Rodrigo Oriente: denúncias motivadas por dívida de R$ 47 mil| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Gravação

Construtora é acusada de bancar caixa 2

Uma conversa do ex-servidor municipal Rodrigo Oriente com o procurador-geral do município de Curitiba, Ivan Bonilha, e um dos diretores da Urbs, Fernando Ghignone, levanta suspeitas sobre a prática de caixa 2 na campanha à reeleição do prefeito Beto Richa (PSDB) em 2008.

O encontro, que aconteceu no dia 10 de junho no escritório particular de Ghignone, foi gravado tanto por Oriente quanto pela equipe da prefeitura e durou mais de três horas. Em 23 de junho, dois dias depois que a Gazeta do Povo publicou reportagem sobre as denúncias do suposto caixa 2 no Comitê Lealdade, Bonilha e Ghignone divulgaram uma edição de 11 minutos da conversa. Na ocasião, Bonilha e Ghignone insinuaram que Oriente teria feito as denúncias a serviço de adversários políticos do prefeito.

No dia 11 de julho, reportagem da Folha de S.Paulo, com base na íntegra da conversa, revelou que Oriente havia acusado a construtora Piemonte de ter sido a financiadora do suposto esquema de caixa 2 realizado por meio do Comitê Lealdade de dissidentes do PRTB.

Segundo a reportagem, Oriente diz na gravação que "a Piemonte negociou com Richa que a arrecadação de IPTU de 6.220 terrenos em um loteamento não fosse para os cofres públicos, mas sim para a campanha tucana".

A prefeitura, em nota, negou a prática de caixa 2. A Piemonte, também por nota, informa que "rechaça com veemência reportagem veiculada no jornal Folha de S.Paulo, no sentido de que teria contribuído para o suposto caixa 2 da campanha do Sr. Carlos Alberto Richa (Beto Richa)". A empresa informa que realizou doação legal para a campanha tucana, devidamente registrada na Justiça Eleitoral. Foram R$ 201 mil. (KK)

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O Quem é construtor Rodrigo Oriente, de 35 anos, responsável pelas denúncias de um suposto caixa 2 na campanha de reeleição do prefeito Beto Richa (PSDB) em 2008 e de irregularidades cometidas pela construtora Piemonte em loteamentos em Curitiba, é economista e técnico em transações imobiliárias. Curitibano de nascimento, foi contratado no ano de 2002 pela Piemonte, a quem agora ele acusa de ter praticado ilegalidades.

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Oriente começou na empreiteira como analista de crédito, no setor de comercialização de imóveis, cargo que ocupou até 2003, quando passou para a função de gerente comercial. A ele cabia analisar a viabilidade econômica de diversos loteamentos adquiridos pela Piemonte. Por causa desse trabalho, foi homenageado na Câmara Municipal de Curitiba e em 2007 foi considerado a personalidade empreendedora do ano pela Assembleia Legislativa do Paraná. Foi ainda homenageado pela Unesco e pela Associação Comercial do Paraná por desenvolver projetos de responsabilidade social. Desde 2004, Oriente era, por procuração, representante legal da Piemonte.

Em janeiro de 2008, ele deixou o emprego na construtora. Na carta de recomendação, o diretor Taraco Germano Nora diz que Oriente "figurou como funcionário dedicado, prestativo, responsável e íntegro". Três meses depois, em abril, Oriente foi nomeado pelo prefeito Beto Richa para um cargo comissionado (de indicação política) na Secretaria de Governo Municipal. O período em que ficou na prefeitura se estendeu até o fim do ano de 2008, mas o próprio Oriente diz que nunca trabalhou na secretaria. No ano passado, durante a disputa eleitoral, Oriente trabalhou no Comitê Lealdade, montado por dissidentes do PRTB que decidiram apoiar a candidatura de Richa e não a de Fabio Camargo (PTB), a quem o partido estava formalmente coligado.

No dia 23 de junho, ele foi até a Procuradoria Regional Eleitoral do Paraná e denunciou um suposto caixa 2 na campanha de Richa. O caso segue sendo investigado na procuradoria. As denúncias de cunho eleitoral e ambiental só vieram à tona por causa de uma dívida de R$ 47 mil que ele alega não ter sido paga por Alexandre Gardolinski, ex-coordenador do Comitê Lealdade. Depois de algumas tentativas frustradas de reaver o prejuízo, Oriente prestou três depoimentos nos quais relatou as denúncias. 1. O que Oriente fazia na campanha de Beto Richa para a prefeitura em 2008?

Por ser amigo de Alexandre Gardolinski, Rodrigo Oriente forneceu os computadores utilizados no Comitê Lealdade. Os equipamentos teriam sido usados por Gardolinski para fazer a gravação do pagamento em dinheiro a 23 candidatos do PRTB que desistiram da eleição para vereador de Curitiba. A dívida de R$ 47 mil teria sido contraída durante a campanha, quando Oriente, a pedido de Gardolinski, comprou e pagou, com o próprio dinheiro, carne e cerveja para os eventos do comitê.

2. Como Oriente sabe tanto sobre as atividades do Comitê Lealdade?

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Oriente afirma que participou de algumas reuniões do comitê e que tinha contato direto com os dissidentes do PRTB e com Alexandre Gardolinski, que coordenava o comitê pró-Richa. 3. A arrecadação de contribuições e a gestão financeira do comitê tinham participação de Oriente?

Rodrigo Oriente diz que não teve nenhuma participação. Ele explica que o dinheiro vinha do comitê central da campanha do prefeito Beto Richa e que a parte financeira era de responsabilidade de Gardolinski. O único envolvimento que ele diz ter com a gestão financeira são as compras que teve de fazer com recursos próprios de produtos para os eventos e pagamento de shows e funcionários do comitê.

4. Oriente tinha relação direta com Beto Richa durante a campanha?

Não. Oriente sustenta que via o prefeito e os principais coordenadores da campanha do tucano apenas em eventos políticos.

5. Como Oriente virou funcionário fantasma da prefeitura?

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Ele afirmou, em depoimento, que sua contratação na prefeitura ocorreu como parte de um esquema que envolveu a saída de Alexandre Gardolinski dos quadros da administração municipal. Gardolinski pediu demissão da prefeitura para se candidatar a vereador – candidatura da qual, meses depois, ele iria desistir porque a direção estadual do PRTB, seu partido na ocasião, havia decidido apoiar o então candidato a prefeito Fabio Camargo (PTB). Oriente disse ainda que repassava integralmente o salário que recebia da prefeitura – de quase R$ 3 mil mensais – a Gardolinski. O objetivo, segundo ele, era fazer com que Gardolinski, mesmo afastado da prefeitura, continuas­se a ter rendimentos

6. Por que Oriente fez as de­­nún­­cias?

Ele sustenta que o fato de ter pago contas do Comitê Lealdade e não ter nenhum recibo eleitoral faz dele a comprovação da prática ilegal de caixa 2 da campanha de reeleição do prefeito Beto Richa – já que, segundo ele, o dinheiro que custeou o comitê de dissidentes do PRTB vinha da campanha do PSDB.