
A comemoração do aniversário da cidade de São Paulo ganhou um motivo especial em 1984: a campanha Diretas Já. A festa, realizada há exatos 25 anos na Praça da Sé, teve como fundo musical o hino nacional e as palavras de ordem de quase 200 mil pessoas. O pedido era pelo fim do regime militar e pela redemocratização do país. Vivendo há 20 anos num regime ditatorial, o povo brasileiro saiu às ruas pelo direito de escolher o próximo presidente do país por meio do voto direto. Desde 1964, com o golpe militar, os presidentes vinham sendo escolhidos indiretamente, sem a participação da população.
No palanque do comício de São Paulo, políticos de partidos de oposição e artistas se revezavam nos discursos em defesa da eleição direta para presidente da República. Um dos oradores foi o então governador do Paraná, o peemedebista José Richa, pai do atual prefeito de Curitiba, Beto Richa. "De um lado estão trabalhadores, estudantes, intelectuais, agricultores, comerciantes, artistas e donas de casa pedindo as eleições diretas. Do outro, defendendo as (eleições) indiretas, está um punhado de políticos que tenta justificar a legitimidade de um colégio eleitoral ilegítimo, porque construído por casuísmo", disse o governador paranaense.
Também discursaram o governador de São Paulo, Franco Montoro; o deputado federal Ulysses Guimarães; e o então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva. "A eleição direta não é apenas para tirar o Figueiredo (general João Baptista Figueiredo, o presidente na época). É para colocar lá uma pessoa que não venda o Brasil", declarou Lula.
O movimento pelas eleições diretas havia começado um ano antes dos comícios, em 1983, quando o deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT) apresentou a Proposta de Emenda Constitucional nº 5, que permitiria a realização de eleições diretas para presidente.
A decisão de tentar uma alternativa legal para acabar com a ditadura representava uma mudança na estratégia das forças contrárias ao regime militar. "Naquele momento havia uma polêmica sobre qual deveria ser o papel da oposição. Alguns queriam a luta armada; outros eram a favor do voto em branco", conta o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que na época era líder peemedebista na Câmara dos Deputados. " Fizemos alguns encontros e decidimos que a bandeira do PMDB seria a busca da democracia de forma pacífica. Aproveitamos a emenda do Dante de Oliveira e começamos o movimento pela redemocratização do Brasil."
O PT e outros partidos de oposição (PDT, PCdoB e PCB) também apostaram na emenda Dante de Oliveira e na mobilização popular como meios para conquistar a redemocratização do país. "Entendíamos que só a participação do povo é que forçaria o governo militar a ceder para termos as eleições diretas e a Constituinte", afirma o advogado Edésio Passos, um dos fundadores do PT no Paraná.
A oposição, porém, teve de enfrentar o descrédito para tentar emplacar a emenda. "Muitos riam de nós e diziam que nunca iríamos conseguir a democracia de maneira pacífica. Mas o povo aderiu ao movimento, que cresceu e resultou em comícios extraordinários", lembra Pedro Simon. Foram realizados cerca de 20 grandes comícios pelas eleições diretas no país. O maior deles ocorreu no dia 16 de abril, no Vale Anhangabaú, em São Paulo. Os organizadores do evento dizem que um milhão e meio de pessoas estiveram no comício.
"Havia uma relação de respeito do povo com os políticos de oposição e isso facilitou o chamamento da população aos comícios", comenta o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que na época era presidente do PMDB no Paraná e organizou o primeiro grande comício pelas Diretas Já, realizado em Curitiba (leia mais sobre esse comício na página 22).
Para Alvaro Dias, mais que a relação amigável da população com a oposição, a ideia das diretas foi o que colaborou para a adesão do povo aos comícios. "Dentro da tese das diretas, havia a mensagem da esperança, que é algo que sempre move multidões", diz o senador tucano. Segundo levantamento realizado pelo Instituo Gallup em dezembro de 1983, 90% da população era favorável à realização da eleição direta para presidente. Em 1980, pesquisa do mesmo instituto indicava que apenas 6,3% dos brasileiros diziam apoiar as diretas.
A adesão da população à eleição direta veio acompanhado de um afrouxamento do regime militar. "Não tínhamos mais temor de nos manifestar favoráveis à democracia porque aquele período nos soou como de mais liberdade", conta a historiadora Marion Brepohl, professora da UFPR. Na época, ela fazia parte do diretório do PMDB de Curitiba.
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