilidade.
"Eles apoiam o governo e, assim, conquistam espaços que garantem a eles boa representação parlamentar. Dessa forma, conseguem se realimentar, satisfazer seus caciques e continuam tendo poder."