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Um rapaz de 23 anos diz ter sido agredido com um tapa no rosto pelo governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), durante ato de campanha do peemedebista na periferia de Campo Grande na noite desta quarta-feira (21).

O boletim de ocorrência registrado sobre o episódio, contudo, apresenta outra versão para o incidente. No boletim, o policial militar Antônio Barbosa da Silva, que integra a guarda do governador, afirma que foi Rodrigo de Campos Roque quem agrediu Puccinelli, após ter sido abordado pelo governador, que tenta a reeleição. O policial diz ainda que o rapaz apresentava "teor etílico".

Localizado pelo G1 na tarde desta quinta-feira (22) em uma ONG de direitos humanos, Roque deu sua versão da história. Disse que só reagiu após ter sido agredido pelo governador, e que a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul se negou a registrar sua versão dos fatos.

"Tinha acabado de chegar [a uma lanchonete]. Não tinha bebido. Ele [Puccinelli] chegou distribuindo panfletos. Tocou no assunto de que os jornais diziam que ele estava na frente [das pesquisas]. Falei: 'Os jornais não falam só bem do senhor'. Ele perguntou: 'O que os jornais falam também?' Respondi: 'Que o senhor rouba'. Ele apertou meu ombro e falou: 'Você está me chamando de ladrão?' Falei: 'Não estou chamando, só disse o que os jornais falam'", afirmou Roque.

O rapaz diz ter sido agredido com um tapa após esse momento. "Aí instintivamente bati minha perna na dele e me levaram algemado", diz Roque. O rapaz diz ter sido mantido preso e sem alimentação em uma cela individual no Cepol de Campo Grande, e que só saiu após assinar boletim por injúria real (ofensa provocada mediante violência) contra Puccinelli.

Roque diz que não sofreu qualquer tipo de maus-tratos na delegacia, mas que não conseguiu registrar queixa contra o governador. "Falaram que lá eu não ia registrar, que era para procurar uma delegacia em Goiás", afirmou o rapaz, que diz não ter filiação partidária.

Versão do governador

A reportagem também teve acesso ao teor do boletim de ocorrência em que o segurança de Puccinelli dá outra versão para o episódio.

O policial afirma que Roque foi interpelado pelo governador e disse que não votaria nele. Questionado sobre os motivos, disse que Puccinelli era "ladrão", segundo o relato no boletim. "Você esta falando que eu sou um ladrão?", teria então questionado Puccinelli. De acordo com o B.O, o rapaz respondeu que a acusação era de jornais, e Puccineli pediu respeito.

"Fato esse que o autor tentou dar um tapa na face do governador, onde o governador defendeu-se do tapa do autor segurando-o pelo braço, sendo que o autor [Roque] desferiu um chute que resvalou na perna do governador e pegou na altura do púbis da vitima [policial]", afirma o B.O.

ONG de direitos humanos

Roque procurou nesta quinta-feira (22) a ONG Centro de Defesa da Cidadania e dos Direitos Humanos Marçal de Souza Tupã-i. Membros da ONG ouviram sua versão e o levariam para registrar queixa contra o governador e realizar exame de corpo de delito.

"Vou fazer esse B.O porque vou responder por injúria e ele [governador] vai ficar como vítima? Eu também fui agredido", disse Roque.

O presidente da ONG, Paulo Ângelo de Souza, disse que o caso é "preocupante". "O depoimento do Rodrigo é cheio de detalhes, há testemunhas. E não é a primeira vez em que o governador se envolve em confusões. O Rodrigo está muito abalado e quer apenas ser ouvido", disse ao G1.

Polícia Civil

A reportagem também falou com o delegado Jefferson Luppe, responsável pela assessoria de imprensa da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, por volta das 16h30. O delegado disse que no boletim de ocorrência não consta a versão de Rodrigo porque ele não foi ouvido. Segundo Luppe, o delegado que atendeu o caso entendeu que Rodrigo só deverá ser ouvido se houver uma representação contra ele e, ainda assim, somente após a coleta de provas.

O rapaz também não passou por exame de corpo de delito. "Perguntadas as vítimas, ninguém disse que tinha lesão", justificou. O delegado disse que não poderia fornecer uma cópia do boletim de ocorrência porque, segundo ele, o caso está em segredo de Justiça.

Após essa entrevista, o G1 ouviu Rodrigo e voltou a ligar para o delegado para questioná-lo sobre a versão do rapaz. Luppe disse então que não poderia mais falar sobre o caso e que as informações – inclusive a respeito da conduta da Polícia Civil – seriam fornecidas pela Secretaria de Governo. Procurada, a Secretaria de Governo disse que o assunto é relativo à campanha eleitoral e que não se manifestará.

A assessoria da campanha de Puccinelli disse que o governador diz ter sido agredido verbalmente e que lamenta o episódio. Em entrevista à imprensa local nesta quinta, ele questionou as versões publicadas sobre o episódio. "Quem conta um conto aumenta um ponto", afirmou, segundo relato de sua assessoria.

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