A semana
Os compromissos de Dilma e as turbulências do início do governo:
Domingo, 2 Dilma dispensou a folga e teve encontros com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o príncipe Felipe de Astúrias (Espanha), o presidente José Mujica (Uruguai), o primeiro-ministro Kim Hwang-Sik (Coreia do Sul), o primeiro-ministro José Sócrates (Portugal), o presidente Mahmoud Abbas (Autoridade Palestina), o primeiro-vice-presidente José Ramón Machado Ventura (Cuba) e o ex-primeiro-ministro Taro Aso (Japão).
Segunda, 3 Reuniões com os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Antônio Palocci (Casa Civil), os presidentes do Senado e Câmara dos Deputados, José Sarney e Marco Maia, e o presidente do STF, Cezar Peluso. À noite, comandou a primeira reunião da equipe de coordenação política e recebeu o descontentamento do PMDB com a divisão de cargos.
- O novo chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general José Elito Siqueira, disse ser contra a criação da Comissão da Verdade.
Terça, 4 Audiências com os ministros Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) e Edison Lobão (Minas e Energia).
- A cúpula do PMDB decidiu usar a discussão sobre o aumento do mínimo para pressionar por cargos.
- Lula chega ao Forte das Andradas, base militar no Guarujá (SP), para descansar com a família. Pela lei, ex-presidentes não têm direito de usufruir de instalações públicas. O convite foi feito pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim.
- O presidente do STF, Cezar Peluso, autoriza o desarquivamento da ação contra o ex-terrorista italiano Cesare Battisti.
Quarta, 5 Reuniões com ministros.
- Fora da agenda oficial, teria cobrado do general José Elito Siqueira explicações a respeito de suas declarações sobre a ditadura.
Quinta, 6 Na principal reunião da semana, Dilma discutiu o PAC da Miséria com os ministros Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Antonio Palocci (Casa Civil), Guido Mantega (Fazenda), Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário), Fernando Haddad (Educação), Miriam Belchior (Planejamento), Mário Negromonte (Cidades), Alexandre Padilha (Saúde), Carlos Lupi (Trabalho), Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.
- A Folha de S. Paulo mostrou que dois filhos de Lula receberam passaportes diplomáticos. A concessão foi feita pelo próprio ex-chanceler Celso Amorim, com a justificativa de que era algo de "interesse do país".
Sexta, 7 Reuniões com o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) e Giles Azevedo (chefe do Gabinete da Presidente)..
Nenhuma declaração pública. Pontualidade. Reuniões no horário do almoço. Dois computadores ligados ao mesmo tempo para verificar informações e cobrar os subordinados. A rotina da primeira semana de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto é o retrato da nova gestão. Sai o bonachão, que adorava o jogo político e os discursos; entra a rainha do PowerPoint (software utilizado para apresentações e palestras).
Nos primeiros sete dias de governo após a posse, Dilma permaneceu enclausurada no gabinete presidencial, preparando ações como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o combate da pobreza extrema. Não ficou imune, contudo, à crise deflagrada pelo PMDB por mais cargos no governo e à polêmica sobre a criação de uma "comissão da verdade" para investigar crimes cometidos durante a ditadura militar (leia mais na página 16). No pacote, também foi forçada a conviver com os problemas deixados por Lula, como a decisão de não extraditar o ex-terrorista Cesare Battisti para a Itália, as férias em uma instalação militar no Guarujá (SP) e a concessão de passaportes diplomáticos para dois filhos do ex-presidente a dois dias do fim do mandato.
O comportamento e a reação às turbulências reforçaram algo que já era esperado: a petista faz questão de executar pessoalmente as tarefas de coordenação e planejamento, mas aceita terceirizar a negociação política. Para resolver o embate com os peemedebistas, escalou os ministros Alexandre Padilha (Saúde), Antonio Palocci (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações). Sobre as polêmicas envolvendo Lula, só falaram o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e o ministro da Defesa, Nelson Jobim.
"Não dava para esperar da Dilma a mesma atuação do Lula. Ele é um político intuitivo, ela tem o perfil de gerente, de planejadora. Se depender dela, nada no governo vai acontecer de improviso", avalia o cientista político Valeriano Mendes Ferreira Costa, da Universidade de Campinas.
Segundo ele, a postura adotada por Dilma até agora é coerente. "Se ela resolver, por exemplo, se colocar na linha de frente dessa briga com o PMDB, é bem possível que ela bata de frente e se queime." O professor prevê que a presidente só irá aparecer em situações como essa depois que tudo estiver acertado entre as partes e apenas para chancelar acordos.
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Após realizar um discurso no dia da posse, no qual enfatizou o combate à miséria e prioridade à saúde e educação, Dilma começou a trabalhar logo no domingo e teve audiência com presidentes e representantes de Venezuela, Espanha, Uruguai, Coreia do Sul, Portugal, Palestina, Cuba e Japão. Na segunda-feira à noite, comandou a primeira reunião da equipe de coordenação política e ouviu do vice-presidente Michel Temer o pedido do PMDB para que todas as negociações para o segundo escalão fossem suspensas até fevereiro.
No mesmo dia, o novo chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general José Elito Siqueira, disse ser contra a criação da Comissão da Verdade, defendida pela nova ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário. Siqueira foi repreendido por Dilma e depois disse que as declarações teriam sido "mal interpretadas".
Entre terça e sexta-feira, Dilma realizou uma maratona de audiências com ministros. Nos encontros, ela preparou a apresentação de um plano para eliminar a pobreza extrema, anunciado na quinta-feira. O novo "PAC" ainda não tem metas, mas foi o marco positivo da semana.
Para o especialista em marketing político Carlos Manhanelli, a primeira semana de trabalho da nova presidente mostrou a diferença de perfil entre Dilma e Lula. "Ela não é uma mulher do povo, uma operária. É uma técnica esclarecida, estudada, e vai ser cobrada por isso. A ficha das pessoas pode ainda não ter caído, mas acabou o companheiros e companheiras (início de discurso de Lula) e começou o queridos brasileiros, queridas brasileiras (bordão de Dilma)."
Professor de Comunicação Política da Universidade de Salamanca (Espanha), Manhanelli também cita que as características de Dilma são raras na história das democracias ocidentais. "Talvez apenas Margaret Thatcher (primeira-ministra do Reino Unido entre 1979 e 1990) tenha chegado ao poder com um perfil muito mais técnico do que político."
Sobre o sucesso da novidade, ele diz que a aceitação popular real só poderá ser medida após os 100 primeiros dias de governo.
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