Enquanto Renan Calheiros (PMDB-AL) sofria fragorosa derrota no Senado, na Câmara o processo de cassação de seu irmão, o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), no Conselho de Ética, começou sob suspeição. O relator do caso, Sandes Júnior (PP-GO), recebeu R$ 50 mil de doação para sua campanha eleitoral, em 2006, do grupo Schincariol, cuja relação com Olavo está sendo investigada pelo órgão. O presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), disse ao jornal "O Globo" que, com esse fato novo, irá analisar a permanência de Sandes na relatoria.
A cervejaria foi o segundo maior financiador da campanha do parlamentar goiano, que recebeu, ao todo, R$ 431 mil de doação. Em meados de 2006, Olavo Calheiros vendeu sua fábrica de refrigerante, Conny Indústria e Comércio de Sucos e Refrigerantes, em Murici (AL), para a Schincariol por R$ 27 milhões. O PSOL, autor da representação no Conselho, suspeita que a família Calheiros atuou em defesa dos interesses da cervejaria que teria débitos fiscais com o governo.
Além de ter recebido doação da cervejaria, o próprio Sandes Júnior contou nesta quarta ao conselho que foi procurado por diretores da Schincariol, que lhe entregaram material sobre a empresa, seus investimentos e certidões negativas de débito com órgãos do governo, como o INSS. Ele citou essa visita para dizer que a direção da empresa afirmou que a Conny foi avaliada em R$ 35 milhões. Há a suspeita é de que a fábrica de refrigerantes valeria, no máximo, R$ 10 milhões.
Questionado por jornalistas no final da audiência, Sandes confirmou que recebeu os R$ 50 mil da Schincariol, mas, surpreendido, disse que não se considera sob suspeição:
- Não acho que estou sob suspeição. Fui sorteado relator e a Schincariol não está em questão aqui, não está sub judice.
O deputado disse que a prova de que não defende a cervejarias é que apresentou um projeto de lei que taxa em 10% o lucro dessas empresas, dinheiro que seria destinado para tratamento de viciados em bebida. Perguntado a razão de não ter informado voluntariamente que recebeu dinheiro da Schincariol para sua campanha, ele respondeu:
- Não disse nada porque, logo depois que fui escolhido relator, chequei no TSE e constatei que outros 195 deputados também receberam doação de cervejarias.
O deputado goiano, primeiro, afirmou que não iria convidar os diretores da cervejaria, depois, disse que iria analisar com a assessoria técnica e, numa terceira declaração, disse que eles teriam que ser convidados. Mas fez uma ressalva:
- Só podemos convidar e não convocar. Eles vêm se quiserem.
Em seu depoimento, Olavo afirmou que seu negócio com a Schincariol foi lícito e se negou que tenha favorecido a empreiteira Gautama, seja com emendas ou ter circulado por ministérios com o empresário Zuleido Veras, dono da construtora, por ministérios em Brasília. Ele também é acusado de envolvimento neste esquema. O tempo todo, Olavo repetiu o discurso do irmão Renan e atacou a imprensa, chamando de mentirosa, açodada, inquisidora, falaciosa e embusteira, entre outros 23 adjetivos.
- Sou um homem de hábitos simples. Não sou rico. Na minha cidade, todo mundo, até as crianças, me trata como Olavinho. Estou sendo vítima de uma calúnia - disse Olavo Calheiros.
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