Apesar de ter declarado um patrimônio de R$ 1,8 milhão, o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), comprou, em 2014, metade de um terreno que vale R$ 56 milhões. A propriedade é localizada em Marialva, cidade a poucos quilômetros de Maringá, base eleitoral de Barros. Os documentos e as informações foram obtidos e publicados nesta sexta-feira (10) pelo repórter Rubens Valente, do jornal Folha de S. Paulo.
No ano da compra do terreno, Barros foi candidato à Câmara Federal. Já eleito deputado, ele apoiou, por meio de um requerimento, uma emenda ao Orçamento Federal que destinava R$ 450 milhões da União para o Contorno Sul Metropolitano, uma rodovia de 32 quilômetros que passa a três quilômetros do terreno de 1,3 milhão de metros quadrados, onde está prevista a construção de um condomínio de alto padrão.
A emenda orçamentária foi originalmente apresentada pela bancada do Paraná – que na época incluía a hoje vice-governadora Cida Borghetti (PP), mulher de Barros, que em 2014 declarou patrimônio de R$ 805 mil.
A Gazeta do Povo entrou em contato com o ministro, que não atendeu à reportagem. À Folha de S.Paulo ele disse que conseguiu comprar a cota da propriedade usando um empréstimo de R$ 13 milhões concedido pela empresa Paysage, sócia dele na aquisição.
Para efetuar a compra, Barros usou duas empresas que dividia (e posteriormente foram vendidas, assim como a parte dele no terreno) com Cida Borghetti; a MRC e a RC7, ambas com capital social que era equivalente a R$ 10 mil cada.
Sediada no escritório político do ministro, em Maringá, a MRC foi constituída 20 dias antes da divulgação do estudo de impacto ambiental da rodovia por parte da prefeitura.
“A obra do contorno Sul de Maringá é fruto de um convênio entre a prefeitura municipal de Maringá e o Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte] firmado em 2011, três anos antes da compra do terreno. Ou seja, no período da compra, a eventual valorização do terreno já teria ocorrido”, afirmou Barros à Folha.
Segundo a reportagem, desde 2016, Barros e Cida já não figuram mais como proprietários do terreno, mas, sim, como fiadores. Segundo explicação do ministro ao jornal, ele vendeu à Paysage suas duas empresas, o que levou à “quitação” do empréstimo de R$ 13 milhões.
“Em 3 de dezembro de 2015, a totalidade das quotas das empresas MCR e RC2 –RB01 foram transferidas à Paysage, em troca da quitação do empréstimo. A Paysage assumiu também os compromissos financeiros correspondentes à MRC e RC2 –RB 01”, disse a assessoria do ministro à Folha.
Resposta do Ministério
Em nota, o Ministério da Saúde afirma que a reportagem da Folha de S. Paulo induz os leitores ao erro. Segundo o texto, “toda a documentação e transações respectivas à aquisição de um lote de terras na região de Marialva, Paraná, estão declaradas e impostos pagos”.
Sobre a emenda parlamentar apresentada, a pasta afirma que o apoio se deu pela importância da obra viária para a região. “Vale destacar que a obra do contorno Sul sequer foi realizada até o momento. Ainda, por anos seguidos, a bancada destinou recursos para a região”, diz a nota.
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