Henrique Alves: votação de proposta do orçamento impositivo foi promessa de campanha do presidente da Câmara| Foto: João Batista/Ag. Câmara

Contrário

"A proposta só gera mais ineficiência no uso do dinheiro público"

Adotar o modelo de orçamento impositivo é incompatível com o sistema orçamentário brasileiro. A opinião é do professor de Direito Financeiro da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Rodrigo Kanayama. "A proposta só gera mais ineficiência no uso do dinheiro público", afirma.

Segundo ele, o modelo atual permite ao governo mais poder de manobra em casos de queda na arrecadação – como ocorreu com as desonerações promovidas pelas gestões Lula e Dilma para combater a crise econômica internacional. "O conhecimento técnico do Executivo na aplicação dos recursos é importante. O que os parlamentares têm é uma visão política, de atendimento às demandas de suas bases."

Kanayama vê poucas chances de a imposição alterar a barganha política entre os deputados e os prefeitos beneficiados pelas emendas. "Qual é a forma mais fácil de agradar o eleitorado? É dizer que trouxe recursos. Isso não vai mudar."

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Favorável

"Medida reduz o risco de corrupção", defende economista

Consultor legislativo da Câmara dos Deputados, o economista Roberto Piscitelli é autor de uma nota técnica publicada no começo de maio na qual são listados benefícios da utilização do orçamento impositivo. Segundo ele, a mudança traria mais "disciplina" à política de investimentos do governo. "Também reduz o risco de corrupção", cita.

O principal efeito seria acabar com a possibilidade de o governo barganhar a liberação de emendas em troca de apoio em votações importantes. "Quando um parlamentar apresenta uma emenda ao orçamento, ele se compromete com determinada parcela da população. Quando o governo contingencia esse recurso por conta própria, quem tem que dar explicações a esse povo é o parlamentar."

O economista também destaca que alguns parlamentares estão mais próximos da realidade de regiões periféricas do país do que o governo central. "Uma coisa que pode parecer insignificante para um tecnocrata de Brasília, como a construção de uma ponte, pode ser fundamental para quem mora no interior. É aí que entra a sensibilidade do parlamentar."

Em clima de revanche contra o rolo compressor governista na aprovação da medida provisória dos Portos e os cortes anunciados nesta semana pela equipe econômica, a Câmara dos Deputados se prepara para votar até julho uma proposta para mudar as regras de execução orçamentária do país. A ideia é tornar pelo menos parte do orçamento impositivo, ou seja, obrigar o Poder Executivo a cumprir mais sugestões avalizadas pelo Legislativo na Lei Orçamentária Anual. No eixo da discussão está o pagamento das emendas parlamentares.

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INFOGRÁFICO: Como funcionam o modelo orçamentário brasileiro e a execução das emendas parlamentares

O texto principal em debate é a proposta de emenda à Constituição (PEC 565/2006), do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), morto em 2007. A proposição já passou pelo Senado e, em abril, foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. A PEC tramita em conjunto com outros 16 projetos – todos estão em fase final de apreciação em uma comissão especial criada pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

A proposta de Magalhães torna obrigatória a execução de todas as atuais despesas discricionárias do governo – valores que o Executivo tem autonomia para escolher quanto e onde investir ao longo do ano de execução orçamentária. Esses gastos correspondem a menos de 10% do orçamento global, enquanto a maior parte já é engessada pelas despesas obrigatórias, como os porcentuais mínimos definidos pela Constituição para saúde e educação e os repasses dos fundos de participação dos estados e municípios. A tendência, no entanto, é que no relatório final a "imposição" fique restrita às emendas parlamentares individuais.

Segunda maior sigla da Câmara, com 82 cadeiras, o PMDB lidera o movimento favorável ao orçamento impositivo. "O partido já decidiu que não vai mais seguir o modelo atual, em que sugerimos nossas emendas prioritárias à Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, até que a proposta seja votada", diz o deputado paranaense João Arruda (PMDB), um dos membros da comissão especial que estuda a mudança. Arruda disse que ainda não há um consenso sobre o novo formato a ser adotado – a sugestão mais provável é tornar obrigatória a execução de pelo menos metade das emendas.

Relações

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Para outro representante paranaense na comissão, Sandro Alex (MD), a proposta pode mudar o nível das relações do Congresso com o Executivo.

"No fundo, o que todos deveriam perceber é que não dá para ficar do jeito que está", diz Alex. Anteontem, a equipe econômica do governo anunciou um corte de gastos de R$ 28 bilhões no orçamento deste ano, dos quais R$ 15,6 bilhões (55,7%) atingem emendas individuais e coletivas. "No caso de não conseguirmos aprovar o orçamento impositivo, o melhor caminho seria acabarmos de uma vez com as emendas", conclui Alex.