A edição desta semana da revista "Veja" traz reportagem de Marcio Aith que afirma que o banqueiro Daniel Dantas tem uma lista, produzida por um ex-militar americano que dirigiu a agência internacional de espionagem Kroll, de depósitos em paraísos fiscais em contas supostamente pertencentes ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, ao ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, a Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ao diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, e ao senador Romeu Tuma (PFL-SP).
A lista é parcialmente reproduzida pela revista. Os nomes dos bancos e os números das contas não são divulgados. Os valores correspondem aos saldos do primeiro trimestre de 2004. Segundo a lista, o presidente Lula teria tido US$ 38.552,23; Dirceu, US$ 36.255,36; Palocci, US$ 2.126.805; Gushiken, 902.105,08 euros; Thomaz Bastos, US$ 1.477.551,66; Paulo Lacerda, 1.121.002,09 euros; e Tuma, 1.109.056,51 euros. A revista se compromete publicamente a entregar a lista completa mediante requisição judicial.
Além da lista, Daniel Dantas também tem, segundo a revista, uma compilação de pedidos de propina e contratações e de pagamentos feitos para tentar "aplacar as investidas do atual governo sobre seus interesses". "Se o material for fruto de falsificação, Dantas vai afundar-se ainda mais na confusão policial na qual se meteu desde que contratou a Kroll para montar dossiês de seus adversários dentro do governo". O banqueiro é entrevistado, na mesma edição, pelo colunista Diogo Mainardi, a respeito dos supostos achaques sofridos do governo. A "Veja" diz que o "arsenal" de Dantas contra o governo é ainda maior do que o material que revista reproduz.
O nome de Dantas voltou à tona na crise política na semana passada, quando, na CPI dos Bingos, durante o depoimento do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) leu um documento no qual o banco Opportunity, de Daniel Dantas, se diz vítima de perseguição do governo Lula por ter se recusado a dar "dezenas de milhões de dólares", a partir de pedidos feitos em 2002 e 2003. O documento é uma carta que os advogados dele entregaram à Justiça americana. Ele está sendo processado em Nova York pelo Citigroup por fraude e negligência.
O americano que elaborou a lista se chama Frank Holder. Foi oficial, diz a revista, da inteligência da Força Aérea americana. Trabalhou em seguida na seção de assuntos latino-americanos da Agência Central de Inteligência (CIA) no início da década de 90. Saiu da agência para abrir sua empresa de investigação, que em 1998 foi comprada pela Kroll. Foi ele quem supervisionou o levantamento sobre o governo encomendado pela Brasil Telecom. "Foi nesse período que conheceu Dantas e saiu-se com a lista das supostas contas dos petistas em paraísos fiscais".
O americano deu duas versões para a confecção da lista. A reportagem diz que a primeira é oriunda da investigação da quebra da empresa italiana Parmalat e teria sido fornecida por autoridades judiciais de Milão. A reportagem afirma ter checado com as autoridades do caso, que negaram. Confrontado com a negativa, o americano deu outra versão: a de que as contas foram obtidas por hackers trabalhando para o ex-ministro argentino José Luis Manzano, que trabalhou para o presidente Carlos Menem. "Manzano é freqüentemente acusado, em seu país, em manter uma equipe de investigadores privados para chantagear inimigos", salienta a revista. A reportagem afirma que Manzano, hoje dono do terceiro maior grupo de comunicações da Argentina, "confirmou 'ter entregue 'algumas contas de brasileiros' a Holder, como um favor pessoal, e autorizou seus funcionários a fornecer novos papéis que comprovariam como as contas dos petistas foram hackeadas". Nos papéis, diz a revista, os saldos eram maiores e também havia o nome de Duda Mendonça.
A revista afirma que submeteu o material de Manzano a perícia, e ele apresentou inconsistências, "mas nenhuma suficientemente forte para eliminar completamente" a possibilidade de os dados não serem verdadeiros.
Por causa do que chama de indefinição, a revista decidiu quebrar o acordo com o argentino e com o banqueiro, segundo o qual nem um nem outro apareceriam como fontes da reportagem se se pudesse comprovar a veracidade das contas. "Revelar agora que Dantas - e, por tabela, Manzano - está por trás de uma lista em que o presidente Lula aparece como dono de uma conta num paraíso fiscal viabilizará, acredita 'Veja', que investigações oficiais sejam abertas. Ao mesmo tempo, isso impedirá que o banqueiro do Opportunity venha a utilizar os dados como instrumento de chantagem".
Daniel Dantas perdeu o comando da Brasil Telecom para o Citrigroup, que o acusa nos Estados Unidos. "Ele se diz vítima de uma conspiração entre o governo petista, que o achacou, e o banco americano, que o perseguiria a pedido do próprio presidente Lula", diz a revista, para explicar a origem do documento lido por Arthur Virgílio na CPI dos Bingos. A revista diz ainda que "milhares de emails e documentos serão divulgados em breve", alguns relatando encontros de Lula com a direção do Citigroup, outros relatando "pedidos de propina feitos pelo PT a Dantas".
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