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Dizendo-se constrangido e em meio a várias menções a Deus, o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), acusado de negociar a divisão R$ 2,2 milhões com o ex-presidente do Banco de Brasília Tarcísio Franklin de Moura, subiu à tribuna do Senado na tarde desta quinta-feira e negou acordos com dinheiro público na gravação feita pela Polícia Civil do Distrito Federal.

Roriz foi flagrado pela Polícia Civil de Brasília acertando a partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões do empresário Nenê Constantino, que tem contratos com o governo do Distrito Federal e é pai do dono da companhia aérea Gol, Constantino Júnior.

- Será que um senador não poderia pedir um empréstimo a um amigo de longa data? Em toda minha carreira política, jamais confundi a questão pública da privada. Sempre tive comportamento ético no trato do interesse público - disse.

O senador, que não permitiu apartes em seu discurso, limitou-se a lembrar que deu "leite e pão para crianças subnutridas" e apresentou duas folhas assinadas e em branco, autorizando a Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal (STF) a quebrarem seus sigilos bancário, fiscal e telefônico. Sobre a operação financeira, disse ter sido legal.

- Foi um saque realizado no Banco de Brasília a partir de um cheque emitido pelo Banco do Brasil. Trata-se de uma operação legal, que as instituições realizam para atrair clientes de grande posse financeira, como é o caso do beneficiário do saque. Qual banco neste país que não gostaria de ter como cliente Nenê Constantino, dono da maior frota de ônibus do mundo? - indagou.

Roriz disse também ter sofrido muito desde que o escândalo veio à tona:

- Como sofri essa semana. Confesso que chorei, que rezei muito. Sou um homem de comunhão sagrada. Sou homem temente a Deus, vou à missa todos os domingos. Não falei antes de hoje porque o sofrimento é tão grande e mesmo não cometendo nenum ilícito, me sentia envergonhado - afirmou.

O senador recorreu ao processo no Conselho de Ética contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para critica a imprensa:

- A imprensa quando quer destrói. Veja o que está acontecendo com nosso amigo e presidente Renan Calheiros. Amanhã poderá ser vossa excelência (o vice-presidente do Senado, Tião Viana). Amanhã poderá ser uma liderança de expressão dentro dessa casa - afirmou o senador.

E criticou a divulgação de gravações.

- Precisamos de leis mais severas para proibir vazamento de informações sigilosas, que visam a prejudicar nomes honrados. Esta procupação é de todos nós, do presidente da República, de membros do Supremo Tribunal Federal.

Senador do PSOL aponta problemas na defesa de Roriz

O senador José Nery (PSOL-PA) subiu à tribuna logo após o discurso de Roriz e argumentou que as provas do senador de Brasília eram inconsistentes. Nery apontou problemas em uma nota no valor de R$ 532 mil apresentada por Roriz em sua defesa. Apesar de ter como data 1º de março de 2007, no cabeçalho da nota está escrito "Agropecuária Palma Ltda." e a data 30 de maio de 2006. Além disso, apontou Nery, o talonário só teve valor até setembro de 2005.

- Senador, essa nota se refere a outra operação, ocorrida em 2005, e não a essa operação ocorrida agora em 2007 - argumentou o senador do PSOL.

Nesta quinta, o partido apresentou, na Mesa do Senado, uma representação por quebra de decoro parlamentar contra Roriz. A cúpula do partido afirma que a transcrição da conversa sugere fortemente " uma combinação para fim escuso".

Manifestação

À tarde, manifestantes do PSol fizeram um ato pedindo a cassação de Roriz e também o afastamento de Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado. Cerca de 30 pessoas levantaram faixas e colocaram um "boi de ouro", boneco pintado com imagens de cifrões e uma letra "R", para dançar ao som de um violino.

Os manifestantes tentaram levar o animal dourado para dentro do Senado, mas seguranças prenderam o "boi de ouro", que acabou solto por ordem do vice-presidente Tião Viana (PT-AC).

- O único que vai ser preso nessa história é o boi - brincou um dos militantes do PSOL.

Depois de assinar a representação na Mesa, a ex-senadora Heloisa Helena (AL), presidente do partido, brincou com a explicação dada pelo ex-governador do Distrito Federal para sua parte na negociação. Roriz disse que usaria R$ 300 mil do cheque para adiantar o pagamento de uma bezerra:

- Eu quero destruir os bezerros de ouro da política nacional - afirmou Heloisa.

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