Deputados e senadores do PSDB reagiram duramente à sugestão feita nesta terça-feira (12) pelo relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), de pedir que o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, abra por vontade própria seus sigilos bancário, fiscal e telefônicos. Os parlamentares do PSDB levantaram-se e lançaram palavras de ordem. "É um requerimento disfarçado de pergunta", protestou o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), sentado na primeira fila. "Isso não é admissível. O colegiado tem que decidir", afirmou.
Para defender a posição, Cunha disse que Perillo "é, sim, investigado". Foi o suficiente para gerar nova onda de protestos dos tucanos. "O relator não sabe separar testemunha de investigado", questionou novamente Sampaio. O relator rapidamente fez uma correção, dizendo que Perillo comparece à CPI como testemunha de uma investigação. Cunha lembrou que pelo menos seis pessoas importantes do governo de Goiás foram envolvidos com o grupo do contraventor Carlinhos Cachoeira. "Não é pouca coisa: o governador vem aqui e diz que não se lembra, não se sabe das coisas", afirmou o relator, ressaltando que há quem esteja "antecipando uma conclusão que eu não concordo".
Cunha disse que a versão do governador tem início, meio e fim, mas é preciso investigar. "Aqui há o benefício da dúvida, mas sem conclusões precipitadas", destacou. Logo em seguida, Perillo disse que a manifestação "incisiva" de Cunha não seja uma antecipação do que será apresentado no relatório. O governador de Goiás afirmou não ver "motivos suficientes" para que seus sigilos bancário, fiscal e telefônico sejam quebrados. "Vossas excelências é que terão que tomar esta decisão", disse, ressaltando que o colegiado é soberano para aprovar ou rejeitar o eventual pedido de afastamento dos sigilos.
Confira, abaixo, o que Perillo afirmou para se defender de cada uma das acusações e suspeitas levantadas contra ele.
â Encontros com Cachoeira
O governador admitiu ter se reunido no ano passado em pelo menos três ocasiões com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. No início do depoimento e depois em várias intervenções, Perillo negou ter uma relação de proximidade com o contraventor.
Segundo Perillo, um dos encontros ocorreu no seu gabinete no Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano. Na reunião, segundo o governador, eles conversaram sobre a Vitapan, laboratório farmacêutico com atuação no Estado.
Uma segunda reunião em que os dois se encontraram foi durante um jantar na casa do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Durante o encontro, o governador disse que falaram de gastronomia e de uma possível candidatura de Demóstenes, bem cotado nas pesquisas de intenção de voto à época, à prefeitura de Goiânia.
O terceiro encontro, também em um jantar, ocorreu na casa do ex-presidente do Departamento de Trânsito de Goiás (Detran-GO) Edivaldo Cardoso. O governador de Goiás disse que os dois conversaram rapidamente sobre incentivos fiscais para a empresa de medicamentos.
Perillo faz questão de ressaltar a todo momento que nos encontros dos quais participou sabia da atuação de Cachoeira como empresário. Segundo ele, só soube da ação ilegal dele depois de deflagrada a operação Monte Carlo, que prendeu Cachoeira em fevereiro último.
â Relações com Cachoeira
Perillo negou que tenha relações com o bicheiro e disse ainda que não houve ligação de seu governo com o empresário, investigado pela Polícia Federal por comandar um suposto esquema criminoso envolvendo jogos ilegais com a participação de políticos e empresários. "Não há nenhum ato do governo de Goiás em benefício ou na direção do que foi suscitado pela imprensa. Falaram muito, mas nada se concretizou", disse. "Nunca mantive qualquer relação de proximidade com o empresário Carlinhos Cachoeira, embora fosse ele uma pessoa de livre trânsito com políticos do meu estado e com as pessoas mais ricas", completou.
Ele argumentou que as gravações feitas pela Polícia Federal durante a investigações não apontam para uma relação próxima entre eles. "São 30 mil horas de gravações, três anos de gravações e não há nenhuma ligação dele para mim. Apenas uma ligação minha para ele por ocasião de seu aniversário. Se ele era uma pessoa próxima, era natural que ele tivesse acesso ao meu telefone particular", argumentou o governador.
