O presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) considerou que uma das etapas da crise pela qual passa a Casa foi superada nesta quarta-feira (19), com o arquivamento pelo Conselho de Ética de todas as 11 denúncias e representações contra ele.
Sarney acompanhou parte da votação do Conselho de Ética pela televisão, do gabinete da presidência do Senado. Quando a sessão havia começado, Sarney participava de uma cerimônia no Itamaraty, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo a assessoria de Sarney, ele acompanhou a votação com "tranquilidade e serenidade" e negou que ele tenha comemorado a decisão do Conselho de Ética. Sarney teria manifestado ainda que gostou do conteúdo da nota divulgada mais cedo pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini, que responsabiliza a antecipação do calendário eleitoral de 2010 como pano de fundo para a crise no Senado.
Para Sarney , o momento agora é de "retomar a agenda positiva", que inclui a votação de projetos em plenário, as discussões sobre as reformas eleitoral e administrativa do Senado, entre outros pontos.
Arquivamento
Nesta quarta, o Conselho de Ética rejeitou todos os pedidos de investigação contra Sarney com o apoio de senadores de PMDB, PTB, PT e PCdoB. Foram rejeitadas três representações assinadas pelo PSDB, duas feitas pelo PSOL, quatro denúncias do líder tucano Arthur Virgílio (AM) e duas outras denúncias assinadas por Virgílio em parceria com Cristovam Buarque (PDT-DF).
As acusações tratavam dos atos secretos e de uma gravação que ligaria Sarney a uma dessas decisões não publicadas, de supostas irregularidades na Fundação Sarney, de negócios de um neto do presidente do Senado com crédito consignado, de uma mansão que Sarney teria omitido de sua declaração à Justiça eleitoral, de um assessor que teria usado o prestígio junto à Polícia Federal para obter informações privilegiadas para Fernando Sarney e da suposta ocultação de terras pelo presidente do Senado para não pagar tributo.
Também nesta quarta, o conselho resolveu, por unanimidade, arquivar a representação do PMDB contra Arthur Virgílio. A representação contra Virgílio foi apresentada em retaliação ao fato de o PSDB ter apresentado três ações no Conselho de Ética contra Sarney.
Crise partidária
O apoio do PT ao arquivamento das denúncias contra Sarney deve custar a perda de um senador ao partido. Após a confirmação do resultado da votação no Conselho de Ética, o senador Flávio Arns (PT-PR) disse estar "envergonhado" com o PT.
"Me envergonha estar no Partido dos Trabalhadores com o comportamento que está tendo. Achava que as bandeiras eram para valer e não para mudar por causa da eleição", disse Arns. Segundo ele, "o partido pegou a folha da ética e jogou no lixo".
Arns afirmou que vai procurar a Justiça Eleitoral pedindo justa causa para sair do PT, na tentativa de manter o mandato, já que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já determinou que os mandatos pertencem aos partidos.
O arquivamento das ações contra Sarney respingou ainda no senador petista Aloízio Mercadante (SP), líder do partido no Senado. Um dia após anunciar que deixaria o cargo se houvesse manobra para trocar suplentes da Comissão de Ética por nomes favoráveis a Sarney, Mercadante viu todos os três senadores petistas no colegiado João Pedro (AM), Ideli Salvatti (SC) e Delcídio Amaral (MS) votarem pelo arquivamento das denúncias.
Após a votação, porém, ele recuou e anunciou que permanecerá à frente da liderança. "Minha vontade verdadeira era sair da liderança do PT, mas não vou contribuir para agravar a crise da bancada", disse Mercadante.
Para a oposição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o grande responsável pela decisão do partido de livrar Sarney de investigação. O líder do DEM, José Agripino (RN), criticou a nota do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), que pedia o arquivamento dos processos.
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) lembrou a declaração de Lula de que os senadores são "pizzaiolos" e devolveu a provocação. "O presidente é o pizzaiolo, e a pizza foi servida pelos senadores do governo no Conselho de Ética."
O Palácio do Planalto informou ao G1 que não comentaria as declarações dos senadores da oposição.
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