Ao comentar mais uma vez o desprestígio do Paraná no orçamento da União, o governador Roberto Requião (PMDB) fez ontem uma acusação grave contra Paulo Bernardo, ministro do Planejamento. Segundo Requião, o petista teria proposto o superfaturamento de uma obra ferroviária com o objetivo de beneficiar a si mesmo e à empresa América Latina Logística (ALL). O ministro refutou as acusações.
Requião passou a atacar o ministro com mais afinco após reportagem da Gazeta do Povo do dia 17 deste mês mostrar que o Paraná é um dos estados que menos recebem recursos de custeio da União. O peemedebista se irritou com a declaração de Bernardo de que "falta empenho" do governo estadual para conseguir mais verbas. "O que significa brigar por recursos federais? Negociar posição política? Trocar apoio por financiamentos?", disse Requião ontem, na escola de governo reunião semanal transmitida pela TV Educativa. "Temos relações republicanas favoráveis com a maioria dos setores do governo federal", acrescentou.
O governador afirmou, sem citar datas, que Paulo Bernardo o procurou para pedir apoio para a liberação de recursos para a construção do ramal ferroviário Guarapuava-Ipiranga, que seria feita pela ALL em uma parceria público-privada. O valor da obra era de cerca de R$ 500 milhões, mas a Ferroeste a teria orçado em R$ 150 milhões, segundo Requião um superfaturamento de R$ 350 milhões. "A ALL não pagaria um tostão pela estrada e aplicaria, sem pagar, a anuidade da concessão da Rede Ferroviária Federal. Um presente de mãe", escreveu Requião na sua página no portal Twitter.
Bernardo nega as acusações e estuda processar o governador
O ministro Paulo Bernardo rechaçou as acusações do governador Roberto Requião disse que seus advogados vão estudar a possibilidade de processar o governador. "Em primeiro lugar, essa conversa foi há mais de três anos, com certeza. Como é que ele vem falar sobre isso só agora?" O ministro disse que visitou Requião a pedido dele. Segundo Bernardo, a ALL construiria a ferrovia com recursos próprios e depois teria um ressarcimento abatendo a concessão que paga anualmente ao governo federal. "O Requião disse que achou muito caro e ligou para o (Rogério) Tizzot (atual secretário de Transportes) e o questionou. Mas o valor também girava nos R$ 500 milhões. Nunca houve isso de R$ 150 milhões", declarou o petista.
A proposta da ALL, além de não agradar ao governo do estado, não tinha o apoio de setores produtivos paranaenses. Por causa disso, o governo federal se comprometeu a colocar no PAC a obra defendida pela Ferroeste, que era a construção de um novo ramal a partir de Guarapuava, mas passando por Irati e Lapa, e não por Ipiranga. "Achamos razoável. Mas o fato é que não fizemos nem um nem outro até agora", disse Bernardo.
O ministro criticou Requião por "falar mentiras" usando a estrutura do governo estadual. "Foi um espetáculo deplorável." Bernardo lembrou que, na semana passada, o governador foi condenado a pagar R$ 62 mil ao ex-ministro Euclides Scalco por tê-lo ofendido em uma reunião da escola de governo. "Pedi para os advogados avaliarem. Pois às vezes a pessoa bate, mas consegue esconder a cara", disse, sobre um eventual processo contra o governador.
No início da noite, a Agência Estadual de Notícias publicou documentos que, segundo Requião, comprovariam o superfaturamento. São listados documentos do Ministério do Planejamento de 2005, do Congresso Nacional e informações prestadas pela ALL em 2008 à Bovespa, que citam o valor da obra em R$ 220 milhões. Mas notícias da própria Agência Estadual de Notícias, de fevereiro de 2007, colocavam o valor da obra da ALL em R$ 500 milhões, e o proposto pela Ferroeste, em R$ 550 milhões.
Os ataques do governador ao ministro tomaram conta da sessão da Assembleia Legislativa e renderam até cenas inusitadas. O protesto dos petistas foi apoiado por partidos de oposição ao governo Lula, como DEM e PSDB.
"Esse tipo de posição não contribui em nada para o desenvolvimento do Paraná nem para o futuro de partidos aliados. Não se faz política destruindo os outros", declarou o presidente estadual do PT, Ênio Verri. "Nós somos adversários políticos, mas respeito o Paulo Bernardo pela sua história, é um vencedor porque era um humilde funcionário do Banco do Brasil e cresceu por competência", disse o líder do PSDB, Ademar Traiano. A ALL não quis comentar as declarações do governador.
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