“Acho que com diálogo. Sempre fui aberto ao diálogo. Sempre me considerei um democrata, nunca tive dificuldade alguma em conviver com o contraditório”, disse o governador.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O governador Beto Richa (PSDB) deu entrevista nesta quarta-feira sobre os eventos do dia no Centro Cívico. Culpou “black blocs” e disse que a polícia apenas se defendeu. Veja a íntegra da entrevista, concedida no Chapéu do Pensador:

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Qual sua visão sobre o confronto entre policiais e manifestantes?
Primeiro que a solicitação de presença de policias, de segurança no prédio da Assembleia veio do Judiciário, uma determinação que nós cumprimos. A estratégia técnica sobre número, contingente de policiais, qual seria a formação na Assembleia, isso cabe à polícia e ao secretário de Segurança Pública. E as informações, os relatos que recebo são de que os policias fizeram um cordão de isolamento ao prédio de Assembleia Legislativa, em respeito a essa instituição democrática que não poderia ser invadida como aconteceu da vez passada, o pânico que se instalou no plenário da assembleia, o risco que corriam os deputados na sua integridade física, na sua vida, na sua segurança, os funcionários e os próprios manifestantes.

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Veja como foi, em tempo real, a ‘Batalha do Centro Cívico’

E já tínhamos confirmado ontem a presença de integrantes do movimento Black Blocs, que hoje se confirmou. Temos sete deles presos, outros identificados, portanto mochila com pedras de petit pavê, barras de ferro, coquetéis molotov que estavam sendo preparados para serem atirados em cima dos policiais, e o relato que recebo é que na medida em que eles agrediam e partiam para cima dos policias e uma das vezes com a cerca de contenção, aquela cerca de ferro no peito policiais, obviamente reagiram até para defender suas integridades física, uma reação até natural.

Mas eu orientei o secretário de Segurança, os comandantes da Polícia Militar que a polícia evitasse ao máximo o confronto, que evitasse ao máximo agressões e que ninguém saísse ferido. Esse era o nosso desejo. E pedi ontem pelos veículos de comunicação que os manifestantes mantivessem o discernimento, não partissem para cima da polícia tentando invadir a assembleia e evitar esse confronto. Mas lamentavelmente tinha pessoas com outros objetivos, e não com os objetivos nobres de manifestação de qualquer um.

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Eu sou um político democrático. Ainda mais se tratando de professores, que sempre mereceram meu respeito. Afinal de contas, o meu governo é o que concedeu o maior aumento salarial da história do Paraná aos professores. Eu acredito que é o maior aumento do Brasil: 60% de aumento salarial nos últimos quatro anos. Ampliamos a hora-atividade, que é o tempo que eles ficam fora de sala para corrigir provas, preparar o material, em 75%. Curso da Vizivali, alimentos que melhoraram na merenda escolar, triplicamos o repasse da merenda escolar, então nem havia justificativa para essa paralisação.

Agora, a maldade do sindicato, a irresponsabilidade, disseminando por aí que os servidores ficariam sem aposentadoria... Ora, eu não mereço essa injustiça. Um governo que tão bem tratou os professores. E quando eu assumi o governo deixou o fundo previdenciário com R$ 4 bilhões, hoje são R$ 8 bilhões. E a solvência que o Requião me deixou no Fundo Previdenciário era de dez anos, essa proposta joga para 29 anos. Com o aporte previsto em 2012 de R$ 1 bilhão de royalties de Itaipu nós esticamos essa solvência para 35 anos. Além da comissão de estudo formada paritária entre servidores e governo para encontrar outras formas de capitalização, com imóveis do governo, com fontes de recurso. O risco de perder a aposentadoria é zero.

Ao contrário, nunca esteve tão sólido, É o fundo, resumindo, mais capitalizado do Brasil. Estamos estudando, mas me parece que o que mais se aproxima do Paraná tem um terço de recursos financeiros do que tem o nosso Fundo Previdenciário. Então, não tem risco algum. E em última instância, o governo é responsável pelo pagamento dos salários de todos os servidores, ativos e inativos.

