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VENTANIA - Existem cinco dúzias de casas im­­pedindo o tráfego no lugar em que o governo federal afirma que há uma rodovia concluída. O Ministério da Casa Civil anunciou na semana passada, em mais um balanço das obras do Pro­­­grama de Aceleração do Crescimento (PAC), que a pavimentação da BR-153 – conhecida como Transbrasiliana – está pronta, no trecho entre as cidades de Ventania e Tibagi (distrito de Alto do Amparo), nos Campos Gerais, no Paraná. Mas a finalização da obra ainda deve demorar pelo menos seis meses para ser retomada.

Há uma área de ocupação no traçado previsto da rodovia, com dezenas de moradores que só deixarão o local se forem transferidos para um novo loteamento. En­­quanto isso, um viaduto não concluído acaba em cima do telhado de al­­­guns casebres. Segundo informou a assessoria do De­­­partamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit), como faltam apenas 800 me­­­­tros em um trecho de 84 quilômetros, a obra pode ser considerada formalmente pronta pelo órgão.

Aldair Agenílson de Oliveira afirma que é o único que tem casa escriturada no local em que deveria ser o leito da rodovia, na altura de Ventania. Ele conta que está em negociação com o Dnit há alguns meses para acertar o valor da indenização. Já os demais moradores vão depender de uma política de compensação capitaneada pela prefeitura de Ventania. É o caso da boia-fria Rosa Domingues. Ela mora com o marido e dois filhos na vila que ganhou o nome de Monte Cristo e há 14 anos ouve dizer que um dia terá de sair da casa. "Mas ninguém explica pra gente o que está acontecendo", conta. Ela comprou três milheiros de tijolos ano passado para ampliar a casa, mas desistiu com medo de perder dinheiro.

O vizinho Gilberto Domingues tem uma serraria e vê, dos fundos do barracão, o viaduto ainda em obras. Ele afirma que, mesmo trabalhando com madeira, não se encoraja a reformar a estrutura da serraria – que está pendendo –, porque sabe que o investimento não terá retorno. Também aguarda o cumprimento da promessa da transferência para outro lugar, onde poderia se instalar melhor e mudar de vida.

Atualmente, os motoristas que usam o trecho precisam fazer um desvio por dentro de Ventania. Quando a rodovia estiver realmente concluída, a estimativa é que passem por ela três mil veículos por dia no trecho recém-asfaltado. A obra está orçada em R$ 121 milhões – valor em que já está incluída a pavimentação do trecho de ocupação em Ventania.

Além do trecho inacabado na área de ocupação em Ventania, não foram pavimentados, propositalmente, os 300 metros finais da rodovia na ligação com a BR-376. O Dnit decidiu que era necessário construir um viaduto no local e que até a nova obra ser executada seria melhor deixar o trecho em chão batido, como um redutor natural de velocidade no acesso à rodovia. O projeto do viaduto está em fase de licitação, sem prazo para ser concluído, e não faz parte da obra anunciada como pronta pelo PAC.

Procurado pela Gazeta para co­­­­mentar o fato de a rodovia ter sido incluído entre os projetos concluídos o ministro do Plane­­­ja­mento, Paulo Bernardo – que é um dos prin­­­cipais entusiastas da pa­­­vimentação da Trans­­­brasiliana e já es­­­­teve no local várias vezes – respondeu, pela assessoria, que preferia que o assunto fosse tratado em outros ministérios que teriam relação direta com a obra. A reportagem buscou informações no Ministério da Casa Civil pa­­­­ra saber porque a Transbrasiliana foi apresentada como concluída, mas, mesmo com a insistência du­­­rante dois dias, não houve resposta.

O prefeito de Ventania, Ocimar Ca­­­­margo (PMDB), diz que aguarda a liberação de recursos fe­­­­derais pa­ra construção do lotea­­­men­­­­­­to que abrigará os moradores da vila Mon­te Cristo. O investimento de R$ 2 milhões já foi parcialmente au­torizado e a licitação para construção das casas deve estar concluída em dois meses. Ele reconhece que antes de janeiro não se­­­rá possível entregar os imóveis e co­­­meçar a limpeza no terreno, para o término das obras na rodovia. O prefeito de Tibagi, Sin­­­val Sil­­­va (PMDB), afirma que, mesmo sem estar con­­cluída, a Transbrasiliana registrou au­­­men­­­to no fluxo de veículos. "Não está 100%, mas está 99%."

Marco histórico

Ainda não está completa a estrada que deveria simbolizar a integração nacional sonhada pelo presidente Juscelino Kubitschek. A me­­­ta de integrar o país, com todos os caminhos conduzindo a Bra­sí­lia, esbarrou no Paraná, onde está a única porção não asfaltada da Trans­­­brasiliana. A porção sul da BR-153 foi iniciada no go­verno mi­­­litar, em 1967, e diversas licitações foram realizadas para a conclusão da obra, gerando esperança nos moradores dos Campos Gerais. A BR-153 tem mais de 3,5 mil quilômetros, do Pará ao Rio Gran­­de do Sul, mas sofre uma interrupção ao chegar a Ven­ta­nia. Ainda é esperada a pavimentação dos 56 quilômetros até Imbi­tu­va e governo federal promete li­­citar o projeto de execução da obra. No Paraná, ela entra por Jacare­zinho, no Norte Pioneiro, e vai até General Carneiro, no extremo Sul.

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