ONGs de sócios de três das quatro empresas que doaram dinheiro para a pré-campanha do ex-governador Anthony Garotinho à Presidência receberam R$ 112,5 milhões do governo Rosinha Garotinho de 2003 até ontem. Os contratos dessas ONGs com o governo do estado foram feitos sem licitação através da Fundação Escola do Serviço Público (Fesp). A estatal empenhou para essas entidades cujos sócios doaram recursos à campanha de Garotinho R$ 59,8 milhões só no ano passado, segundo dados do Sistema de Administração Financeira do estado (Siafem). Juntos, eles doaram R$ 400 mil do total de R$ 650 mil que o PMDB de Garotinho diz ter arrecadado.
Os nomes dos doadores, segundo documentos do Registro Civil de Pessoas Jurídicas, são os mesmos de diretores de três ONGs: o Instituto Nacional de Pesquisa e Ensino da Administração Pública (Inep), o Instituto Nacional de Aperfeiçoamento da Administração Pública (Inaap) e o IBDT (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Treinamento (IBDT).
No Inep, Luiz Antônio Motta Roncoli, sócio majoritário da Virtual Line, que fez doação de R$ 50 mil, aparece como diretor-presidente. Uma ata arquivada mostra que ele já ocupava o cargo em setembro de 2005. Só naquele ano, o Inep recebeu da Fesp R$ 26,4 milhões.
Já o Inaap, que foi beneficiário de empenhos da Fesp que totalizaram R$ 18 milhões em 2005, tem outro doador da pré-campanha de Garotinho nos seus quadros: Nildo Jorge Nogueira Raja, que é vice-presidente da entidade. Nildo é sócio-gerente da Emprin, que entregou R$ 200 mil ao PMDB. Uma ata de assembléia da associação, também arquivada no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, não deixa passar despercebido um outro doador: Marcos André Coutinho, da Inconsul, que deu R$ 150 mil, também já pertenceu aos quadros do Inaap segundo o documento que registra a saída dele em 1 de novembro do ano passado para a entrada de Luciana de Souza Luz.
Por último, o IBDT traz de novo Nildo Jorge. A associação também foi contemplada com recursos da Fesp. Em 2005, a entidade recebeu R$ 15,2 milhões do estado.
Duas entidades, Inep e Inaap, têm sede em Rio Bonito, assim como todas as empresas do Rio que fizeram doações para Garotinho. Apenas o IBDT fica em Saquarema, onde sua sede foi inaugurada ontem.
Os gastos da Fesp com associações, que são contratadas sem licitação, têm aumentado nos últimos anos, segundo o Siafem. Em 2003, a Fundação empenhou R$ 10,4 milhões; em 2004, R$ 66,3 milhões; em 2005, R$ 214,2 milhões; em 2006, até ontem os empenhos já chegavam a R$ 39,8 milhões.
Além do cruzamento dos dados disponíveis no sistema de controle dos gastos do governo estadual com os de cartórios, a teia de relações entre os sócios das empresas doadoras não pára de crescer e a ficar cada vez mais clara. Uma consulta ao banco de dados da Junta Comercial do Rio mostra que Luiz Antônio Motta Roncoli também é diretor administrativo e financeiro da Cooperativa de Profissionais de Ensino e Serviços de Apoio (Coopensino). O curioso é que, na mesma cooperativa, aparece Frederico Guilherme de Souza Irapuan Ribeiro Palmeira, sócio da empresa Teldata Telecomunicações e Sistemas Ltda, de Pernambuco, que fez a maior doação a Garotinho: R$ 250 mil. Para tornar ainda mais intrincada as relações entre os doadores, um dos endereços em Niterói da Coopensino que não está cadastrada no Siafem teria sido alugado pelo Inep para instalar uma escola.
Polícia Federal abre inquérito sobre doações
Roncoli mantém ainda um telefone no mesmo endereço da cooperativa Pró-Service. O irmão dele, Pedro Augusto Roncoli, é diretor-presidente da entidade. Também figuram como diretores Marcos André, da Inconsul, e Nildo Jorge, da Emprin. Anteontem à noite, Pedro Augusto foi localizado mas disse que não conhecia os integrantes de sua própria diretoria, alegando que cooperativas têm muitos associados, e afirmou ainda que sequer conhecia a Virtual Line, empresa do próprio irmão. Ele ainda ignorou o fato de os associados terem feito, através de empresas, doações vultosas para a campanha de Garotinho e afirmou que todos estão em dificuldade financeira:
Está todo mundo sem emprego. Não vejo motivo para tanta surpresa no fato de pessoas da entidade terem convívio em outros lugares. Está todo mundo lutando para sobreviver. Quanto aos integrantes da diretoria, desconheço essas pessoas. Também nunca tinha ouvido falar na empresa do meu irmão. Eu moro na Tijuca e ele em Copacabana, fica difícil afirmou.
A Polícia Federal abriu inquérito ontem, a pedido do Ministério Público Federal, para investigar as empresas com sócios laranjas que teriam feito as doações ao PMDB. Segundo um especialista em legislação eleitoral, a lei proíbe fornecedores de doar para comitês eleitorais de candidatos. Como Garotinho é pré-candidato, porém, não haveria impedimento.
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