O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), informou que vai pedir ao Ministério Público Federal a responsabilização criminal por falso testemunho da diretora financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, e do policial civil de Minas Gerais David Rodrigues Alves. Simone depôs nesta quarta-feira na comissão e Rodrigues Alves foi ouvido nesta quinta-feira. Eles prestaram juramento de que só diriam a verdade, mas Serraglio acredita que um dos dois está mentindo.
Simone disse que não conhecia o policial. Ele, por sua vez, disse que sacava dinheiro das contas do empresário Marcos Valério de Souza, suposto operador do mensalão, e entregava o dinheiro à diretora da SMPB.
Nunca viu Valério
Em seu depoimento à CPI, David Rodrigues Alves colocou seu sigilo telefônico e as declarações de renda à disposição dos parlamentares. Ele disse que não conhece nem nunca viu o empresário Marcos Valério, suposto operador do mensalão, e que sacava das contas do publicitário no Banco Rural por ordem do sócio da agência SMPB Cristiano de Mello Paz; da gerente financeira da empresa, Simone Vasconcelos; e da funcionária Geisa dos Santos. O dinheiro dos saques, cujo total apurado pela comissão seria de R$ 4,9 milhões, era entregue às mesmas pessoas.
Comentando declaração de Cristiano Paz de que não o conhece, o policial afirmou que se trata apenas de uma estratégia de defesa para tentar explicar a movimentação financeira da agência de publicidade. Para ele, o fato de não estar de posse do dinheiro comprova a sua versão dos fatos. "Se os valores estivessem comigo eu estaria em uma vara criminal, já que o dinheiro não é meu", declarou o policial, ao garantir que passa por dificuldades financeiras.
Por telefone
David Alves revelou à CPI que recebia as ordens para os saques de duas formas: por meio de telefonemas feitos a partir da agência SMPB ou pessoalmente, na sede da empresa. A cada vez que transportava o dinheiro para o prédio da agência, localizado na rua dos Inconfidentes, em Belo Horizonte, em caixas de tamanhos variados, ele ganhava de R$ 50 a R$ 100, além das despesas com táxis.
O policial disse que, ao sacar o dinheiro, não assinava nenhum comprovante, apenas rubricava cópia da própria identidade. Ele afirmou ainda que nunca fez controle pessoal do número de vezes que foi ao banco, mas admitiu que fez vários saques e só transportou valores em reais.
David informou que se apresentava como policial civil para ter permissão de entrar armado na agência bancária onde realizava os saques. Segundo o depoente, foram essas - ser policial e possuir arma - as condições apresentadas por Cristiano Paz para contratá-lo.
O policial mineiro disse ainda que foi Haroldo Bicalho quem o apresentou ao sócio de Marcos Valério. Segundo o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), Bicalho é um doleiro recentemente preso na operação Farol da Colina, da Polícia Federal.
Sócia de Duda
Ainda no depoimento, o policial negou conhecer Zilmar Fernandes da Silveira, sócia do publicitário Duda Mendonça, que teria recebido R$ 15,5 milhões das contas de Marcos Valério. Duda Mendonça fez a campanha do presidente Lula para a Presidência da República.
Alves informou que não foi procurado por ninguém da SMPB ou por representante do empresário Marcos Valério Fernandes desde que surgiram as notícias envolvendo seu nome. Segundo o policial, os advogados de seu sindicato, que cuidam de sua defesa, também não receberam nenhum tipo de assessoria jurídica por parte do empresário, acusado de ser operador do suposto esquema do "mensalão".
Contradição
Os parlamentares consideraram convincente o depoimento do policial. Apenas o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) viu contradições entre o depoimento prestado nesta quinta e o dado à polícia de Minas, a quem Alves teria dito que entregava o dinheiro sacado ao setor financeiro da SMPB, mas que se lembrava apenas da diretora Simone Vasconcelos. Nesta quinta, o depoente citou o nome de Cristiano Paz.
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