Atualizado em 14/08/2006 às 8h41

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O repórter da TV Globo Guilherme Portanova, que passou 40 horas em poder de seqüestradores de uma facção criminosa, deve prestar depoimento nesta segunda-feira. A facção exigiu a exibição de um vídeo para libertar o jornalista.

Portanova foi libertado nesta madrugada, por volta de 0h30m, nas proximidades da sede da emissora, no bairro do Morumbi, em São Paulo. Ele não estava ferido, mas muito assustado. Logo após ganhar a liberdade, foi levado para a sede da emissora em São Paulo, onde telefonou para parentes.

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- Ninguém me agrediu, fui alimentado esse tempo todo - disse Guilherme Portanova, que foi levado para as proximidades da emissora no porta-malas de um carro e apenas machucou o ombro.

Perguntado sobre o que os criminosos diziam a ele no cativeiro, o jornalista disse que os seqüestradores queriam ver a reivindicação deles no ar.

- Quando me libertaram, sentiram que estava completo o serviço deles - contou Portanova, que foi rendido por volta das 8h de sábado, junto com o auxiliar técnico Alexandre Calado.

Ainda na madrugada, ele prestou um rápido depoimento à polícia.

- É uma emoção imensa depois de toda aquela hora de sofrimento. Tirei um peso enorme em cima de mim. Que bom que deu tudo certo - disse o pai de Guilherme, Milton Portanova, que veio de Porto Alegre para acompanhar o seqüestro do filho.

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Guilherme e o auxiliar técnico Alexandre Calado foram rendidos quando estavam na porta de uma padaria, preparando-se para sair para uma reportagem. Calado foi libertado ainda no sábado, por volta das 23h.

Entrevista ao "Fantástico"

Durante a noite de domingo Alexandre Calado deu uma entrevista ao "Fantástico" e revelou que ele e Guilherme ficaram a maior parte do tempo sentados no banco traseiro de um dos carros usados no seqüestro, parado no interior de uma garagem, num lugar que não soube identificar. Ele ficou o tempo todo de olhos vendados ou sentado virado para uma parede.

— Eles renderam a gente na porta da padaria e colocaram a gente dentro do carro que eu não sei identificar (um Vectra roubado, que depois foi incendiado por dois homens que chegaram numa moto, segundo testemunhas). Ficamos sempre de cabeça baixa, com a cabeça coberta — disse Calado, que depôs na madrugada de domingo ao Departamento Anti-Sequestro (DAS) paulista, que assumiu a investigação sobre o caso.

— Eles levariam qualquer um de uma das equipes da TV Globo. Podia ser eu, podia ser qualquer um que estivesse lá na hora — disse Calado, que está num hotel de São Paulo, descansando com membros de sua família.

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Depois que o Vectra roubado foi incendiado, os seqüestradores colocaram Calado e Portanova num Gol vermelho e seguiram para o cativeiro.

— Eu e o Portanova ficamos o tempo todo juntos no banco traseiro do carro — disse.

Quinze horas depois, Calado foi separado de Portanova.

— Daí eu saí desse carro (o Gol vermelho) e o Portanova ficou lá. Eles colocaram ele no porta-malas e me tiraram do carro. Aí eu fiquei na garagem sentado, virado para a parede. Algum tempo depois, fui colocado no porta-malas de outro carro e deixado aqui, a duas quadras da TV Globo — disse Calado.

Vídeo

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Ele disse que foi libertado na noite de sábado com a cópia do vídeo produzido pela facção criminosa paulista, no qual um homem encapuzado fala do sistema penitenciário e pede o fim do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).

— Eles me liberaram para trazer o material deles, as imagens feitas por eles, falando que a vida do meu companheiro, do Portanova, dependia dessas imagens (da divulgação das imagens na TV Globo) — disse Calado, no depoimento divulgado no "Fantástico".

TV Globo esclarece exibição de vídeo

A Rede Globo divulgou uma nota explicando que cumpriu a exigência dos seqüestradores sob orientação do International News Safety Institute (INSI), com sede em Bruxelas, e à The AKE Group, uma empresa especializada em gestão de riscos. Na semana passada, outra emissora de televisão havia recebido uma fita com teor semelhante, mas optou por não divulgá-la.

Entidades de imprensa divulgaram neste domingo uma nota conjunta em que manifestam a mais profunda preocupação com o episódio. De acordo com as entidades, a escalada do crime no Brasil deixa perplexa toda a sociedade .

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Guilherme Portanova trabalha na TV Globo de São Paulo há oito meses. Alexandre Calado é funcionário há cinco meses. A família do repórter, que é de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, veio para São Paulo.