“A lei [que determina reintegrações de posse de áreas invadidas] tem que ser acatada, cumprida. E o governador tem que ser o primeiro a dar o exemplo.” Beto Richa, candidato ao governo do estado pelo PSDB| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

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As divergências entre Beto Richa (PSDB) e Osmar Dias (PDT) sobre questões-chave para o agronegócio são pontuais. Em linhas gerais, ambos defendem os mesmos projetos, da reforma no Código Florestal aos investimentos no Porto de Paranaguá.

Propriedade privada

Beto Richa

As reintegrações de posse serão cumpridas imediatamente após a determinação judicial. A preferência seria pela saída pelo entendimento.

Osmar Dias

Como determina a Constituição, os mandados de reintegração serão cumpridos pelo governo, mesmo contra interesses de organizações não governamentais ou partidos políticos.

Código Florestal

Beto Richa

O candidato elogia o parecer do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB) que flexibiliza as atuais regras ambientais. Segundo ele, a legislação atual deixa 90% dos produtores na ilegalidade.

Osmar Dias

O produtor sabe a importância da preservação, diz o candidato. Propriedades com até 150 hectares não devem ser obrigadas a ter reserva legal de 20% da área – ao contrário do que diz a legislação atual.

Estradas

Beto Richa

O candidato promete prioridade para duplicar a BR-277 entre Cascavel e Medianeira e a conclusão da Estrada da Boiadeira.

Osmar Dias

As concessionárias do pedágio precisam mostrar quanto arrecadam e quanto investem em cada região. Ele promete ainda recuperar 100% das estradas rurais.

Porto de Paranaguá

Beto Richa

Diz que a gestão do porto precisa mudar. Promete a dragagem e garante que não vai haver privatizações.

Osmar Dias

O porto precisa ser ampliado e modernizado, diz o pedetista. Ele defende a dragagem no Canal da Galheta.

Transgênicos

Beto Richa

A posição do governo Requião, que tentou impedir o plantio no estado, é criticada. Richa diz ser a favor da transgenia.

Osmar Dias

O candidato pedetista avalia os transgênicos como uma opção de cultivo, que não deve ter interferência ideológica.

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O candidato ao governo do Para­­­ná pelo PSDB, Beto Richa, colocou ontem pela manhã seu principal oponente na disputa pelo Palácio Iguaçu, o senador Osmar Dias (PDT), em uma saia-justa, diante de 450 produtores rurais do estado. Sem citar o nome de Osmar, Richa insinuou que seu oponente, ao dar palanque no Paraná à candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT), estaria incentivando ocupações do MST, movimento social tradicionalmente aliado dos petistas.Osmar Dias, que participou à tarde do mesmo debate de produtores com candidatos, promovido em Curitiba pela Federação da Agricultura do Paraná (Faep), teve de desmentir a insinuação. Ele garantiu que, se for eleito governador, não vai mudar de posição por ter o apoio do PT na campanha.

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A atual aliança de Osmar com o PT e com o PMDB vem causando desgastes contínuos a Osmar e deve ser uma das principais armas dos tucanos contra o pedetista nesta eleição. No início do mês, quando formalizou a coligação, Osmar teve de justificar as razões de estar aliado atualmente ao ex-governador Roberto Requião (PMDB), contra quem disputou o governo em 2006. Na ocasião, os dois trocaram acusações pesadas. Ontem, foi a vez, ainda que indiretamente, de Osmar ser questionado sobre sua relação com o PT.

Inflamação tucana

Um dos momentos de maior inflamação no discurso de Beto Richa aos produtores rurais foi a defesa do direito à propriedade privada. O tucano prometeu jogar duro com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Disse que em seu governo as reintegrações não serão deixadas de lado. Esse foi o momento de sua apresentação mais aplaudido. "A lei tem que ser acatada, cumprida. E o governador tem que ser o primeiro a dar o exemplo", afirmou. Segundo dados da Faep, há 82 propriedades rurais invadidas no Paraná cujos proprietários esperam reintegração de posse. Não há levantamento sobre quantos mandados foram expedidos pela Jus­­­tiça.

