A decisão do ministro da Justiça, Tarso Genro, de conceder o status de refugiado político ao italiano Cesare Battisti, condenado a prisão perpétua por ações terroristas que provocaram a morte de quatro pessoas, abriu uma crise entre o Brasil e a Itália. Em comunicado oficial divulgado ontem, o Ministério de Assuntos Estrangeiros da Itália expressou sua "surpresa" e "pesar" com a decisão de Genro. Os italianos informaram que vão apelar diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor de uma reversão da decisão de Genro. A tradução diplomática da crise e da insatisfação do governo italiano ficou caracterizada com a convocação do embaixador brasileiro em Roma, Adhemar Bahadian.
O embaixador foi convocado pelo secretário-geral do ministério italiano, Giampiero Massolo. Em nota, o governo italiano manifestou a "unânime indignação" de todas as forças políticas parlamentares do país com a decisão de Tarso Genro, assim como da opinião pública e dos familiares das vítimas dos crimes atribuídos a Battisti.
O governo italiano não tem dúvidas de que a decisão de Genro, que contrariou a recomendação do Comitê Nacional para Refugiados (Conare) teve caráter político.
A decisão unilateral de Genro também desencadeou atrito dentro do governo. Ontem, o Itamaraty reconheceu que essa atitude gerou um sério e indesejável mal-estar nas relações Brasil-Itália, além de ter contrariado compromissos internacionais assumidos pelo país de cooperação no combate ao terror. Integrante do Conare, o Ministério das Relações Exteriores havia se oposto à concessão de refúgio a Battisti, na reunião do comitê em novembro, e advertido seus pares sobre os impactos de uma decisão em contrário nos objetivos imediatos da política externa brasileira.
Cobrança
Em novembro, durante a visita de Lula a Roma, o governo italiano havia insistido novamente para que o Brasil concedesse a extradição do foragido. O Itamaraty apostava no julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), neste ano, em favor da extradição de Battisti.
Expressa no comunicado oficial do Ministério de Assuntos Estrangeiros da Itália, a reação italiana atingiu em cheio a pretensão do presidente Lula de manter e aprofundar sua presença nos debates dos principais foros de governança mundial. Presidente do G8 neste ano, a Itália salientou que os países desse grupo e seus colaboradores, como o Brasil, "serão chamados a confirmar seu compromisso formal e a promover ações cada vez mais eficazes no combate ao terrorismo internacional".
A mensagem foi lida, no Itamaraty, como uma advertência de que Lula pode ser eliminado da lista de líderes chamados ao encontro anual de cúpula, entre os próximos dias 8 e 10 de julho. Mesmo que venha a ser convidado, tenderia a passar por uma constrangedora cobrança do governo italiano, caso o refúgio seja mantido.
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