Chefe da Secretaria de Imprensa no governo Lula, o jornalista Ricardo Kotscho criticou a atuação da presidente Dilma Rousseff em resposta à onda de protestos. Segundo Kotscho, em busca de uma saída, Dilma acabou por magoar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Michel Temer (PMDB) ao consultar o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso antes de ouvir os aliados que "ainda a apoiam no Congresso Nacional".
"No atropelo para virar o jogo, Dilma acabou magoando seus dois principais aliados, o ex-presidente Lula e o vice Michel Temer, ao mandar um emissário consultar Fernando Henrique Cardoso sobre a sua proposta de reforma política, antes de apresentá-la aos líderes dos partidos que ainda a apoiam no Congresso Nacional", escreveu Kotscho, em seu blog no portal R7.
Ex-assessor de imprensa de Lula, Kotscho chefiou por dois anos a comunicação do ex-presidente. Manteve o relacionamento com Lula mesmo depois de deixar seu governo. No texto do blog, publicado no sábado, Kotscho chama de "muito fraco" o ministério de Dilma. "Mais preocupada em montar uma cada vez maior base aliada para disputar a reeleição, me parece que Dilma perdeu o timing das mudanças necessárias em seu ministério, que é muito fraco, na virada do ano, quando se limitou a trocar seis por meia dúzia, trazendo de volta partidos varridos na faxina do primeiro ano de governo."
Kotscho não poupa a equipe de comunicação da presidente. Segundo o jornalista, "Dilma confiou demais nas pesquisas, nos comerciais e nos pronunciamentos produzidos por seu marqueteiro João Santana, sem dar a devida atenção para o que acontecia no mundo político do outro lado do Palácio do Planalto, no meio empresarial e na vida real dos trabalhadores e estudantes"."A comunicação do governo limitava-se à propaganda paga no rádio e na televisão. Enquanto os números mostravam índices favoráveis para a presidente, tudo bem, o marqueteiro tinha razão. Só que o governo não percebeu que os outros canais de comunicação com a sociedade estavam todos entupidos, sem funcionar em duas vias. O governo só falava, não ouvia. Quando o copo da insatisfação transbordou, o que movia as pessoas a sair às ruas não era um motivo só, mas o que minha mulher chama de "o conjunto da obra', a tal desatenção que pode ser a gota d'água, como na música do Chico", escreveu.
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