Réus que desde o ano passado tentam fazer acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato estão sem perspectiva de terem colaborações aceitas pelo Ministério Público Federal (MPF), depois do acordo da Odebrecht. Presos na carceragem da Polícia Federal em Curitiba justamente para facilitar as conversas com procuradores, o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, e o operador de lavagem de dinheiro, Adir Assad, estão fora da agenda de negociações dos procuradores.
Até mesmo o ex-presidente do PP Pedro Corrêa (ex-PP-PE), que prestou depoimentos mas teve a homologação de delação recusada pelo STF, está sem prazo para retomada de conversas sobre sua colaboração.
Há vários motivos para a pausa nas negociações: há casos de réus que apresentaram informações consideradas insuficientes pela Lava Jato para ensejar uma redução de pena, outros tiveram problemas no curso da negociação, como vazamentos e falta de comprovações de fatos narrados. Segundo agentes que atuam na PF em Curitiba, o clima na carceragem é de desânimo.
Desde o segundo semestre do ano passado, o foco da Lava Jato é o processamento de episódios relatados pelos 77 executivos da Odebrecht em mais de 900 depoimentos, citando centenas de políticos de diferentes partidos, colaboração homologada no fim de dezembro.
Interlocutores de operadores que acreditam terem sido citados nos depoimentos da Odebrecht têm procurado a Lava Jato em Curitiba e Brasília e tido mais atenção do que os réus da carceragem da PF, pois poderão ajudar os procuradores em casos que marcarão a iniciativa anticorrupção nos próximos meses.
Paulo Preto
Um dos exemplos é o ex-diretor da estatal paulista Dersa, Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, citado por delatores como operador de propina para o PSDB em São Paulo. Ele demonstrou interesse em colaborar com investigações, e vem sofrendo pressões por isso. O recall das delações de empreiteiras e executivos da Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa também está à frente na lista de prioridades.
Os indícios de corrupção relatados pela Odebrecht devem ser encaminhados nas próximas semanas a procuradores e promotores de todo o Brasil, para que sejam transformados em inquéritos. O único preso na carceragem de Curitiba que ainda trata de sua colaboração com o MPF é o ex-presidente e herdeiro da empreiteira, Marcelo Odebrecht, que tem autorização para receber executivos e ex-colegas para discutir informações mencionadas no acordo com autoridades.
Preso desde abril de 2015 e condenado a 20 anos de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção, o ex-presidente do PP Pedro Corrêa, foi quem esteve mais perto de fechar um acordo, mas agora está sem perspectivas. Em mais de 70 anexos entregues e aceitos pelo MPF, ele relatou bastidores da política nacional envolvendo dezenas de políticos.
Procuradores da Lava Jato avaliam que o dirigente fez um relato extenso de histórias do mundo político, mas não conseguiu entregar provas contundentes do que contou, o que preocupa seus advogados. O colaborador diz não ter mais o que informar, reduzindo a chance de homologação no STF.
O MPF chegou a anexar um dos depoimentos de Corrêa em denúncia contra o ex-presidente Lula, atribuindo ao petista diálogos que o colocavam no centro do loteamento de cargos na Petrobras. O político dizia que Lula tinha conhecimento dos desvios na Petrobras, o que o ex-presidente nega com veemência. Sem ser homologado, o depoimento do ex-político do PP não pode ser usado em ação penal.
Assad
Dono de empresas de fachada usadas para lavar dinheiro para empreiteiras, Adir Assad assinava contratos fictícios de engenharia e devolvia os recursos em dinheiro vivo, mediante pagamento de uma comissão. Ele foi investigado pela primeira vez no escândalo da Construtora Delta, em 2010.
Com a investigação na Lava Jato de mais empresas que usaram seus serviços, como Andrade Gutierrez e OAS, Assad voltou aos holofotes e, agora, tenta negociar um acordo que também envolva seu irmão, Samir. O operador afirma não saber quem eram os destinatários finais de recursos entregues por ele a empreiteiras. Mas prometeu ao MPF entregar informações sobre outros clientes do esquema de lavagem de dinheiro, além dos alvos da Lava Jato.
Citado como representante do PT na diretoria da Petrobras, o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque está unido ao ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, na desesperança de um acordo.
O primeiro, condenado a mais de 50 anos de prisão, prometeu entregar a sistemática de cartel e corrupção na Petrobras, além de informações envolvendo Lula e Dilma.
O segundo assinou termo de confidencialidade com procuradores, entregando anexos que mencionavam beneficiamentos a políticos como Lula, Dilma e os senadores tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra, atual ministro das Relações Exteriores. A negociação foi suspensa pela Procuradoria-Geral da República (PGR) depois que alguns de seus termos foram publicados na imprensa. Não há sinal de qualquer mudança neste quadro.