Atritos começaram no 1.º dia da gestão Dilma
Esperado desde a campanha eleitoral de 2010, o conflito entre PT e PMDB começou a ser deflagrado logo no primeiro dia útil da gestão Dilma Rousseff. Em 4 de janeiro do ano passado, os peemedebistas articularam a suspensão de todas as nomeações para o segundo escalão federal. Como arma, havia uma ameaça de apoiar o reajuste do salário mínimo para um valor superior ao defendido pelo Planalto.
O descontentamento do PMDB já estava sinalizado, porém, desde a montagem do ministério de Dilma. No final da gestão Lula, o PMDB comandava seis pastas: Agricultura, Minas e Energia, Defesa, Integração Nacional, Saúde e Comunicações. Manteve o número com Dilma, mas foi forçado a trocar as três últimas por outras consideradas menos nobres Previdência, Turismo e Assuntos Estratégicos.
A mudança representou uma diminuição de 37% dos recursos previstos para investimentos gerenciados pelos ministérios sob controle da legenda (de R$ 38 bilhões para R$ 25,4 bilhões dados referentes ao ano passado). Do outro lado, o orçamento de investimentos para as pastas petistas havia subido de R$ 42 bilhões para R$ 53,6 bilhões em 2011. No ano passado, o PMDB ainda perdeu o Ministério da Defesa, quando Nelson Jobim foi substituído pelo petista Celso Amorim.
A gota dágua, no entanto, foi a perda de cargos periféricos, mas considerados estratégicos dentro do partido. Entre eles estão o comando da Secretaria de Atenção à Saúde e da Fundação Nacional da Saúde, ligadas ao Ministério da Saúde; e a direção dos Correios, empresa subordinada ao Ministério das Comunicações.
A recente revolta peemedebista no Congresso Nacional foi desencadeada pelo descontentamento no relacionamento com o PT na distribuição de espaços no governo federal. Mas também é movida por disputas internas pelo poder no partido. Diferentes correntes estão em conflito com as lideranças da legenda na Câmara dos Deputados e no Senado. O confronto tem como pano de fundo a sucessão à presidência das duas Casas, que ocorre em fevereiro de 2013.
O marco da crise ocorreu na última quarta-feira, quando o Senado barrou a recondução de Bernardo Figueiredo para a presidência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A indicação de Figueiredo era bancada pela presidente Dilma Rousseff. Mas o nome dele acabou sendo recusado numa manifestação liderada pelo senador paranaense Roberto Requião (PMDB). Na semana anterior, cerca de 50 deputados federais peemedebistas haviam assinado um manifesto com críticas ao tratamento que o partido vem recebendo dos petistas na divisão de cargos e tarefas do governo.
Requião diz que nunca ouviu falar "em rebelião no Senado". Mas considera legítimo o movimento dos colegas na Câmara. "Sugiro uma mudança de comportamento. Abrir, discutir, democratizar as decisões do partido. Enfim, fazer com que nossos parlamentares tenham consciência do que estão votando", afirma o senador.
No Senado, porém, há uma movimentação de peemedebistas liderada por Eunício Oliveira (CE) contra o principal nome da legenda para a presidência da Casa, Renan Calheiros (AL). Maior bancada, com 18 senadores, o PMDB tem a prerrogativa de escolher o substituto de José Sarney (AP), que apoia o retorno de Calheiros. O alagoano já ocupou o cargo entre 2005 e 2007, mas precisou renunciar após um escândalo em que foi acusado de ter tido a pensão de uma filha fora do casamento paga por um lobista.
Ordens demais
Na Câmara, a situação é mais complexa. O partido é a segunda maior bancada, com 76 deputados contra 86 do PT. Graças a um acordo firmado no ano passado, o candidato do partido a presidente da Casa em 2013 receberá o apoio dos petistas e do governo.
O escolhido para o cargo, com aval do vice-presidente Michel Temer (PMDB), é o atual líder da bancada peemedebista, Henrique Eduardo Alves (RN). Vários deputados, no entanto, vêm questionando a postura de Alves em relação ao governo. Por medo de perder o apoio dos petistas na eleição de fevereiro, ele estaria aceitando "ordens demais" do governo.
A dissidência é puxada por um grupo de 15 parlamentares do PMDB batizado como Afirmação Democrática. A ala, liderada pelo gaúcho Osmar Terra, reúne deputados que se opõe à aliança com o PT desde antes de 2010. Eles costumam interagir com um outro grupo com 12 membros do partido que estão no primeiro mandato.
"Viramos coadjuvantes do PT no governo. Não estamos sendo tratados como aliados, mas como adversários", diz o paranaense João Arruda, um dos peemedebistas novatos na Câmara. Para Osmar Serraglio, outro representante do Paraná que assinou o manifesto do PMDB, a revolta "não é contra o governo, mas contra o PT". Para Serraglio, que é vice-líder do Planalto na Câmara, a solução passa por acabar com o clima de "discriminação" contra os peemedebistas.
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