O investigador da Polícia Civil Délcio Augusto Rasera, preso por ser acusado de executar escutas telefônicas ilegais, prestou depoimento ontem para o juiz Gaspar Luiz Mattos de Araújo Filho, no Fórum de Campo Largo. Outros seis envolvidos no caso, que estão detidos, também prestaram depoimento.

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A esposa de Rasera, Luzia, e os dois filhos, Luciano e Marcos Vinícius, que foram indiciados, estiveram presentes ao local. A família está em liberdade e vai depor na próxima segunda-feira, às 15 horas.

Augusto Rasera negou que fazia "grampos" telefônicos, tanto para o governo do estado quanto para terceiros. Disse que fazia varreduras em linhas telefônicas para saber se estavam "grampeadas", mas apenas para seus clientes particulares.

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Já o técnico em telefonia Isaque Pereira da Silva, que em depoimento à Promotoria de Investigações Criminais (PIC) afirmou que instalava grampos a pedido de Rasera, confirmou ontem as informações em juízo, de acordo com o advogado do policial, Luiz Fernando Comegno, que também está indiciado no processo.

Segundo Comegno, seu cliente revelou ao juiz que trabalhava na Casa Civil como uma espécie de investigador especial para o governo, já que tem mais de 25 anos como policial. "Para o governo, devido a sua experiência como investigador, o Rasera fazia investigações mais aprofundadas, como análise de documentação de fraudes. Recentemente desvendou uma fraude em uma desapropriação de terras para obras da Sanepar, o que deu um lucro de R$ 20 milhões ao governo do estado", disse Comegno.

O advogado do investigador contou também que Rasera afirmou que Isaque e Juraci Pereira de Macedo, técnicos em telefonia, trabalhavam para seu cliente nas varreduras telefônicas. "Era para verificar antecedentes de, por exemplo, babás e funcionários de empresas que estavam para ser contratados". Juraci, em depoimento à PIC, declarou que instalou "grampos" , a pedido de Rasera em um endereço do irmão do governador, Eduardo Requião, e isso teria sido feito a pedido de Roberto Requião, em 2000. Ontem, em juízo, Juraci confirmou que havia dito à PIC.

A relação do policial com o governador Roberto Requião (PMDB), de acordo com Comegno, era estritamente profissional e não pessoal. Ele não soube precisar há quanto tempo os dois se conheciam. Sobre as controvérsias nos depoimentos de Rasera e do técnico em telefonia, Comegno afirmou que é o juiz quem vai avaliar qual está dizendo a verdade. "Espero a absolvição dos meus clientes, pois não há provas contra eles. As fitas que o Ministério Público tem são provas juridicamente sem valor, é uma prova produzida. Foi o órgão acusador que periciou o material e quem produz a prova não pode periciar. Tem de haver uma perícia oficial", disse Comegno. Ele reclamou que os advogados de defesa não tiveram ainda acesso às gravações.

O advogado de Rasera foi ainda mais contundente ao explicitar o motivo pelo qual considera que esse caso veio à tona. "Foi uma farsa jurídica que montaram. Até agora, só se viu um julgamento antecipado e uma imputação de culpa. O Ministério Público produziu a farsa, um absurdo jurídico". Segundo Comegno, pelo que ele "ouve falar", há uma briga política entre o atual diretor da PIC, Paulo Kessler, e diretores de órgãos do governo estadual. "E, com isso, meu cliente saiu difamado. Não há vinculação política do Rasera. Simplesmente ele é um funcionário público que prestava serviços para a Casa Civil".

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Além de Rasera, Comegno, Juraci e Isaque, também depuseram ontem Gonzalo Arturo Canales Farias, conhecido como Chileno, Mauro César Fabrin e Isaac José Rodrigues, mais conhecido como Isaquinho. Alguns advogados dos acusados tentaram adiar mais uma vez o depoimento, mas o juiz indeferiu o pedido. Os indiciados que estão soltos serão ouvidos em outra ocasião.