O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) lançou nesta sexta-feira em um centro comunitário do Capão Bonito, bairro da periferia de São Paulo, o Relatório de Desenvolvimento Humano 2005, que na atual edição traz um detalhado estudo sobre as desigualdades raciais no Brasil. Entitulado "Racismo, pobreza e violência", o relatório revela que a idéia de que no Brasil não há racismo, mas sim uma democracia social, não passa de um mito.
- O relatório vai além da visão econômica e mergulha em todos os aspectos que são importantes para a vida humana. E mostra que a desigualdade entre brancos e negros é algo que não se altera na sociedade brasileira, e de forma sempre desfavorável aos negros - afirmou José Carlos Libânio, do Centro Internacional de Pobreza, da ONU, na apresentação do relatório, para concluir: - O preconceito racial existe e é algo que a sociedade brasileira não consegue superar.
Diva Moreira, editora do relatório do Pnud, assinalou o estudo desfaz de vez o mito de que as relações raciais no Brasil são harmoniosas. Segundo ela, ainda, não há solução para problemas como a pobreza e a violência no país sem que as políticas públicas contemplem e atuem diretamente na redução da discriminação racial.
- O relatório deixa claro que essa situação de desigualdade tem história, foi construída ao longo do tempo por políticas de governos. Então, deve-se desconstruir essa situação tão iníqüa que caracteriza as relações raciais no país - disse.
Outro aspecto do relatório que chama a atenção, observou ela, é que em todos os aspectos em que se analise a população negra predomina nos aspectos negativos.
- Nós já temos mais de um século desde a abolição e a população negra não está plenamente integrada na sociedade brasileira. Como evidência do "aparthaid" dissimulado que impera no país, Diva chamou a atenção para o fato de que aqui não há movimentos anti-racistas, como houve nos Estados Unidos e na África do Sul, com o engajamento significativo dos brancos.
- Aqui o racismo é coisa de negro, como se o racismo não contaminasse todo o nosso tecido social - disse, para concluir: - O destino da população branca neste país tem a ver com o destino da população negra.
O relatório evidencia também o que chama de "pobreza política" existente no país, que priva os negros de acesso a cargos de decisão nas difrentes esferas de poder no país. Esse é outro obstáculo a ser vencido, em sua opinião.
- Sem que população negra participe de processos decisórios sobre onde se alocar recursos, a desigualdade racial não será superada no país - disse.
Segundo ela, não há aspecto da condição social, de saúde, distribuição de renda ou nível educacional no país indicadores não tenham relação com o racismo.
- Espero que o relatório sirva de subsídio para que se qualifique o debate e permita a construção de políticas para eliminar esse estado de pobreza que atinge a população negra no Brasil. Se as políticas públicas não estiverem voltadas a mudar as condições de vida das populações negras, não se vai avançar no combate à pobreza e desigualdade no país.
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