Os motivos que levaram o procurador-geral de Justiça, Rodrigo Janot, a solicitar abertura de inquérito contra o o governador Beto Richa (PSDB) no âmbito da Lava Jato ainda são desconhecidos, mas em pelo menos dois episódios o nome do tucano apareceu em situação suspeita relacionada à Odebrecht. O nome de Richa está na nova lista de políticos encaminhada por Janot ao Supremo Tribunal Federal na terça-feira (15). Como casos envolvendo governadores são julgados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), o pedido de Janot em relação a Richa será analisado pelo tribunal, junto com o de outros governadores.
Nesta quinta-feira (16), Richa falou pela primeira vez sobre o caso. Em entrevista coletiva, se disse “absolutamente tranquilo” e negou que a suas campanhas tenham recebido qualquer doação da Odebrecht. De fato, a empreiteira não aparece em nenhuma das prestações de contas oficiais das campanhas de Richa de 2010 ou 2014. Porém, Richa está entre os políticos citados em planilha apreendida no ano passado pela Polícia Federal na Operação Xepa, 26.ª fase da Lava Jato, no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht. Segundo a PF, esse seria o departamento responsável pelo pagamento de propina a agentes públicos e políticos.
Cervejaria laranja fez doações para o PSDB do Paraná
A referência ao governador do Paraná na planilha aparece em um pagamento para as eleições de 2010. No campo “nome do candidato” consta PSDB – Diretório Estadual do PR. Como beneficiário está o nome de Beto Richa. Há dois campos financeiros – “valor” (R$ 200 mil) e “pagamento” (R$ 160 mil) – e a indicação de uma data de pagamento, 24 de setembro de 2010.
Não há registro de doações da Odebrecht a Richa ou ao Diretório do PSDB em 2010. Porém, ocorreram duas doações para o Diretório estadual do PSDB de cervejarias do Grupo Petrópolis – que seria laranja da empreiteira para repasses eleitorais, segundo depoimento de Marcelo Odebrecht ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – exatamente na data indicada e nos mesmo valores que constam na planilha da Odebrecht.
O Grupo Petrópolis recebeu benefícios fiscais de Richa para atuar no Paraná em 2014. A empresa conseguiu incluir três projetos industriais no programa Paraná Competitivo. Dois deles não vingaram e recentemente foram excluídos do programa, mas um ainda recebe os benefícios.
O projeto em vigor é referente ao arrendamento e reativação de duas unidades de processamento de soja da Imcopa – uma em Araucária e outra em Cambé. Procurada pela Gazeta do Povo no início de março, a Secretaria de Estado da Fazenda informou que o projeto referente à Imcopa está em operação e que a empresa está sendo beneficiada pelos incentivos do Paraná Competitivo acertados no contrato de adesão ao programa.
Currículo de Richa foi compartilhado por secretária de Odebrecht
O nome de Richa também já havia aparecido em outro contexto nas investigações da Lava Jato. O tucano teve o nome mencionado em três e-mails trocados durante a campanha de 2010 entre a secretária-executiva do empreiteiro Marcelo Odebrecht, Darci Luz, e as secretárias de presidentes de três grandes empresas: Gerdau, Bunge e Suzano. No intervalo de 16 dias, a campanha de Richa recebeu R$ 580 mil reais das empresas que receberam os e-mails da secretária de Marcelo Odebrecht.
Enviados no dia 9 de agosto de 2010, ano em que Beto Richa concorreu pela primeira vez ao governo do estado, os e-mails referentes ao atual governador continham o currículo dele, com informações que vão desde a formação acadêmica até ações da prefeitura de Curitiba no período em que comandou a capital. Na ocasião, Richa não governava o estado; era candidato ao Palácio Iguaçu. A secretária Darci afirma que as mensagens estavam sendo enviadas a pedido do próprio Marcelo Odebrecht.
Odebrecht no Paraná
As empresas que receberam e-mails com o currículo do governador, e a própria Odebrecht, têm interesses e negócios no Paraná. A Odebrecht, por exemplo, tem um investimento no Paraná com a construção da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu, entre Capitão Leônidas Marques e Capanema, na região Oeste.
A empreiteira também encabeça o Consórcio Rota 323, responsável pela duplicação do trecho da rodovia PR-323 entre Paiçandu e Francisco Alves, no Noroeste do estado. A obra está envolvida em um imbróglio administrativo.
Em meio ao escândalo da Lava Jato, a Odebrecht não conseguiu financiamento para tocar o projeto e foi solicitado pelo consórcio para que a empreiteira saísse na composição da sociedade. Porém, com base em um parecer da Procuradoria-Geral do Estado, o conselho negou a mudança societária, mas até hoje não houve uma solução final para o caso. está parado e a rodovia se deteriora. A Odebrecht é responsável por 70% do consórcio.
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