Apoio de Marina a Aécio no 2º turno presidencial provocou saída de integrantes da Rede| Foto: Elza Fiuza/ABr

Análise

Marina precisa neutralizar dissidências internas

Para o professor de Ciência Política do grupo Uninter Doacir Quadros, depois que a Rede conseguir o registro no TSE será preciso um trabalho para neutralizar dissidências internas. "Na oportunidade [ao firmar a aliança com o PSB], ela [Marina] optou pela carreira eleitoral, sabendo que se saiu bem na eleição anterior [teve 19,6 milhões de votos na eleição presidencial de 2010] e que poderia ter resultados significativos como vice do Eduardo Campos", avalia. "A estratégia teria perdas de algumas lideranças, mas entendo que não vá desestabilizar a formação do partido. Entendo que há possibilidade de neutralizar as dissidências. Isso a Marina terá que resolver o quanto antes."

Para a criação de um partido político, o TSE exige um programa e um estatuto e a eleição de dirigentes nacionais provisórios. Em seguida, é preciso recolher assinaturas em número equivalente a no mínimo 0,5% dos votos dados na última eleição para a Câmara Federal. Até antes de outubro, eram necessárias 490 mil assinaturas. Neste ano, o número de votantes diminuiu e passaram a ser necessárias 483 mil assinaturas. A Rede tinha 445.525 assinaturas antes da eleição de outubro. Depois do 2º turno, o partido conseguiu mais 9 mil adesões.

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A Rede Sustentabilidade, partido articulado pela ex-senadora Marina Silva, está a 30 mil assinaturas de obter o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Rede não conseguiu o número de assinaturas necessárias para concorrer nas eleições deste ano, o que levou Marina ao PSB, partido pelo qual concorreu à Presidência da República após a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. A ideia é obter o registro no início de 2015 e se preparar para as eleições municipais de 2016.

Passado um mês do segundo turno das eleições presidenciais, o objetivo interno da Rede é acalmar os ânimos após o apoio de Marina ao candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves. Oriundas de partidos de esquerda, como PT, PSol e PV, muitas lideranças que articulavam a criação da Rede abandonaram o projeto após o apoio ao presidenciável tucano.

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"Teve muita gente que saiu. Era esperado, a Marina mesmo quando anunciou [o apoio ao Aécio Neves] disse que qualquer caminho ia desagradar. Qualquer partido em uma situação de tensionamento como essa tem saídas", afirma Pedro Piccolo, coordenador nacional de organização da Rede. "É normal. A Rede continua, obviamente com algumas perdas, mas tem várias pessoas chegando."

Um dos que deixou o projeto é o historiador e escritor Celio Turino. Um dos fundadores da Rede, ele abandonou o embrião do partido depois que Marina Silva anunciou apoio a Aécio. "Durante a campanha, me envolvi e absorvi essa ideia do PSB. Durante a campanha, houve uma série de problemas, até no próprio programa [de governo], mas a gente foi superando", comenta. "Depois, quando houve um engajamento mais efetivo a favor do Aécio, passei a achar que [o projeto] era incompatível com as coisas nas quais eu acredito e que são necessárias para o Brasil."

Para Turino, o apoio ao tucano pôs por terra uma das futuras características da Rede: um partido à parte da polarização entre PT e PSDB. "Um ambiente mais tranquilo é necessário para sair dessa luta binária entre PT e PSDB. [Marina] acabou se posicionando por um dos lados e isso é ruim, porque nem um nem outro dá conta dos problemas do Brasil", comenta. "Acredito que é necessário construir uma alternativa, que eu imaginava na Rede."

O coordenador geral da Rede no Paraná, Eduardo Reiner, avalia que, apesar do apoio a Aécio, a legenda ainda poderá ocupar esse espaço. "A ideia é construir um partido diferente dos tradicionais. No Paraná, muitos dos que tinham ido para o PSB já estavam afastados do processo", diz. "Teve algumas pessoas que não entenderam esse movimento [de apoio a Aécio] e acabaram saindo. Agora estamos em um processo de ver se eles voltam ou não."