Em mais um sinal de insatisfação com o Palácio do Planalto, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse nesta quinta-feira (30) que "conversar não arranca pedaço" e "aliança não significa pensar absolutamente igual sobre tudo". Ao cobrar maior diálogo da presidente Dilma Rousseff com os aliados, Renan disse que o governo precisa fazer sua parte ao ouvir as demandas do Legislativo. "Nós [Congresso] vamos fazer o que nós podemos. Mas a construção de uma grande convergência, de uma agenda nacional, a criação de um momento novo de união nacional precisa de conversas de lado a lado. Mesmo que as pessoas não concordem em algumas coisas, elas precisam conversar. Conversa, todos sabem, não arranca pedaço não."
O PMDB impôs derrotas à presidente Dilma Rousseff na Câmara esta semana diante da insatisfação de parte da bancada com o tratamento recebido pelo Palácio do Planalto durante o período eleitoral. No Senado, os aliados também ameaçam uma rebelião com a aprovação de propostas incômodas ao governo, como referendar a derrubada do decreto de Dilma que amplia poderes de conselhos populares.
O presidente do Senado defendeu que os envolvidos nas eleições "esfriem os ânimos" e "descansem um pouquinho", mas reiterou que a convergência só será alcançada com melhor diálogo com o Planalto, por meio de sua articulação política. "É hora de construir uma convergência, uma agenda nacional, mas isso não vai cair do céu. Isso terá que ser construído por uma boa interlocução."
Para Renan, a aliança firmada pelo Planalto com partidos governistas no Congresso não é suficiente para garantir a aprovação de matérias de interesse do governo. "Nós temos uma aliança e essa aliança vai preponderar, haja o que houver. Agora, aliança não significa pensar igualmente sobre tudo. Aliança não é isso", afirmou o peemedebista.
Apesar das críticas, Renan negou que o Senado esteja preparando, a exemplo da Câmara, uma "pauta bomba" com a aprovação de projetos com impactos nas contas públicas. "Não haverá pauta bomba. Nós temos preocupação com o equilíbrio fiscal."Mesmo com a negativa de Renan, o Senado prepara para a próxima semana a votação da proposta que troca o indexador das dívidas dos Estados com a União, com efeitos na arrecadação da União. "Nós vamos colocar a troca do indexador porque há um acordo com relação a esse calendário. Nos comprometemos que, quando passasse o segundo turno, colocaríamos em votação", disse Renan.
Ex-ministra da Casa Civil, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) pediu da tribuna do Senado a "união" dos partidos da base de Dilma após a ressaca eleitoral. "Queria fazer chamado de união aos partidos da base. E principalmente ao PT e PMDB, que são os maiores partidos de sustentação governo. (...) Trabalhei quase três ano no Planalto. Muitas coisas eram ditas e colocadas na boca dela [Dilma] ou em sua conta. E hoje parece que passamos o mesmo", disse a petista.
Rebelião
A "rebelião" na Câmara foi capitaneada pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB), que atribuiu sua derrota ao governo do Rio Grande do Norte a um vídeo gravado pelo ex-presidente Lula em favor de seu adversário, Robinson Faria (PSD).Os deputados derrubaram o decreto de Dilma que ampliava a participação de conselhos sociais, assim como permitiram a convocação de ministros.
Os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) entraram em campo nesta quinta para conversar com aliados, especialmente do PMDB, na tentativa de acalmar os ânimos da bancada e evitar novas derrotas para o governo.
O Palácio do Planalto pediu que os deputados apresentem uma lista com projetos prioritários para votação até o fim do ano. A ideia do governo é abrir uma negociação com os aliados.
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