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Roberto Stuckert passou três ensinamentos ao filho Ricardo. O fotógrafo presidencial não pode ouvir, ver ou falar. "Nosso manual é o mesmo daqueles macaquinhos", brinca Stuckão.

Tirar histórias de bastidores da boca de ambos é praticamente impossível. Perguntado, por exemplo, sobre o temperamento de Lula durante a crise do mensalão, Stuckinha desconversa. "Nunca vi o presidente passar nervosismo para os subordinados."

Mais calejado, o pai resolve contar uma história inédita sobre Figueiredo, que morreu em dezembro de 1999. "Mas é só para te ajudar a melhorar a reportagem, viu?" Em 1981, o general sofreu um enfarte e teve de ficar internado por uma semana em São Paulo. O período era de transição entre a ditadura e a democracia e começou a correr o boato de que Figueiredo havia morrido.

Stuckão foi o encarregado de fazer a foto que provaria o contrário. "Logo que o presidente me viu, soltou: que m... você está fazendo aqui?" O fotógrafo explicou a situação, levantou a câmera e ouviu de novo. "Essa m... tá ligada? Manda isso pro Ulysses Guimarães!", esbravejou, fazendo com os braços o gesto de uma banana.

O flagra, em si, não é novidade. "Contei isso anos depois, a foto até foi publicada." O detalhe até então desconhecido é que a foto oficial de Figueiredo ao lado do vice, Aureliano Chaves, foi editada na hora pelo ministro de Comunicação Social, Said Farhat. "O Said na hora pegou o negativo e pregou a tesoura na altura do joelho do Figueiredo. Na visão dele, um presidente não poderia sair de chinelo em uma imagem que iria se espalhar pelo Brasil."

Stuckinha, por sua vez, nega que tenha sofrido qualquer interferência de Lula durante os seis anos de trabalho no Palácio do Planalto. O presidente, segundo ele, apenas dá atenção especial às imagens feitas nas viagens ao exterior. "O homem (Lula) não dorme no avião. E, quando estou tratando as fotos no computador, lá vem ele para ver o que eu produzi."

Ricardo participou de todas as centenas de viagens feitas pelo presidente desde 2003. Nas contas dele, elas correspondem a 190 dias no avião. Entre as histórias "publicáveis", fala especialmente sobre o primeiro encontro entre Lula e George W. Bush na Casa Branca. "O cerimonial dos Estados Unidos me colocou dentro da sala com o fotógrafo americano e o Bush. Aí, o Lula entrou e olhou pra mim com aquela cara: ‘o que é que você está fazendo aqui antes de mim, Stuckinha?’" Entre outras experiências notórias, lembra dos apertos com a segurança na Líbia e da popularidade de Lula na Europa. "Ele é tratado como uma personalidade, todo mundo quer saber como é esse tal presidente operário."

O pai, Stuckão, também gosta de Lula, mas defende Figueiredo – que entrou para a história como um dos presidentes mais antipáticos. "Ele era uma pessoa formidável, muito humana no trato com os funcionários." Para definir o assunto, Stuckinha encerra: "Fazemos fotografia e não ideologia." (AG)

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