Sem força para unificar o PMDB em defesa do seu mandato, a presidente Dilma Rousseff (PT) deve apostar no racha da principal legenda da coalizão como estratégia para enterrar o pedido de impeachment. A ideia é garantir especialmente o apoio de Renan Calheiros (PMDB-AL), que à frente do Senado e às turras com o vice-presidente Michel Temer pode se tornar o contrapeso que o Planalto precisa para enfrentar a instável Câmara dos Deputados, comandada por Eduardo Cunha (PMDB), e o processo de impeachment –poder recentemente delegado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
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Na política, a relação de Renan com a gestão petista não é necessariamente de harmonia. Mas, em 2015, com a dificuldade crescente na relação entre Planalto e Câmara, o presidente do Senado teria agido e costurado um acordo com o governo federal para garantir uma agenda mínima de votações ligadas ao ajuste fiscal.
Nesta última semana, ao encerrar os trabalhos do ano, Renan declarou que a Casa “fez sua parte”.
Lava Jato
É o que une Renan e Cunha e que pode embaralhar o jogo do impeachment: ambos são investigados pela Procuradoria-Geral da República no âmbito da Lava Jato. Cunha foi denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro – e pode ser afastado da Câmara Federal. Renan é alvo de inquérito e ainda figura como investigado.
A reaproximação de Renan com o Planalto sob o pretexto da “agenda positiva” para a economia agora se estende para a guerra do impeachment da presidente Dilma, deflagrada por Cunha no último mês do ano. Nesta primeira batalha, Renan deu ao menos dois sinais de que não pretende ser pautado pelo presidente da Câmara, também seu desafeto.
Primeiro sinal
A primeira demonstração surgiu ainda antes de o STF, na quinta-feira (17), confirmar que o Senado tem independência para decidir pela instauração do processo de impeachment. Renan já defendia a tese publicamente, indicando que poderia arquivar o pedido de cassação de mandato eventualmente autorizado pela Câmara. Ou seja, para existir o impeachment depende dos senadores – aceito na Casa, Dilma deve se afastar imediatamente por 180 dias, para que haja o julgamento.
A ideia dos aliados é barrar o trâmite da matéria ainda antes da instauração. Para isso, o governo precisará –e muito – de Renan, já que na última quinta-feira (17), por oito votos contra dois, os ministros do STF entenderam que é necessária apenas a maioria simples no Senado para abrir o processo.
“Você não pode afastar o presidente da República a partir da decisão de uma Casa sem ouvir a outra Casa. Na prática, não seria o bicameralismo, seria a predominância de uma Casa sobre a outra”, afirmou Renan.
Brigas
Há dois grupos dentro do PMDB, um a favor e outro contra o impeachment de Dilma. Eles se enfrentaram em relação ao rito de impeachment decidido pelo STF e também na escolha do líder do partido na Câmara – a ala pró-governo venceu. A próxima batalha: os favoráveis ao impeachment querem antecipar para janeiro a convenção do partido, para deliberar se deixam o governo.
Segundo sinal
O segundo sinal visto com bons olhos pelo governo foi a rejeição de Renan à articulação de Temer para tirar a liderança do PMDB na Câmara Federal das mãos de Leonardo Picciani, um defensor de Dilma. Sempre que pode, Renan tem criticado a atuação do vice que, mesmo dentro do governo é acusado de conspirar contra a petista.
Especialista
Para o cientista político David Fleisher, da Universidade de Brasília (UnB), o Planalto terá dificuldades para manter a “meia aliança” com o PMDB. Um dos desafios é tirar uma “motivação forte”, que é a perspectiva de poder para um partido. “Vocês não querem ficar conosco? Então, tudo bem. Mas vai ser esquecido nesta nova composição. É uma persuasão forte”, afirma Fleisher .
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