Em uma demonstração de que aposta todas as suas fichas no plenário para ser absolvido da acusação de quebra de decoro parlamentar, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez nesta terça-feira um discurso em tom apaziguador, com elogios a adversários políticos e senadores com influência no processo que o envolve.
Desde a semana passada, Renan adotou a estratégia de centrar fogo contra a revista Veja e a Editora Abril, responsável pela publicação. Ele procura desqualificar as reportagens da revista, dizendo que as denúncias partem do usineiro João Lyra, seu maior adversário na política alagoana. Diz ainda que não fez ameaças a nenhum senador.
Aliados de Renan calculam que ele dificilmente será absolvido no julgamento do Conselho de Ética, que deve ocorrer até o fim de agosto ou início de setembro, mas teria boas chances de ser absolvido pela maioria do plenário, entre setembro e outubro. São necessários 41 votos secretos dos 81 senadores para condenar um colega por quebra de decoro.
Num gesto estudado com assessores e aliados, Renan desceu da cadeira de presidente e falando da bancada de senadores fez elogios nominais à senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), relatora do processo contra ele no Conselho de Ética, e aos senadores Jeferson Peres (PDT-AM) e José Agripino (RN), líder do DEM, com quem teve recente rusga.
Diante da recusa de dois dos três relatores do processo que o acusa de ter despesas pessoais pagas por um lobista de assumir nova relatoria para investigar relações com a cervejaria Schincariol, o senador buscou acalmar os ânimos e os boatos de que estaria pressionando os relatores.
"A verdade vai prevalecer e a verdade é minha aliada", disse Renan, repetindo o mantra que utiliza desde o início do processo.
O senador negou ser proprietário de rádios em Alagoas e atribuiu as acusações a adversários políticos no Estado e à revista Veja.
Referindo-se ao usineiro João Lyra, que disse ter sido seu sócio na compra de emissoras de rádio e de um jornal em Alagoas, feitas por "laranjas", Renan disse que o "adversário já dá sinais de enfraquecimento", numa alusão ao fato de Lyra ter afirmado publicamente não possuir provas de sua denúncia e de não querer ir à Brasília prestar depoimento.
"Todas as acusações, sem exceção, são absolutamente inconsistentes e inverídicas. Essas questões serão tratadas na hora certa, com toda a serenidade, no foro adequado", disse Renan.
O presidente do Senado anunciou que vai fazer petição para encaminhar todos os seus sigilos ao Ministério Público antes que isso seja requisitado.
Na quinta-feira, a Polícia Federal conclui a perícia dos documentos de compra e venda de gado encaminhados por Renan ao Conselho de Ética.
No mesmo dia, João Lyra presta depoimento a Romeu Tuma (DEM-SP), corregedor do Senado, em Alagoas, e a Mesa da Casa se reúne para decidir se acata uma terceira representação contra Renan, apresentada pelo DEM e pelo PSDB, referente à suposta compra das rádios.
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