Foram necessários seis dias para o primeiro confronto entre ministros na segunda gestão da presidente Dilma Rousseff. O novo titular do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, defendeu ontem ao tomar posse no cargo a reforma agrária e disse que é preciso "derrubar a cerca dos latifúndios" . A declaração entrou em confronto com o posicionamento da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, que afirmou não haver mais latifúndios no Brasil.
O ministro defendeu diversas vezes o respeito à função social das propriedades rurais, preceito constitucional segundo o qual, por exemplo, a propriedade não pode ser improdutiva.
"Derrubar as cercas"
"Ignorar ou negar a existência da desigualdades e da injustiça é uma forma de perpetuá-los. Não basta derrubar a cerca dos latifúndios, é preciso derrubar também as cercas que nos limitam a uma visão individualista e excludente do processo social", discursou Patrus.
"Oferecer e garantir oportunidade e crescimento a estas famílias na terra em que vivem é tornar concreto o conceito de função social da propriedade", disse o novo ministro.
"Não existe mais"
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada na segunda-feira passada, Kátia Abreu havia afirmado que não é preciso acelerar a reforma agrária no país e que "latifúndio não existe mais". Ela assumiu o Ministério da Agricultura sob críticas de índios e de trabalhadores sem-terra.
As declarações dos dois ministros já demonstram divergências explícitas entre as duas pastas da gestão Dilma Rousseff que cuidam da agricultura.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) avaliou positivamente as declarações do novo ministro. Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, considerou que a defesa da função social da terra por Patrus é uma sinalização de atenção à política da reforma agrária.
Ele também criticou a titular da Agricultura. "Kátia Abreu é latifundiária e desconhece a realidade do país", afirmou.
Deixe sua opinião