O encontro fora da agenda entre os presidentes da República, Dilma Rousseff, e do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, em Portugal, piorou o ambiente das relações entre governo e oposição no Congresso Nacional. Os dois se reuniram na última terça-feira na cidade do Porto por intermediação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A versão de ambos é que a conversa tratou apenas do reajuste de 53% a 78,56% a servidores do Judiciário, aprovado pelo Senado no dia 30 de junho.
Quando você vê um encontro desses, num país estranho, a primeira coisa que vem à cabeça de qualquer brasileiro é: o que eles estão conversando?
Dilma teria apresentado uma série de planilhas a Lewandowski que comprovariam a impossibilidade de conceder o aumento, que geraria um gasto extra de R$ 25,7 bilhões em quatro anos. Parlamentares da oposição tem demonstrado, desde sexta-feira, desconfiança sobre o teor do encontro. A reunião só se tornou pública após reportagem do blog do jornalista Gerson Camarotti, no Portal G1, dois dias depois da conversa.
“Em primeiro lugar, é inadmissível um encontro desses, às escuras, fora do Brasil. Em segundo lugar, não dá para conceber que a presidente tenha procurado o presidente do Judiciário excluindo o Legislativo, que é quem vota o reajuste”, afirma o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR).
Secretário de Assuntos Internacionais do PSDB, o deputado federal Luiz Carlos Hauly (PR) diz que o partido está estudando tomar providências formais sobre o assunto. “Reunião de chefe de poder tem que ser feita em Brasília, à luz do dia. É mais um episódio que deixa o país estarrecido pela falta de espírito republicano”, diz ele.
Bueno e Hauly veem que o ambiente criado na reunião era propício para debater outros temas, como o alcance da Operação Lava Jato. “Quando você vê um encontro desses, num país estranho, a primeira coisa que vem à cabeça de qualquer brasileiro é: o que eles estão conversando? Ainda mais em um momento de crise, é muito inadequado”, afirma o parlamentar do PPS.
Dilma estava a caminho da Rússia e fez escala técnica em Portugal para reabastecer o avião presidencial. Lewandowski e Cardozo participavam de um seminário sobre Direito em Coimbra, cidade que fica 122 quilômetros ao sul do Porto.
“Essa notícia só veio à baila por um furo de reportagem, e o vergonhoso disso tudo é que esse furo foi dado por traição de assessores da presidente. Foi um encontro na calada da noite. Não havia necessidade”, disse em discurso o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI).
Em resposta, Erika Kokay (PT-DF) afirmou que o Parlamento não pode se pautar por “notícias que saem em blog”. “A presidenta da República tem o direito e o dever, eu diria, de conversar com os presidentes de outros poderes; isto faz parte da lógica republicana. Então, vamos preservar o caráter republicano da presidenta”, disse a petista.
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