Mas o que o sr. tem a dizer sobre as cenas de violência?

Repórter fotográfico da Gazeta do Povo foi atingido por um estilhaço.
Deputado estadual Péricles de Mello (PT) transita entre os manifestantes.
Manifestantes ocupam o Centro Cìvico
Um cordão de isolamento de policiais na rua Lysimaco Ferreira da Costa fez com que os manifestantes passassem ao Centro Cívico em conta-gotas.

É lamentável. Não dá para negar que temos algumas cenas chocantes, indesejáveis. Mas lamentavelmente a presença de baderneiros, arruaceiros, black blocs que radicalizaram, partiram para cima dos policiais. E é uma defesa natural: eles reagiram para preservar as suas integridades físicas e as suas vidas. Temos hoje mais de 20 policiais feridos. E a determinação foi do Judiciário, para preservar a Assembleia Legislativa e a função dos deputados eleitos legitimamente para representar cada um dos paranaenses. Uma invasão à Assembleia novamente representaria uma afronta à democracia. E esses radicais acabaram buscando o confronto com os policiais.

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Mas a possibilidade de excesso dos policiais vai ser apurada?

Sim, vamos apurar. Todos os relatos que recebi não dão conta disso. Mas podemos apurar, sim. Até porque insistentemente há dias eu peço controle, evitar a o máximo o confronto. E agressões então nem se falar. Evitar ao máximo essa situação. Agora, os filmes que eu assisti, agressões de manifestantes radicais, black bloc, chutando o calçamento do Centro Cívico para tirar aquelas pedras de petit pavê, enchendo as mãos, atirando nos policiais. Uma pedra daquelas na cabeça mata na hora. Então, a reação que eu vi nos filmes que eu assisti, foi realmente de proteção das próprias vidas dos policias. E vamos apurar, sim. Até porque qualquer excesso é condenável, de qualquer uma das partes.

Quem o sr. acha que está por trás desses atos?

Não há dúvida de que um sindicato, com outros interesses político-partidários. Eu enfrentei a reação desse sindicato em muitos municípios por onde passei ao longo desses quatro anos, com o aumento que dei para os professores de 60% no salário dos professores. Então, veja só que a motivação é outra. A ex-presidente desse sindicato foi candidata do PT nas últimas eleições a deputada federal. Fez vinte e pouco mil votos. Então, lamentavelmente sempre procuraram criar dificuldades que não existiam entre o nosso governo e a classe dos professores. Mas é só consultar o contracheque: 60%em quatro anos, 75% de ampliação na hora atividade, curso da Vizivali que eles aguardavam há dez anos, 30 mil professores angustiados, em seis meses nosso governo reconheceu. Tudo que foi solicitado foi atendido. E nessa nova pauta de reivindicações da última greve do mês passado novamente: terço de férias pago, progressões e promoções programados para maio e junho, serem pagos em duas parcelas, tudo programado e tudo já honrado. Então não tinha razão para essa paralisação. Infelizmente muitos professores acreditaram nas maldades e irresponsabilidades mentirosas ditas pelo sindicato aos professores.

E como resolver isso?

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Acho que com diálogo. Sempre fui aberto ao diálogo. Sempre me considerei um democrata, nunca tive dificuldade alguma em conviver com o contraditório. Isso já existiu no Paraná, mas não comigo. Nós mudamos essa triste realidade da truculência, das bravatas, do desrespeito. E nós convivemos com opiniões contrárias, sem problema algum. Isso até nos enriquece. Ajuda a aprimorar as nossas ações e as nossas propostas para o estado do Paraná. E acho que com o diálogo e continuando com esse respeito e valorização aos professores e a todos os paranaenses, com diálogo a gente constrói uma boa relação.

O senador Alvaro Dias (PSDB) até hoje paga um preço caro por um confronto no governo dele entre PMs e professores. O sr. acha que os fatos de hoje prejudicam sua imagem?

