Em depoimento na CPI do Apagão Aéreo da Câmara, que investiga o acidente com o Airbus A 320 da TAM, o controlador de vôo Celso Domingos Alves Junior disse que as reclamações dos pilotos sobre o estado da pista principal aumentaram depois da reforma. Ele estava na torre do aeroporto de Congonhas no momento da tragédia que resultou na morte de 199 pessoas. O controlador disse ter ouvido pelo menos três relatos de pista escorregadia nos dias de chuva após a reforma, e afirmou não se recordar de ter ouvido reclamações antes da obra. Apesar disso, para o comando da CPI, vai se afastando a possibilidade de a pista de Congonhas ter sido uma causa preponderante do desastre.
Antes do início do depoimento, a CPI divulgou trechos da gravação dos diálogos dos pilotos com a torre de controle. O piloto perguntou sobre as condições da pista, mas em nenhum momento relatou problemas no vôo. Na gravação, os pilotos são informados, primeiramente, de que a pista estava molhada e, alguns minutos depois, pouco antes do toque na pista, de que ela estava escorregadia. Para preservar as famílias dos pilotos, a CPI só divulgou os trechos dos diálogos durante a aproximação do avião, antes do toque na pista.
Depois de ouvir Celso Domingos e mais três controladores que também trabalhavam no dia o acidente, o relator da CPI do Apagão da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse que cada vez mais vai ficando claro que a pista não foi um fator preponderante para o acidente.
- A suspeita sobre a pista vai se afastando como sendo um fator preponderante no acidente. Eu não descartaria a pista porque a gente vai ter de confrontar com os dados da caixa-preta - ponderou o relator.
Marco Maia recebeu o apoio do vice-presidente da CPI, o também governista Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que acredita estar ficando claro que a pista não foi um dos fatores que levou ao acidente. A oposição, no entanto, pede cautela e afirma que é cedo para tirar conclusões.
A CPI ouviu ainda o vice-presidente de segurança de vôo da Airbus, Yannick Malinge. Ele descartou falhas mecânicas ou eletrônicas, sugeriu que houve falha humana, mas não convenceu o presidente da CP I.
Controlador: Até o toque na pista, não parecia haver problema
Na gravação da cabine, um dos pilotos pergunta, às 18h36m, se chove em Congonhas e a controladora de vôo Ziloá Miranda informa sobre chuva leve e contínua e diz que a pista está molhada. Às 18h48m, o piloto pergunta sobre as condições da pista e o controlador Celso Domingos Alves diz que ela estava "molhada e escorregadia". A partir desse trecho, a CPI optou por não divulgar os diálogos. Celso Domingos disse que até o toque do avião na pista parecia que não havia nenhum problema no vôo. A partir do pouso, no entanto, ele percebeu que a aeronave manteve a velocidade até o momento do acidente. Celso acompanhou o avião até ele sair da pista.
Perguntado pelo relator da CPI se havia alguma recomendação específica naquele dia, o controlador informou que, quando começa a chover e algum piloto reporta que a pista está scorregadia, ele repassa a informação a outros pilotos.
Celso Domingos disse que até o toque do avião na pista parecia que não havia nenhum problema no vôo. A partir do pouso, no entanto, ele percebeu que a aeronave manteve a velocidade até o momento do acidente. Celso acompanhou o avião até ele sair da pista.
- Me chamou atenção a velocidade. Como operador, eu esperava dele uma manobra, mas ele manteve a velocidade até o final - disse o controlador.
Celso contou ainda que avisou uma outra aeronave sobre a explosão na cabeceira da pista, mas ela já estava em procedimento de decolagem e não pôde abortar o vôo.
A Aeronáutica enviou para a CPI a gravação da caixa-preta já em condições de divulgação. Na semana passada, a CPI não conseguiu reproduzir o aúdio porque faltava um software específico para ler o CD. No início da sessão, Cunha havia informado que passaria os áudios dos últimos 30 minutos, mas depois os demais parlamentares pediram que ele não divulgasse os trechos que mostram os pilotos desesperados tentando segurar o avião.
Um parecer em fase de elaboração pela Câmara condena a divulgação, pela CPI, das informações contidas nas caixas-pretas do avião da TAM. Cunha, porém, disse que o parecer tem apenas caráter indicativo e que a liberação dos dados seguiu decisão da maioria da CPI. Cunha pediu que seja elaborado um outro parecer sobre o assunto.
Deputado diz que situação de Congonhas é uma 'aberração'
Ao ser inquirido pela deputada Solange Amaral (DEM-RJ), o controlador de vôo Eduardo Dayrel revelou, na CPI do Apagão Aéreo, que em determinados o tráfego em Congonhas é tão intenso que até 15 aeronaves são colocadas em espera ao mesmo tempo circulando sobre o aeroporto. A revelação deixou assustado até mesmo o deputado Miguel Martini (PHS-MG), ex- controlador de vôo, que chamou a situação de "uma aberração" . O deputado então teve uma discussão tensa com o relator Marco Maia.
- Fazer uma declaração dessas solta no ar, sem comparar com outros aeroportos do Brasil e do mundo, fica parecendo que há uma situação de insegurança - protestou Marco Maia.
- Não é uma declaração solta. Isso acontece por falta de planejamento e de controle da malha de vôos. Tanto é que o ministro Jobim mandou refazer as malhas - reagiu Martini.
Mais tarde, Marco Maia reconheceu que o grande número de aeronaves em órbita poderia sim representar problemas de segurança, e disse que caberia cobrar da Anac porque não fiscalizou isso.
Estagiária relata alta carga de estresse
Luana Moreno, estagiária na torre de controle de Congonhas, disse que houve um aumento do tráfego aéreo nos últimos meses e que a carga de estresse é alta. Segundo ela, são constantes as invasões de freqüência dos rádios da torre, mas afirmou que os controladores têm a opção de usar frequëncias alternativas.
- Temos problema todo dia. Estamos falando com uma aeronave e ouvimos música ou ligação de telefone celular a cobrar, isso atrapalha nossa comunicaçao. Ainda bem que temos as frequências alternativas - disse Luana.
Em outra frente de investigação, a CPI do Senado ouviu procuradores da República a respeito de resultados de auditorias realizadas para apurar denúncias de irregularidades em obras em diversos aeroportos do Brasil. O relator da CPI, Demóstenes Torres (DEM-GO), disse que as empreiteiras que ganham as licitações para obras nos aeroportos do país atuam como "um esquema de crime organizado".
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