Retratos da presidente: Dilma com o irmão, Igor; a turma do Colégio Sion; Passeata dos Cem Mil, no Rio; e invasão de tropas na Faculdade de Letras de Minas Gerais; em uma festa com o amigo Calino Pacheco; com Leonel Brizola, no governo do Rio Grande do Sul; ministra da Casa Civil; e na vitória pela Presidência| Foto: Arquivo Pesssoal

A mulher que há quatro décadas queria derrubar o governo militar será, a partir de 1.º de janeiro, a comandante em chefe das Forças Armadas do Brasil. Dilma Vana Rousseff, 63 anos, ao assumir a Presidência também se torna a líder do Exér­­cito, da Marinha e da Aero­­náutica. Tal destino não era so­­nhado pela petista até pouco tempo atrás, nem quando na infância fantasiava o futuro. Pela educação que teve, ela poderia ser uma ótima dona de casa, assim como colegas do antigo colégio. Mas acontecimentos da História brasileira e as escolhas que fez nesses anos todos a levaram a outro caminho.

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Caminho esse que os leitores da Gazeta do Povo passam a conhecer um pouco melhor com a publicação desta série. De hoje até sexta-feira – véspera da posse de Dilma –, o jornal apresenta a trajetória da primeira mu­­lher eleita presidente do Brasil. Desde os primeiros passos em Belo Horizonte até o triunfo que a levou ao Palácio do Planalto.

Para a produção da série, a reportagem visitou alguns dos locais onde Dilma morou, estudou, militou e atuou como administradora pública, tanto em Belo Horizonte como em Porto Alegre e Brasília. O objetivo foi resgatar histórias e reconstruir alguns períodos cruciais que moldaram a personalidade da presidente eleita.

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Também foram feitas entrevistas com amigos, ex-colegas de luta armada, vizinhos e auxiliares. A maquiadora Rose Paz – uma das responsáveis pelo "upgrade" recente do visual de Dilma –, também conversou com a reportagem, quebrando um silêncio que durava desde quando a petista era ministra da Casa Civil.

Entretanto, a maioria das pessoas que são próximas a Dilma resolveu não falar. Passada a eleição e garantida a vitória, parentes e amigos preferiram manter a discrição. Os colegas de longa data, por outro lado, gostam de falar e têm orgulho do passado que os liga a Dilma.

Princípios

Todas as pessoas com as quais a reportagem conversou disseram que votaram na petista e/ou fizeram campanha aberta para ela. Mas há divergências, principalmente com a provável continuidade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. "Ela tem uma visão política visando aos fins, os resultados. Na cabeça dela, e aí eu discordo um pouco, é preciso criar mais empregos, mais obras do PAC, e isso sem se importar se os rios estão sendo canalizados, por exemplo. O negócio é obra, obra, transposição do São Fran­­cisco", afirma Apolo He­­ringer Lisboa, hoje médico e ambientalista e no passado líder do Polop (Orga­­­nização Política Operária), o primeiro grupo de resistência à ditadura militar do qual Dilma fez parte, em Belo Horizonte.

"O Brasil ainda não é justo. A justiça não é consumir, viajar de avião. É ter padrão de vida feliz. A perfumaria do consumo é importante para muita gente, mas o essencial é que a gente não tenha tanta violência, tanto trabalhador escravo no campo, tanta cracolândia por aí", observa o livreiro Marco Antonio Meyer, também uma liderança do Polop. "Espero que a Dilma, que foi companheira, coloque em prática aqueles nossos ideais. Alguns precisam ser revistos, claro. Mas o básico é transformar o Brasil em uma sociedade justa. Essa é a semente da geração de 68, e a Dilma tem tudo para plantá-la."

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Transformação

A bandeira de Dilma continua a ser a redução da pobreza e da desigualdade de renda no Brasil, que era palavra de ordem nos movimentos contra a ditadura. Mas em outros aspectos ela mudou muito – inclusive no visual.

Quem acompanhou a transformação recente foi a maquiadora Rose Paz. O convívio permite revelações pessoais: a futura presidente é muito vaidosa, especialmente com a pele. Rose passou a trabalhar mais constantemente para a então ministra da Casa Civil a partir de 2007, ano em que Lula a teria escolhido para sucedê-lo. Ao longo dos três anos de convivência, o período mais difícil ocorreu em 2009, quando Dilma teve de tratar um câncer linfático. "A maquiagem mudou por causa dos efeitos do tratamento", explica.

"Fico revoltada quando vejo nos jornais que a Dilma não gosta de se cuidar. Ela trata a pele desde os 25 anos. Mesmo hoje em dia poucas mulheres são assim", diz a maquiadora. Segundo ela, a petista faz exercício diariamente, nunca dispensa filtro solar, evita ficar maquiada por muito tempo e sempre usa cremes no rosto para dormir.

Além disso, está sempre preocupada com o que veste. "Eu não diria que a Dilma é durona. Acho que, na verdade, ela é uma pessoa muito centrada, organizada, que sabe exatamente o que quer."

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Fontes

Para ajudar a recompor o período recente da História do Brasil, a reportagem consultou trechos da série Ilusões Armadas, do jornalista Elio Gaspari, e documentos do Arquivo Nacional e do Centro de Pesquisa e Docu­­­mentação de História Con­­­temporânea do Brasil (CPDOC). A Gazeta também usou como inspiração para os títulos desta e das próximas reportagens músicas do compositor Chico Buarque, um dos artistas que contestou a ditadura e foi exilado. Ele é um grande apoiador de Dilma, e trabalhou ativamente para ela na campanha eleitoral deste ano.