Sem citar nomes, Richa criticou o ex-governador Roberto Requião por não ter cumprido as reintegrações imediatamente. E aproveitou para, indiretamente, criticar Osmar Dias. "Queria deixar claro que o meu candidato à Presidência é José Serra (PSDB)", disse. Logo em seguida, Richa lembrou uma frase do líder nacional do MST, João Pedro Stédile: segundo o coordenador do movimento, um possível governo Dilma incentivaria as ocupações de terra no país. O tucano então complementou dizendo que "de pouco adiantaria" apresentar propostas para a agricultura, mas dar palanque à candidata de um partido que é "simpático a invasões de terra".

Richa também criticou indiretamente o governo Requião, atual aliado de Osmar, ao condenar a Força Verde, destacamento da PM especializado no combate a crimes ambientais. Segundo ele, em um governo seu os produtores seriam respeitados pela polícia e não haveria "terrorismo".

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Resposta de Osmar

À tarde, Osmar Dias teve de se explicar aos produtores rurais. Disse que, por ele mesmo ser um produtor rural, quer ver cumpridas todas as reintegrações expedidas pela Justiça. Negou qualquer apoio a invasões e garantiu que vai cumprir decisões de reintegração emitidas pela Justiça. Ele argumentou ainda que isso está previsto na Constituição e que Dilma também já se comprometeu a combater as invasões de terra.

À noite, já fora do evento da Faep, durante a inauguração do comitê pró-Osmar que reúne cinco centrais sindicais, o pedetista elevou o tom em relação às insinuações de Richa. Desferiu críticas ao tucano, sem citar o nome dele. E contra-atacou tentando "colar" em Richa a imagem de "privatista".

"Me perguntaram se essa coligação com o PT e o PMDB não ia trair os agricultores. Eu disse que não", afirmou Osmar. "Quem traiu a população de Curitiba foi quem prometeu ficar quatro anos na prefeitura e só ficou um. Traiu a população do Paraná quem estava na Assembleia [Legislativa do Paraná] e votou pela venda do Banco do Estado [Banestado], que deixou um rombo nos cofres públicos. Traiu quem tentou vender a Copel", disse Osmar, se referindo a Richa.

O tucano era deputado estadual quando o Banestado foi vendido e quando o então governador Jaime Lerner tentou privatizar a Copel. E, antes de ser reeleito prefeito da capital, em 2008, Richa havia prometido que cumpriria os quatro anos de mandato – o que acabou não acontecendo. Ele renunciou ao cargo em março deste ano para concorrer ao governo.

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Antes disso, no evento da Faep, o discurso de Osmar também havia sido marcado por alfinetadas em Richa, candidato que não tem relação tão estreira com os agricultores e que não teria conhecimento suficiente do campo para governar o estado. Osmar destacou que ele é a "única oportunidade" de o setor ter um "produtor rural e agrônomo" no governo – ele é formado em agronomia na Fundação Faculdade de Agronomia Luiz Meneghel, de Bandeirantes, Norte do Paraná. Ele garantiu ainda que, se eleito, bastará "um telefonema, uma frase" para que uma eventual reivindicação da Faep seja compreendida.

Richa já parecia estar preparado para se esquivar das acusações de que entende pouco sobre o agronegócio. Sobre sua possível desvantagem em relação a Osmar, que tem mais conhecimento do setor rural, disse que o governante não precisa ser um especialista em tudo. Afirmou que todos sabem o que é preciso fazer e que o necessário seria ter um governante com boa capacidade de gestão para fazer os planos saírem do papel.

O tucano também procurou agradar aos produtores rurais, colocando-os no mesmo patamar que o eleitorado de Curitiba, que o reelegeu prefeito da capital em 2008 com 77% dos votos. "Se Curitiba tem 18% dos votos [do Paraná], a agricultura tem 20%", comparou. Beto Richa tentou mostrar que, mesmo tendo atualmente um apoio maior na região de Curitiba, não deixará o setor rural de lado.

Colaboraram Karlos Kohlbach e Caroline Olinda.