As manifestações que tiveram início em 15 de março evidenciam o clima político no país: tenso, pesado, dividido. Apesar de não ser um consenso na sociedade, os protestos fizeram brilhar o sinal amarelo para a presidente Dilma Rousseff (PT), que “pisa em ovos” principalmente com a oposição ganhando força no Congresso.
De lá para cá dois ministros caíram, panelaços aconteceram quando a presidente apareceu na TV, e o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB), bem como o do Senado, Renan Calheiros (PMDB), ascenderam a um patamar de poder inédito nos últimos tempos. Sem contar as discussões acirradas nas redes sociais sobre a política.
“Temer não tem um projeto de poder totalitário”
Aos 19 anos, Kim Kataguiri diz que seria melhor ter Michel Temer como presidente, apesar de acreditar que não resolveria o problema da corrupção.
Leia a matéria completaA apreensão do governo se volta agora para o novo protesto marcado para 12 de abril. No Facebook, a página oficial do evento registra 86 mil presenças em todo o país. Nos atos do dia 15, foram pelo menos 1 milhão de manifestantes nas ruas.
Em contrapartida, o governo convoca atos em defesa da Petrobras e do próprio Executivo. Em 13 de março, mobilizações aconteceram em todos os estados – mas com menos participantes do que os atos do dia 15. Agora, estão programadas novas manifestações no dia 7 de abril e 1.º de maio.
Ato contra o governo
O PMDB já sinalizou que a manifestação do dia 12 será um “divisor de águas”. Segundo a Folha de S.Paulo, parlamentares do partido se reuniram com o vice-presidente Michel Temer (o primeiro na linha de sucessão em caso de impeachment) na semana passada e indicaram que, se o protesto do dia 12 for maior que o do dia 15, o apoio à Dilma no Congresso irá minguar ainda mais. “O PMDB está ganhando mais poder pela instabilidade, para o partido a melhor coisa é governo Dilma fraco”, diz o cientista social da UFPR Emerson Cervi.
É nesse ambiente de fragilidade que o Legislativo impôs derrotas à Dilma e obteve vitórias em benefício próprio. E o principal nome por trás dessa alavancada é Cunha – apesar de ser investigado na Operação Lava Jato.
Com medo de acirrar os ânimos ainda mais, Dilma tem passado longe de medidas ousadas, que podem não ser bem-vistas pelos aliados. Em pronunciamentos, evita falar sobre temas complicados, como a Lava Jato, e tenta convocar a união no país. Prova disso foi a nomeação de três ministros na semana passada, cada um representando um afago diferente à base.
Descontentamento
Diante de um primeiro trimestre com anúncio de ajuste fiscal e medidas impopulares para fechar as contas, o descontentamento extravasou de um jeito que há tempo não se tinha notícia. A mobilização em São Paulo, por exemplo, foi a maior em 30 anos – desde as Diretas Já.
“A economia está falando mais alto. A população está sentindo na carne e no bolso”, diz o cientista político Wilson Ferreira da Cunha, da PUC de Goiás.
É justamente a piora do momento econômico que faz com que a população se indigne com mais facilidade com casos de corrupção do que em épocas de bonança, completa Cervi. Ele lembra que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso viveu uma situação parecida em 1999, quando houve, ao mesmo tempo, enfraquecimento da economia e um pedido de impeachment.
Mobilização tem poder tanto prático quanto simbólico
Especialista consultado pela reportagem afirma que um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) é algo praticamente impossível nas circunstâncias atuais. Por outro lado, a mobilização do povo nas ruas tem alto poder – tanto prático como simbólico.
O cientista político Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná, cita um exemplo bem concreto. Logo depois das manifestações de junho de 2013, o governo lançou a Lei Anticorrupção, que pune empresas envolvidas em ilegalidades. Mas o projeto ficou à espera de regulamentação por quase dois anos. E isso só ocorreu poucos dias depois do protesto de 15 de março, em uma segunda resposta às ruas.
O fato de as manifestações serem majoritariamente de classe média, sem tanta adesão popular – o jornal The New York Times definiu os protestos como “uma larga fatia da raiva da classe média” – não interfere no valor e no peso da pressão popular, segundo Cervi. “A caracterização é permitida em função das demandas”, afirma. (AA)
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