Pode ser, mas eu não tenho medo. A minha popularidade pode oscilar, o que não pode oscilar é a coerência. Tenho responsabilidades com o estado do Paraná. E olhe, eu não fujo dessas responsabilidades. A obrigação de todo governante responsável não é ficar se preocupando em o tempo todo ficar apresentando medidas simpáticas, populares que lhe garantam uma grande aprovação popular. Temos também que ter coragem quando se apresenta a situação de apresentar medidas impopulares muitas vezes, mas imprescindíveis para o futuro do Paraná e dos paranaenses. E é o que eu estou fazendo. Mesmo porque se não aprovasse hoje essa proposta, e estou otimista de que vai ser aprovada, de reestruturação do sistema previdenciário do Paraná, a projeção é de que nos próximos cinco anos teremos mais 30 mil aposentados, mais R$ 200 milhões para os cofres do Paraná. Não tem como pagar essa conta. E eu não vou empurrar com a barriga. Estou colocando em risco minha popularidade e minha imagem política para ser responsável com o Paraná e com o nosso povo.

Quem são os culpados do confronto?

É duro encontrar culpados nesse momento, mas volto a insistir, radicalizaram os black blocs, é o estilo deles. Não tem nada a ver com os professores, nem sabiam o que estava sendo votado na Assembleia Legislativa, foram lá para promover arruaça, baderna, tentar invadir a Assembleia para depredar o patrimônio público. E é minha obrigação e sempre agirei em nome da paz, da tranquilidade e da ordem no estado do Paraná. Então é duro encontrar culpados, mas vamos fazer todos os levantamentos, tem muitas imagens que foram registradas das cenas chocantes do dia de hoje, e vamos fazer o levantamento para tentar identificar eventuais culpados ou excessos que possam ser cometidos dos dois lados.

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As finanças do estado estão em estado muito grave?

Não. Olha, o que eu anunciei no começo deste ano está se confirmando. Que eu falei que aproximando o segundo semestre, as contas iam reagir e confesso a você que está reagindo além das nossas expectativas até. Algumas obras que estavam lentas já estão sendo aceleradas, algumas obras paradas já foram retomadas e o pagamento de muitos fornecedores do estado. E eu disse também no começo do ano que o Paraná seria um dos primeiros estados com esse conjunto de medidas de ajuste fiscal a sair dessa crise, que é uma crise financeira nacional em função principalmente da estagnação da nossa economia.

Então esse projeto vem sim contribuir para que tenhamos mais vigor nas finanças do estado e fazer os investimentos. O estado não foi feito só para pagar salário dos servidores. Daqui a pouco administrações públicas municipais e estaduais, no ritmo que vai a coisa, 100% da arrecadação vai para a folha de pagamentos. E onde ficam os investimentos em educação, saúde, segurança pública, obras de infraestrutura, transporte e logística.

Então estamos agindo com responsabilidade, com muito equilíbrio na destinação dos recursos públicos do Paraná. E temos à gente da Secretaria da Fazenda uma pessoa com a qualificação, a capacidade técnica do Mauro Ricardo, que é reconhecido nacionalmente. Essas propostas foram construídas com ele, muitas iniciativas dele e está dando certo para o Paraná. E o benefício, o retorno serão obras e políticas públicas que trarão qualidade de vida para os paranaenses.

De onde veio essa retomada?

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Em função das iniciativas já realizadas. A recomposição de alíquotas de alguns impostos, dentro da média que é praticada no Brasil. O Cadin, que já foi aprovado, a nota fiscal paranaense, eliminamos cinco estruturas de secretarias de Estado, enxugando a máquina, eliminamos há um ano e meio mil cargos em comissão, tanto é que num levantamento o IBGE apontou que o Paraná tem o menor número de cargos em comissão no Brasil. Então, fizemos a nossa parte, nós demos o exemplo para pedir também o esforço da sociedade paranaense.