Ao iniciar o depoimento, Perillo disse que chegava "de cabeça erguida" à comissão após ter se oferecido para falar e ter pedido ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que movesse a investigação contra ele.
Ele também se disse vítima das denúncias que, segundo ele, representam "fatos distorcidos" e "informações descabidas". "Venho restabelecer a verdade dos fatos", disse o governador que usou parte de sua fala inicial para ressaltar o desenvolvimento industrial e econômico de Goiás durante o seu governo. "Muitos não se conformam com isso e tentam destruir o patrimônio moral que construir durante toda minha vida pública".
â Venda de casa
O governador de Goiás negou qualquer irregularidade na venda de sua casa, no valor de R$ 1,4 milhão, feita em 2011. Ao entregar extratos bancários e documentos de cartório ao presidente da comissão, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), Perillo classificou de "absurda" e "delirante" a suspeita de que ele teria recebido duas vezes pelo imóvel.
Perillo disse que o ex-vereador Wladimir Garcez (PSDB) se apresentou como comprador da casa, depois de ele ter anunciado, em fevereiro de 2011, o imóvel em um jornal do Estado. Garcez, segundo o governador, emitiu três cheques para serem cobrados aos longo dos meses de março, abril e maio do ano passado, tendo sido, segundo ele, compensados nos prazos previstos.
No momento de lavrar a escritura de venda do imóvel no cartório, porém, o governador soube que Garcez não tinha conseguido recursos para ficar com a casa e repassou o imóvel então para o empresário do ramo educacional Walter Paulo Santiago. Em depoimento anterior, o ex-vereador disse à CPI que era funcionário de Cachoeira e do ex-diretor da Delta Cláudio Abreu. Garcez disse à comissão que os três cheques foram pegos com Abreu.
O governador de Goiás afirmou, citando depoimento de Garcez, que enviou um representante para fazer a escritura do imóvel em favor de Walter Paulo, na presença do ex-vereador. Walter Paulo disse, também, que pagou a casa milionária em dinheiro vivo. Perillo, contudo, afirmou que não pode ser responsabilizado por negociações feitas posteriormente com uma casa que já tinha sido vendida por ele.
"Não há, portanto, contradições a respeito da compra da casa e de sua absurda e delirante ilação de que haveria contradição, de que teria recebido duas vezes", afirmou Perillo. Ele admitiu, porém, não ter se preocupado em saber quem era o emitente dos três cheques na transação. Segundo a Polícia Federal, os cheques foram emitidos por Leonardo Augusto de Almeida, sobrinho de Carlinhos Cachoeira.
Perillo disse que tinha pressa em receber os recursos da transação porque, além de buscar um novo imóvel, estava atrás de uma casa maior para comprar. Ele ressaltou que não vendeu nenhum bem do Estado, mas uma propriedade sua adquirida com as economias de 30 anos de trabalho. "É incrível que eu seja exposto por eu ter vendido um bem pessoal, um bem meu".
â Dinheiro a jornalista
Perillo também negou ter feito qualquer pagamento de dinheiro ao jornalista Luiz Carlos Bordoni durante a campanha de 2010. Responsável pelos programas de rádio de Perillo desde 1998, Bordoni fez a acusação em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, dizendo que o repasse foi feito no gabinete de governo.
Ele disse que tinha por hábito receber jornalistas, mas jamais "realizou qualquer operação financeira ou pagamento a quem quer que seja". Segundo ele, todos os repasses eram feitos pelo coordenador de campanha (ele não citou o nome). "Nunca foi feito pagamento ao jornalista em período eleitoral", disse.
O governador não comentou diretamente outra acusação feita por Bordoni, a de que sua filha recebeu, via uma empresa de fachada ligada ao contraventor Carlinhos Cachoeira, R$ 45 mil para saldar dívidas de campanha. Perillo afirmou que o único pagamento feito a Bordoni foi registrado na sua conta de campanha, no valor de R$ 33 mil em favor de uma empresa do jornalista.
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