O secretário do Paraná no Conselho de Desenvolvimento e Integração do Sul (Codesul), Santiago Gallo, afirma que o fato de o Paraná declarar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, como persona non grata no estado causa uma situação "ruim e constrangedora". "Na prática, o presidente da Venezuela não receberia nem seria tratado com honrarias de chefe de estado", diz ele, que foi coordenador de Assuntos Internacionais e do Mercosul da Secretaria de Estado de Indústria. "É uma situação complexa. Mas quanto às relações comerciais, não atrapalha em nada", completa.
Chávez foi declarado persona non grata pela Assembléia Legislativa nesta semana, apesar das relações que mantém com o governo do estado. "Os convênios continuam e não muda nada", afirmou Jacir Bergmann II, secretário de estado de Relações Internacionais e Cerimonial.
Segundo informações do Executivo paranaense, o estado exportou, em janeiro deste ano, US$ 93 milhões para países do Mercosul, entre eles a Venezuela, que se integrou ao grupo. As importações no mesmo período alcançaram US$ 54 milhões.
Segundo a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), as exportações do Paraná para a Venezuela em 2006 somaram US$ 244 milhões. Em 2005 foram em torno de US$ 185 milhões.
Em relação a acordos comerciais entre Paraná e a Venezuela especificamente, as relações se intensificaram em novembro de 2005, quando o governo paranaense organizou uma missão empresarial a Caracas. De acordo com o estado, a missão contabilizou negócios de US$ 115 milhões. No início de 2006, Chávez veio ao Paraná trazendo empresários venezuelanos. Esse novo encontro empresarial teria somado mais US$ 112 milhões em negócios. Ainda segundo a administração estadual, entre 2003 e 2006 a Venezuela elevou suas compras junto ao Paraná de US$ 28 milhões para US$ 244 milhões.
A Secretaria de Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul informou que mais de 500 pequenos e médios empresários paranaenses têm fechado negócios com os venezuelanos nos últimos anos. Segundo o secretário Virgílio Moreira Filho, 95% dessas empresas são de pequeno porte.
O governo do Paraná anunciou também que vai pedir ao presidente da Venezuela que amplie a cota de uréia exportada pelo Paraná. Segundo Eduardo Requião, superintendente do Porto de Paranaguá, o fertilizante venezuelano é considerado um dos melhores do mundo e é usado nas lavouras de cana-de-açúcar, cuja produção nacional para a safra 2006/2007 está estimada em 475,7 milhões de toneladas. No início do ano, foi assinado um acordo comercial que dá preferência aos navios vindos da Venezuela para atracar no porto, desde que anunciados com 15 dias de antecedência e com mais de 25 mil toneladas de mercadoria.
Ao ser declarado persona non grata, o cidadão, além de não receber honrarias, homenagens, participar de sessões solenes e ser indicado para títulos honorários, pode ainda ser impedido de entrar no território que lhe concedeu tal moção ou ser expulso caso cometa algum ato de desrespeito a algum cidadão ou autoridade. Esses fatores, porém, para que tenham validade, deveriam estar incluídos no requerimento que, posteriormente, seria enviado a consulados e à Embaixada da Venezuela em Brasília e ao Itamaraty. Nenhum desses casos, no entanto, é o do Paraná.
O próprio autor do requerimento, deputado estadual Ney Leprevost (PP), diz que não tinha essa intenção ao apresentá-lo na Assembléia Legislativa. "Quis apenas marcar posição e mostrar que as relações com o presidente da Venezuela são por parte de setores do governo do estado. Nem todos os paranaenses aprovam as atitudes de Hugo Chávez e muitos o vêem como ditador e não aprovam suas ações contra, por exemplo, a liberdade de expressão, assim como eu", diz.
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