Guilhermina Guinle no papel da socialite Alice, em "Paraíso Tropical"| Foto: Reprodução www.globo.com/paraisotropical

Nova carta acirra a briga interna

A briga interna no governo Requião teve ontem mais um capítulo: a divulgação de uma carta do presidente do Conselho de Administração da Sanepar, o advogado Pedro Henrique Xavier (PHX), na qual ele critica as atuações da atual procuradora-geral do Estado, Jozélia Broliani, e do ex-procurador-geral do Estado Sérgio Botto de Lacerda. Tanto Jozélia, indicada ao cargo por Botto, quanto o ex-procurador-geral reagiram indignados ao texto de PHX.

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O governador Roberto Requião (PMDB) autorizou e tinha total conhecimento das negociações para que a Copel comprasse as ações da Sanedo (antiga Vivendi) no consórcio Dominó, o sócio privado da Sanepar, com 39% das ações. A afirmação é do ex-procurador-geral do Estado Sérgio Botto de Lacerda, que, uma semana após divulgar a bombástica carta na qual chama Requião de desleal, conversou com a reportagem da Gazeta do Povo. Ele também esclareceu detalhes sobre o que pretendia dizer em alguns trechos do texto.

Botto, que até se demitir do governo na semana passada era membro do Conselho de Administração da Copel, foi convidado para advogar a favor da Sanedo na negociação de compra de ações dela pela Copel. Ele recusou o convite. Mas o fato vazou para a imprensa. E Botto passou a ser acusado de estar negociando contra os interesses do estado para uma multinacional francesa. "Eu jamais interferi nesse negócio da Copel para ser contra a Copel. Muito pelo contrário. Enquanto eu era presidente do Conselho de Administração da Sanepar (até março deste ano), eu e o Rogério Distéfano (então conselheiro e diretor-jurídico da empresa) quase fechamos esse negócio. Não deu tempo devido a alguns detalhes, porque eu saí (do Conselho)", afirma Botto.

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Segundo ele, o representante da Sanedo, Marlik Bentabet, ao qual Botto se refere como "o francês", veio a Curitiba em agosto deste ano e o procurou dizendo que não tinha interlocutor para tratar com o governo.

"Eu disse que não era mais ninguém no governo, mas que poderia levá-lo ao Requião. E fiz isso. Houve uma reunião na Granja Cangüiri (casa do governador). Um queria vender e o outro comprar; que se falassem. Na seqüência, outra reunião, que definiu o negócio, regada a uísque, ocorreu na casa do Requião, no Bigorrilho. Foi no dia 10 de setembro. O Caíto Quintana (deputado estadual e ex-chefe da Casa Civil), também estava lá", revela Botto.

De acordo com o ex-procurador, Requião disse que qualquer problema era para falar com ele (Botto). "Mas eu não aceitei isso. Disse que ficaria apenas como uma espécie de telefonista nesse caso." Segundo Sérgio Botto, depois veio a proposta de Bentabet a ele. "Mas recusei. Só que minha recusa não poderia ser desaforada. E, em uma reunião na Copel, ele levou minutas do contrato em um pen-drive. E o pessoal da Copel teve acesso e entregou para a imprensa." O caso, então, tornou-se público.

Na opinião do ex-procurador, com essa atitude, seus "algozes" cometeram injustiças e erros graves. "Tentaram me crucificar e puseram o negócio a perder. Revelaram o que era segredo, documentos confidenciais. Mas como o propósito era um fuzilamento alegórico contra mim, tiveram tal atitude. Só que se esqueceram que minhas interlocuções sempre foram na frente do Requião e essa tratativa de venda era algo capitaneado pelo governador."

Botto ainda afirma que o governador conhece a participação dele no negócio e que, por isso, não há por que temer qualquer investigação da Copel contra ele. A Agência Estadual de Notícias, na semana passada, divulgou que a estatal de energia iria investigar a conduta de Botto como membro do Conselho de Administração. "Não agi contra a Copel, jamais. A Copel e o governador queriam o negócio. Minhas interlocuções eram públicas, porque a Copel também sabia. Segundo o Marlik, não havia outro interlocutor confiável. Disseram que eu sou membro do Conselho de Administração da empresa. Mas não reassumi. Não fui às reuniões. Aquela foi uma nota patife, infeliz e maldosa. Claro que, provavelmente, feita com a concordância do Requião."

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O ex-procurador conta ainda que já havia avisado à secretária do Conselho que não iria às reuniões. "E é verdade que nunca fui. Tanto que, nessa última segunda-feira, devolvi à companhia pouco mais de R$ 31 mil corrigidos pela poupança, verba que havia sido depositada como se eu tivesse comparecido às reuniões."

Detalhes

Botto de Lacerda detalhou ainda um pouco mais sobre a carta de demissão, na qual chamou o ex-patrão de omisso, permissivo e desleal. Quando disse que havia ajudado Requião em poucas e boas sem ser remunerado, Botto afirma estar se referindo ao primeiro mandato de Requião como governador (1991–1994). Na ocasião, o governador passou por um processo de cassação por ter usado na campanha eleitoral a história de Ferreirinha, um suposto assassino de agricultores contratado por José Carlos Martinez, que disputava as eleições para o governo.

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) concluiu que houve crime eleitoral e cassou Requião. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) arquivou o caso com base na alegação de que o processo havia sido aberto tendo apenas Requião como réu. O vice-governador, Mário Pereira, que fazia parte da chapa, não era citado. Segundo Botto, quem criou essa tese jurídica foi o advogado Cláudio Lacombe. "E o Lacombe trabalhou para o Requião nesse caso a meu pedido, pois era meu amigo. Ele o atendeu de graça, pois cobrava muito caro."

O ex-procurador-geral afirma ainda que se arrependeu muito de ter voltado ao governo, já neste segundo semestre, após ter saído da administração estadual no primeiro. Ao se demitir pela segunda vez, ele ocupava a função de presidente do Conselho de Administração da Paranaprevidência, além ainda de ser membro do conselho da Elejor. "Voltei porque o governador me pediu. Só que a turma de militantes dele não pára de fazer armações", afirma Botto. Ele se refere principalmente a Pedro Henrique Xavier, atual presidente do Conselho de Administração da Sanepar, e a José Benedito Pires Trindade, assessor especial do governador, que atua como secretário de imprensa. "Quando saí pela primeira vez, tentei compreender a dificuldade dele (Requião) combater essa turma. Mas agora foi demais. Fui o principal auxiliar do governador e ele não teve a menor consideração."

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