O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) venceu a eleição para presidente da Câmara. Maia teve 285 votos contra 170 do deputado Rogério Rosso (DEM-RJ), no segundo turno do pleito. Foram registrados também cinco votos em branco. Após a divulgação do resultado, eles abraçaram-se, aos gritos de “Fora, Cunha” de um grupo de deputados. Maia imediatamente sentou-se na cadeira de presidente.
Ele agradeceu ao líder do PT na Casa, Afonso Florence (BA), pela “confiança”. O novo presidente da Câmara também agradeceu à família e chorou. Maia afirmou que terá muito trabalho a fazer e que tem de pacificar o plenário. De acordo com o novo presidente da Casa, não é só o governo que tem boas ideias e cada deputado tem de ser ouvido. Após o discurso, Maia encerrou a sessão e convocou uma outra, não deliberativa, para esta quinta-feira (14), às 14 horas.
Votação
Cerca de uma hora e meia depois de a sessão ter sido suspensa, os parlamentares iniciaram o segundo turno da votação. Por ordem alfabética, Maia e Rosso tiveram dez minutos cada para falar no plenário. No intervalo, eles circularam de liderança em liderança negociando apoio para as candidaturas. Em seu discurso, Maia buscou agradar governistas e oposicionistas. Ao falar do seu pai, o ex-prefeito Cesar Maia, e lembrar da Constituinte, o parlamentar citou políticos de nomes de diversos partidos, como Ulysses Guimarães, fundador do PMDB, Mário Covas, fundador do PSDB, e José Genoino, do PT.
Maia afirmou que foi muito criticado no início da disputa por ter buscado apoio de partidos da esquerda, mas defendeu a unidade da Casa. Ele também aproveitou para rebater críticas dos bastidores de que é antipático e adotou um discurso de aproximação, dizendo que é igual a todos.
“Dizem que o Rodrigo não sorri, mas o Rodrigo cumpre palavra, Rodrigo é leal, acho que isso é que é determinante para o mandato parlamentar”, disse, falando em terceira pessoa. “Se eu sentar naquela cadeira eu serei só um de 513, nós vamos comandar essa cada juntos”, continuou. “Quero acabar o império dos líderes, porque os líderes são importantes, mas todos tem que ter oportunidade de falar.”
Maia afirmou ainda que o momento é de crise e que a Câmara enfrentará “projetos difíceis” e que o futuro líder da Casa precisará ter “responsabilidade independente de ser governo e oposição”. Defendeu o fim das votações de madrugada.
Em um discurso de morde e assopra, Maia criticou o governo Dilma Rousseff, dizendo que alertou que o Brasil estava “quebrado”, que a situação “só piorou” com o tempo, e que o Legislativo precisa falar sobre questões do Executivo. Antes do discurso, Rosso convidou Maia para subir na tribuna e eles se abraçaram. “Quero dizer que, é claro, quem senta naquela cadeira não é uma pessoa, somos todos nós”, discursou. “De fato é um mix de emoção, ansiedade, mas de convicção, de que é esse Parlamento que vai enfrentar com altivez e coragem as reformas estruturantes que sabemos que o Brasil precisa.” Rosso também fez uma brincadeira, dizendo que por residir em Brasília não vai precisar usar avião da FAB e vai economizar.
Novo presidente adotou estilo moderado e se aproximou de Temer
Cria política do pai e ex-prefeito do Rio, César Maia, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), de 46 anos, conquistou o comando da Câmara após adotar um estilo moderado. Deixou de lado o discurso ferrenho de oposição aos governos do PT, rompeu a aliança com o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e se aproximou do presidente interino, Michel Temer (PMDB).
No quinto mandato consecutivo, Maia tem um estilo que divide opiniões nos bastidores. Para alguns colegas é arrogante – outros o consideram apenas reservado.
Na semana passada, quando ainda articulava seu nome à presidência da Casa, Maia disse à Folha de S.Paulo que estava disposto a “baixar à temperatura” da Casa, em meio à crise política que envolveu Cunha e o Palácio do Planalto, sobretudo após o impeachment de Dilma Rousseff. Seu nome foi citado na Operação Lava Jato em troca de mensagens com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro -o deputado nega irregularidade.
Sua trajetória política teve impulso como secretário da gestão de Luiz Paulo Conde na Prefeitura do Rio (1997-2000), mas a notoriedade nacional veio com a refundação do PFL, em 2007, quando passou a se chamar Democratas.
Ex-líder do PFL, Maia foi eleito presidente do DEM e recebeu a missão de modernizar a imagem do partido. Não teve muito sucesso. A estratégia era ter uma atuação mais de centro, atrair um eleitorado jovem, mas a sigla seguiu outra rota, de oposição rigorosa aos governos petistas.
Maia e o DEM se enfraqueceram no cenário nacional. O deputado fracassou na eleição municipal de 2012, quando candidatou-se à prefeitura do Rio tendo a deputada Clarissa Garotinho (PR) de vice. O desempenho foi pífio: apenas 3% dos votos na disputa que reelegeu Eduardo Paes (PMDB-RJ).
Na eleição de 2014, foi reeleito deputado com apenas 53 mil votos. Cada vez mais sem espaço na Câmara, Maia buscou uma transformação de comportamento, passando a ter maior interlocução em campo adversário.
Amigo de Aldo Rebelo (PC do B), ex-ministro de Dilma, Maia reatou o diálogo com a esquerda. Sua candidatura à presidência da Câmara, por exemplo, começou a crescer com suporte de comunistas e petistas, que depois se dividiram em outras candidaturas. Na outra ponta do cenário político, Maia se aproximou de Eduardo Cunha, tendo participado do círculo próximo ao peemedebista até pouco tempo atrás.
Foi escolhido pelo peemedebista para comandar um texto alternativo a uma proposta de reforma política que não o agradou. Ele rompeu de vez com Cunha após o peemedebista apoiar André Moura (PSC-SE), do chamado “centrão”, para a liderança do governo interino de Temer na Câmara. Maia postulava a função.
O deputado então passou a destacar como uma virtude dele a distância política que decidira manter do ex-aliado. O novo presidente da Câmara declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 736 mil. Na sua última campanha à Câmara, gastou R$ 2,9 milhões.
Bancário, nasceu em Santiago (Chile) no período de exílio do pai. É casado com Patrícia Vasconcelos, enteada de Moreira Franco, hoje chefe da Secretaria do Programa de Parcerias de Investimento de Michel Temer.
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