A ausência do prefeito Beto Richa (PSDB) na escolinha de governo de ontem mostrou que a prefeitura de Curitiba e o estado se reaproximaram institucionalmente, mas ainda não a ponto de fecharem uma aliança política para as eleições de 2010. Richa havia sido convidado pelo governador Roberto Requião (PMDB) para a solenidade de sanção da lei estadual que perdoa uma dívida de R$ 464 milhões que Curitiba tinha com o governo do estado.
O prefeito não compareceu. Preferiu participar de uma confraternização de fim de ano com servidores municipais, na sede da prefeitura. Mas enviou uma carta ao governador agradecendo a anistia da dívida. Também mandou o vice-prefeito, Luciano Ducci, para representá-lo. Acompanharam Ducci o secretário municipal de Governo, Rui Hara, o procurador-geral do Município, Ivan Bonilha, deputados tucanos e outros aliados.
Motivo do rompimento
A dívida anistiada havia sido a justificativa para o governo bloquear o acesso da prefeitura de Curitiba a recursos do Fundo de Desenvolvimento Urbano (FDU) desde outubro de 2006 quando Richa apoiou a candidatura do senador Osmar Dias (PDT) ao governo do estado, que na época era o adversário do então candidato à reeleição Roberto Requião. Desde então, Richa e Requião estavam rompidos politicamente.
Na época, o governo estadual alegava que a prefeitura não poderia pedir dinheiro do FDU por não quitar o débito, contraído para a implantação da Cidade Industrial de Curitiba, na década de 70.
Primeiro passo
O perdão da dívida é considerado por uma ala do PMDB, composta principalmente por deputados estaduais, como o primeiro passo para uma aproximação eleitoral com o PSDB, a fim de apoiar a candidatura de Beto Richa ao governo do estado.
O prefeito Beto Richa, após a escolinha, em entrevista à Rádio CBN, afirmou que não é segredo para ninguém que há lideranças do PMDB que pretendem caminhar junto com os tucanos numa aliança para o governo do estado. Mas disse também respeitar a candidatura do vice-governador Orlando Pessuti (PMDB). Apesar disso, ele enfatizou que, se a candidatura peemedebista não se concretizar, a legenda seria bem-vinda numa coligação com os tucanos.
Ironia
Requião, entretanto, foi irônico sobre a ausência do prefeito na escolinha, indicando que os dois ainda têm arestas a aparar se quiserem caminhar juntos em 2010. "O Beto não está aqui. Mas, afinal de contas, eliminar uma dívida de R$ 450 milhões é tão banal que provavelmente ele tinha alguma coisa mais importante para fazer", disse o governador.
Luciano Ducci considerou que sua presença na solenidade teve apenas caráter administrativo. "Havia uma controvérsia judicial a respeito dessa dívida. A atitude do governador, de extinguir a dívida, é importante para não só para Curitiba, mas para outros municípios, porque possibilita buscar recursos do Fundo de Desenvolvimento Urbano."
O líder do prefeito na Câmara dos Vereadores, Mário Celso Cunha (PSB), afirmou que, se Richa tivesse ido pessoalmente à Escola de Governo, o evento seria interpretado como uma forte reaproximação entre os dois grupos políticos. "Mas é claro que essa boa vontade é uma manifestação de aproximação."
O vice-governador Orlando Pessuti, pré-candidato à sucessão estadual, também afirmou que a anistia não significa uma aproximação com o PSDB. "Prefeitos de vários partidos foram beneficiados pela medida", afirmou Pessuti. "Eles estavam impedidos de endividamento por conta de empréstimos que tiveram de fazer para adquirir terrenos e cedê-los a empresas multinacionais, fruto de uma política induzida pelo estado. Hoje é impossível que consigam pagar essas dívidas."
Além de Curitiba, também tiveram débitos perdoados as prefeituras de Araucária, Campo Largo, Fazenda Rio Grande, Londrina, Maringá, Piên e São José dos Pinhais. Aprovada pela Assembleia Legislativa no final do mês passado, a lei anistiou débitos que totalizam R$ 960 milhões.
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